Desde o homo sapiens, cercas de paus e muralhas de pedras começaram a se erguer em diferentes territórios para separar povos e tribos rivais. Serviam como fortificações contra invasores em tempos de guerra, como a Grande Muralha da China ainda nos tempos das dinastias contra os mongóis. Tinham ainda a função de proteger suas economias e produções para que outros não tivessem acesso às suas riquezas, e até mesmo por questões culturais de origens entre raças.

Os horrores das matanças e das misérias entre poderosos contra os mais fracos tiveram início com essa delimitação de fronteiras. Umas feitas para segregar e outras como masmorras para aprisionar e torturar até a morte.   Não, necessariamente, são construídas de tijolos e concreto armado. Estão também expostas nas barreiras armadas pelos homens com ordem de atirar em quem se atrever furar o cerco.

Pontos naturais como grandes montanhas, densas florestas, rios, geleiras e mares são também utilizados como linhas divisórias para impedir a passagem de humanos de um lado para o outro. Mesmo assim, o Atlântico e o Pacífico nunca foram impedimentos para travessias dos navegadores. Cita a Bíblia que o Mar Vermelho era obstáculo maior para o povo de Moisés que fugia da escravidão do Faraó em direção a outra margem, para entrar na terra prometida.

Acontece que nesse jogo dos horrores, os mais fortes como os antigos romanos e depois os norte-americanos nunca respeitaram os limites e sempre atravessaram o outro lado para dominar, colonizar e explorar os mais pobres. Quem nunca ouviu as narrações históricas sobre as muralhas de Jerusalém dos tempos dos reis David e Salomão e das guerras fraticidas entre as tribos? E sobre os muros que cercavam a cidade de Troia e foram derrubados pelos gregos?

Há 26 anos derrubaram o Muro de Berlim (cheguei a visitar) que dividia a Alemanha entre Ocidental e Oriental, mas surgiram outras muralhas depois da Guerra Fria com a desintegração da União Soviética, como a de Israel que até hoje encurrala os palestinos num gueto de miséria, e a da fronteira dos Estados Unidos com o México, próxima ao Rio Grande.

Em pleno século XXI, quando se diz por aí que estamos numa era civilizada, recentemente o governo da Hungria (Leste Europeu) anunciou que vai levantar uma cerca numa extensão de 175 quilômetros com a Sérvio, para impedir a passagem de imigrantes vindos da Síria, Iraque e Afeganistão que fogem das guerras e das matanças praticadas por grupos radicais islâmicos.

As piores muralhas não são feitas de pedras. Os maiores estão no Mar Mediterrâneo que separa a Argélia e Líbia (África) da Grécia, Itália e Espanha, e no Golfo de Bengala, na Ásia, entre os países pobres de Bangladesh, Mianmar, Tailândia e Indonésia onde impera a intolerância religiosa do islamismo versus hinduísmo budista.

Na Turquia, na Grécia e outros países, verdadeiros campos de concentração mostram os horrores de gentes morrendo de fome e doenças, principalmente crianças e idosos que se amontoam como gados em currais abafados e sujos. Na ilha de Kos, no Mar Egeu (Grécia), dois mil imigrantes refugiados da Turquia vindos da Síria e Afeganistão ficaram espremidos numa área sob forte calor. Os desmaios eram constantes.

Essas muralhas lembram as atrocidades do nazismo, e pouca coisa tem sido feita pelas nações mais ricas do planeta ( União Europeia – Inglaterra, Alemanha, França) e  especialmente os Estados Unidos que têm uma grande dívida com a humanidade pelos massacres que já cometeram desde o século XIX.

De acordo com a Agência Europeia de Fronteiras, só nestes sete meses do ano chegaram a Europa (a maior parte do Mar Mediterrâneo) 340 mil imigrantes, o triplo do índice do ano passado. Em julho, o número superou o do ano inteiro de 2013 (107.500). No dia 6/08 um barco afundou na costa da Líbia com 600 pessoas, deixando 200 mortes, a maioria de sírios refugiados das guerras. No último dia 15 de agosto, a Itália resgatou 320 imigrantes, dos quais 40 morreram sufocados no porão de um barco.

Neste ano, cerca de 2.100 morreram tentando chegar à Itália através da Líbia. A miséria na África e no Oriente Médio fez desembarcar nas praias da Grécia, cuja economia está caindo aos pedaços, 135 mil imigrantes e mais 93.540 na Itália.

Com outros dados, a Organização Internacional para as Migrações calcula que só neste ano chegaram à Europa (28 países) 240 mil, contra 278 mil em todo o ano passado. Ficaram pelo caminho, neste ano, 2.300, bem mais que 1.779 mortos em 2014. Em abril passado morreram 800 na costa da Líbia.

Em Calais, na França, mais de dois mil imigrantes desesperados se amontoam na entrada do túnel (Canal da Mancha) tentando furar o cerco policial e as cercas de arame farpado, para entrar na Inglaterra. É a cara do mundo cruel e desumano.

Enquanto isso, os Estados Unidos fabricam armas potentes e enviam foguetes ao espaço para explorar outros planetas. Por sua vez, o Japão embarca caixas de uísque num foguete como experimento para melhorar o destilado para os afortunados fazem suas orgias etílicas.