Quem está numa festa se esbaldando na bebida, nem pensa na ressaca do outro dia. Assim vai ser com a Copa que está terminando logo mais. Foi só iniciar a festa para desaparecerem as prioridades na educação, na saúde, na segurança, no combate da inflação e no saneamento básico. Vem aí gente, a ressaca do outro dia!

Há pouco tempo, antes de começar o evento, boa parte da população, segundo pesquisas, era contra o Brasil ser sede porque não era prioridade. Foi só a bolar rolar no gramado para esses índices serem invertidos. Como explicar essa mudança de posição? As prioridades não existem mais?

Para essa inversão de conduta, só uma coisa me vem à cabeça: Falta de conscientização e coerência política. Outra explicação é que os brasileiros só são patriotas no futebol quando se canta com todos os pulmões o hino nacional.

 Tudo isso me faz lembrar daquele cartaz de um cidadão no caminho do desfile do Dois de Julho, em Salvador, (independência da Bahia e do Brasil) que dizia: “EU NÃO SOU PALHAÇO! QUEM VIVE DE EMOÇÕES É ROBERTO CARLOS. SEU VOTO VALE MAIS QUE FUTEBOL. ACORDA BRASIL”!

Mesmo ganhando ou perdendo, a ressaca vai chegar e vai dar muita dor de cabeça com o aumento na conta de energia, dos transportes públicos e outros produtos, sem contar os péssimos serviços na saúde onde muita gente continua a morrer nos corredores dos hospitais. A violência vai voltar depois da retirada das forças armadas das cidades sedes.

A Copa foi feita pela elite e para a elite. Quem vai pagar o alto custo dos estádios? Com certeza é o povo de menor poder aquisitivo que foi excluído dos estádios porque não teve dinheiro para comprar um ingresso caro.

Muitas arenas vão se transformar, como aconteceu na África do Sul, em elefantes brancos, só que as empresas que vão assumir esses estádios já estão com seus lucros garantidos, como é o caso do Mineirão, em Belo Horizonte. Lá as empreiteiras vão ter 66 milhões de reais por ano (dinheiro do povo), mesmo que não haja eventos.

Sei que ninguém quer saber disso agora, justamente no país onde o futebol é encarado como uma batalha onde só importa os jogadores, tidos como os verdadeiros heróis gladiadores do rei. Isso nos faz lembrar as festas e as lutas no antigo coliseu romano onde o povo se contentava com o circo.

Não quero ser espírito de porco, nem do contra, mas a ressaca da Copa vem aí. Depois da Copa entram as eleições com os candidatos pedindo votos e fazendo promessas. Talvez essa ressaca seja minimizada com outra festa e assim vamos curando a dor de cabeça e empurrando a conta para outras gerações.

No mais, a Copa da mordida, do joelho na coluna vertebral, da cotovelada, do pênalti inexistente e do tropeço proposital foi regular em termos de qualidade futebolística. Poucos jogadores de destaque; muitos chutões para as arquibancadas e muitas prorrogações. Apesar de tudo, a grande maioria gostaria que esta festa não terminasse mais. Não se pode ficar por todo tempo iludindo a si mesmo. A conta vai chegar!