Até que enfim alguém explicou porque baianos e brasileiros em geral tomam medicamentos sem prescrição médica. Na edição do dia 11 de maio (domingo) o jornal a Tarde publicou uma matéria esclarecedora do repórter Franco Adailton onde a maioria dos entrevistados diz que se automedica porque tem dificuldade de marcar uma consulta.

Está aí a explicação mais convincente e realista possível. Todos sabem que o SUS no Brasil é uma humilhação e uma vergonha. Basta ver as pessoas estiradas nos corredores dos hospitais e se contorcendo de dor no aguardo de uma vaga. Não precisa ir longe, é só visitar o Hospital Regional de Vitória da Conquista.

Na situação em que nos encontramos, os médicos, órgãos do governo e especialistas da saúde não têm nenhuma moral para orientar e dar conselhos à população sobre os perigos desta prática secular. Não que seja correto, mas, infelizmente, a maioria não tem alternativa.

Quando se recomenda a não tomar remédios por conta própria até parece que no dia e na hora que a pessoa sente uma dor ou incomodo qualquer consegue de imediato fazer uma consulta com um médico.

Todo mundo está careca de saber que não é assim que a banda toca. Neste país da Copa, que não deveria ter, depois da luta da marcação, o paciente espera dias e meses para ser atendido pelo médico, principalmente se for pelo sistema SUS. Na hora da dor, não dá para esperar.

Depois de longas filas, a humilhação não acaba no consultório médico. Quando ele prescreve exames laboratoriais ai começa tudo de novo. Para fazer simples testes de sangue, urina e fezes o cidadão espera quase um mês para ser chamado.

Nesta semana fui realizar esses exames pelo SUS na Central de Marcação (unidade de recolhimento de materiais) e senti a humilhação. Para meu espanto, não tinha priorização para idosos, crianças e mulheres gestantes.

Fila enorme pela manhã e só uma mulher para atender as pessoas na entrada. Era visível que ela estava sobrecarregada demais. Meu médico requisitou exames de sangue, fezes e urina, mas ela disse que os dois últimos não estavam incluídos. Mostrei a solicitação no rodapé do papel e culpou a letra e o pessoal do centro que providenciou a marcação. Terminei convencendo.

Dos exames de sangue, um tinha que ser feito por centro particular, tal de tempo de protombina, ou coisa assim. Perguntei o motivo e a atendente explicou que o SUS não faz esse teste. Fui a um laboratório particular e, para minha surpresa, o exame custa 15 reais. Ora, como o SUS não faz um simples exame desse!

A resposta mais correta é que sempre falta material no SUS, até gazes e esparadrapo, mas o Estado tem 30 bilhões de reais para gastar na Copa. O povo não é mais idiota e está vendo tudo. O que adianta bolsa família e um empreguinho sem saúde e educação?

Como a matéria sobre a causa da automedicação do brasileiro, a mídia que anuncia avanços tecnológicas de curas e descobertas na medicina em países desenvolvidos, deixa de explicar que essas inovações científicas chegam ao Brasil com cinco e até dez anos de atraso, e que somente os ricos e poderosos vão ter acesso. O pobre humilhado fica só na ilusão