“ANÉSIA CAUAÇU”

CIDADE E UESB 003 - Cópia

O gênero literário tem um celeiro de talentos espalhados na região sudoeste do estado, mas ainda pouco reconhecido por nossa gente e pelos poderes públicos. Entre outros podemos citar o escritor e professor de Literatura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Uesb, Domingos Ailton, de Jequié, que recentemente lançou o livro “Anésia Cauaçu”.

Numa viagem pelo sertão de Jequié, através de pesquisas em jornais baianos e documentos do passado (período do final do século XIX ao ano de 1930), o autor apresenta a primeira mulher cangaceira e seu bando. A obra, em forma de romance, é uma ficção regional misturada à realidade.

CIDADE E UESB 003 - CópiaDomingos, como disse o professor da Uneb, Vitor Hugo Martins, coloca a mulher como protagonista da história, tendo vez e voz. Desta vez, o sertão baiano é palco do cangaço numa briga entre o coronel Marcionílio Souza e os Cauaçus (grupo de bandoleiros) que invadiram Jequié em 23 de junho de 1917.

Além de cangaceira, conforme narra o romance, Anésia Cauaçu foi a primeira mulher a praticar montaria de frente, dispensando o silhão. O autor fala da formação de Ituaçu (Brejo Grande) e a guerra dos Silvas (rabudos) contra os Gondins (mocós).

A narrativa prende o leitor como se ele estivesse num filme de ação e de choques a todo o momento. Tudo começa com a história do major Zezinho dos Laços (rabudo) que manda matar Augusto Cauaçu. Os fatos mais marcantes acontecem nos anos 1916, 1917, 1920 e 1930.

Mitos e lendas se misturam ao misticismo religioso e às tradições do sertão, como do personagem Cassiano Areão que fazia rezas para se disfarçar de carneiro.  A própria Anésia se transforma em toco de árvore quando estava em perigo na luta contra os coronéis da região. O curandeiro (pai de santo) Heitor Gurunga era o mais procurado.

No cenário de intrigar no sertão do sudoeste baiano não poderia faltar o Cabaré do Maracujá, em Jequié, ponto de encontro das “mulheres da vida”, dos coronéis da região e até de intelectuais como do engenheiro civil da estrada de ferro Nazaré- Jequié, Carlos Kuenh.

A história se passa também na Serra das Éguas (Brumado) no Sobrado do Campo Seco onde Leolino Pinheiro Canguçu seduziu Pórcina Carolina da Silva Castro (16 anos), irmã de Clélia Brasília da Silva que foi mãe do grande poeta Castro Alves.

O movimento armado dos Cauaçus, ou a Conflagração Sertaneja, envolve o governador da Bahia, J.J. Seabra por volta de 1915 e o seu substituto Antônio Ferrão Muniz que envia expedições militares para combater os “bandoleiros”. Nessa peleja do sertão, se dá a marcha dos coronéis Horácio de Matos e Douca Medrado contra o governo, em 1920.

Não escapa aos olhos, ou à pena do escritor, os tumultuados períodos da República nos idos de 1919 e final da década de 20 nos governos dos presidentes Rodrigues Alves e Epitácio Pessoa. O livro de Domingos Ailton tem tudo para entrar nas telas do cinema.

O sertão do sudoeste baiano é também rico em escritores, jornalistas, historiadores e poetas como Mozart Tanajura, Gilberto Quadros, Camilo de Jesus Lima, Laudionor Brasil, Maria Aparecida Silva de Sousa (A Conquista do Sertão da Ressaca), Ismara Pereira Ivo ( O Anjo da Morte contra o Santo Lenho), Durval Menezes, Ruy Bruno Barcelar (Canudos), Conceição Barros. Eleuza Câmara, Emerson Pinto de Araújo, João Martins (Do Outro Lado da Serra), Dário Teixeira Cotrim, Raimundo Marinho, o poeta maior Affonso Mata e tantos outros de destaque.