:: 13/ago/2015 . 23:40
PONTO DE VISTA
É NO FAZ DE CONTA MESMO!
Como se diz na França; plus ça change, plus c´est la même chose (quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas)
Mesmo calejado de ver tantas coisas horríveis e absurdas neste Brasil onde se rouba comida de crianças pobres, fiquei mais uma vez envergonhado e chocado com as cenas exibidas no programa “Profissão Repórter”, de Caco Barcellos sobre o transporte escolar em diversos municípios do país.
As reportagens chocantes de país de terceiro ou quarto mundo foram feitas em Marajó do Sena (ilha do Marajó), em Arataca, no sul da Bahia, e em Teresina do Goiás, no Piauí, onde crianças pobres das zonas rurais saem com fome de seus casebres logo cedo e enfrentam longas distâncias a pé, dentro de lama e água até as escolas precárias e sujas.
O que essas crianças aprendem? É um faz de conta para o prefeito medir a quantidade e dizer que tem tantas escolas em seu município como se conta o ensino no Brasil. O que vi foi uma tortura física e psicológica. O resto do dinheiro roubado da educação é jogado fora. Se estivéssemos num país sério, os responsáveis por este crime estariam na cadeia.
Quando não é a pé, numa distância de mais de cinco quilômetros, as imagens mostram crianças famintas em paus-de-arara enfrentando estradas enlameadas que, na maioria das vezes, precisam ser desatolados por tratores. Depois de uma jornada perigosa e torturante de duas a três horas, os alunos chegam estafados e sujos de lama à “escola” que mais parece com um curral de animais.
O retorno é outro tormento. As crianças saem às 17 horas, muitas vezes com fome por falta de merenda escolar, e chegam a seus casebres por volta de 19h30min. Bonachões e sorridentes, os prefeitos dizem que fazem o possível e jogam a culpa no estado. Alguns ônibus escolares, quando aparecem, estão caindo aos pedaços de velhos, e as caminhonetes deveriam estar na sucata.
E assim, as estatísticas dizem que mais de 90% das nossas crianças estão nas escolas. Que escolas, cara-pálida? O que existe é um crime de tortura. Melhor seria que essas crianças ficassem em suas casas, pelos menos não passariam por tantos traumas na vida. Ainda apareceu o imbecil de um secretário de Transportes que não gostou da filmagem de uma repórter como se aquilo ali fosse propriedade dele. Ainda chamam isso de Pátria Educadora1 Cadê o direito social inalienável de que fala a Constituição?
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