CADA ANO MENOS FORRÓ
Numa viagem pela programação dos festejos juninos nos municípios baianos, a banda “Wesley Safadão” é a mais cotada e contratada pelas prefeituras e vai bombar como atração nos palcos. É isso mesmo que o povo quer? Coitado do nosso São João! Vai ter que ter muita lenha na fogueira pra ele ficar acordado! O “Safadão” está quase em todas as cidades.
Vitória da Conquista, a capital do sudoeste e a terceira maior cidade da Bahia, ainda é uma exceção e mantém há quase 20 anos o forró pé de serra valorizando os cantores do ritmo e as bandas locais. A festa é agora realizada no Espaço Cultural Glauber Rocha, no bairro Brasil, (antes era na Praça Barão do Rio Branco), mas já deveria descentralizar o evento entre os bairros para evitar tanta aglomeração num mesmo lugar, como também para manter a característica da cultura popular. Vindas do meio rural, as festas encontraram seu maior aconchego nos bairros, entre os vizinhos.
Além de Targino Godim, Adelmário Coelho, Adelson Viana, Trio Forrozão, Cacau com Leite, Trio Nordestino, vamos ter em Conquista cerca de 60 atrações regionais, como encontro de sanfoneiros, Rony Barbosa, Rege de Anagé, Onildo Barbosa, Paulo Barros, Dinho Oliveira e tantos outros da terra. No local existe ainda um memorial em homenagem a Humberto Teixeira, um grande parceiro de Luiz Gonzaga. É só rezar para que o forró não desande nesse caldeirão eletrônico.
Bem, seguindo viagem por Amargosa, um dos locais mais procurados nesta época, as atrações principais são Zezé de Camargo e Luciano e Wesley Safadão. O negócio é botar muita gente na praça para satisfazer os donos de hotéis, restaurantes e similares. A cultura popular que se dane.
Na cidade histórica da Cachoeira onde começou a independência da Bahia e do Brasil, os visitantes vão ter Tayrone Cigano, Estakazero, reggae man Sine Calmon e mais outros arrochas, lambadas e um forrozinho melado pra tapear.
É cada ano pior, com menos forró e mais barracas de cachorro-quente, pizza, comidas americanas e mais “capetões” pra deixar todo mundo doidão. Difícil encontrar um beiju, uma canjica, uma pamonha, um amendoim e até um quentão.
Camaçari, a capital do polo petroquímico que mais arrecada impostos, lá estão Wesley Safadão, Tayrone Cigano, Estakazero e Adelmário Coelho que vão levar a maior parte do bolo. As quadrilhas, sem o devido apoio do poder público, passaram a ser peças coadjuvantes da festa, só como simples decoração cultural.
A Assembleia Legislativa enganou os forrozeiros quando acenou apoiá-los para que tivessem maior participação nas verbas. Pra enrolar, colocam uns artistas locais pagando mixarias divididas em parcelas. Muitos só recebem a graninha depois de meses de cobranças e sacrifícios.
O forró eletrônico horrível da banda rebolado de bundas Aviões do Forró também aparece em quase todos os municípios, muitos dos quais apoiados com recursos da Bahiatursa cujos convênios estão sendo contestados pelo Ministério Público do Estado.
A prefeitura de Irecê escancarou mesmo e resolveu transformar o forró de São João numa micareta carnavalesca e sertaneja. Lá vão tocar Luan Santana, Michel Teló, Chiclete com Banana, Wesley Safadão, Victor e Leo, Jerry Adriani, Odair José e mais apresentações de rock, regae e outros lambanças. Lá, o processo já é mesmo de enforcamento do santo.
Estou falando aqui de festas abertas ao público. Em Mata de São João, oi ai o Wesley Safadão novamente! Esse vai faturar um balão, ou bolão mesmo e deixar o forrozeiro chupando o dedo. Pra quem optou pelo litoral para curtir uma praia pode ir aos shows de Michel Teló, Aviões do Forró, Leonardo e Daniel em Porto Seguro.
Santo Antônio de Jesus, ali no recôncavo, também vai “botar pra quebrar” com Aviões do Forró, Bruno e Marrone, Sorriso Maroto, Calcinha Preta, Raça Negra, Thaeme e Thiago e mais outros ritmos do gênero. Cada ano pior, assim vai sendo o nosso maltratado São João.
Neste município, o Ministério Público mandou suspender o contrato de 13 atrações, entre bandas e cantores, por suspeitar de superfaturamento. Na investigação, constatou-se valores pagos diferentes por outras prefeituras da região que terão os mesmo músicos.
Por exemplo, a banda Calcinha Preta vai receber 120 mil reais em Cruz das Almas, enquanto que em Santo Antônio de Jesus o contrato é de 175 mil. A ideia, segundo o Ministério, é fazer com que os valores superfaturados não sejam pagos e os contratos revistos.
Na terra da maior arrecadação da Bahia com os royalties do nosso petróleo corrompido, dizem que é nosso, outros que é deles, lá vão se apresentar em São Francisco do Conde, Wesley Safadão, a dupla Fernando e Sorocaba, Calcinha Preta, Estakazero, Lucy Alves e outros mais.
Agora veja os nomes das festas fechadas, só para riquinhos da capital e de outros centros urbanos do país. Em Senhor do Bonfim tem o Forró Sfrega, em Ipirá o Forro da Jega e Ibicui o Brega Light com Ivete Sangalo, Psirico, Harmonia do Samba, Pablo e mais outros axés, pagodes e arrochas.