Racismo no futebol – 1 Carlos González – jornalista
No calor das discussões sobre a prática de racismo no Brasil não se ouviu ou se leu qualquer referência ao baiano Carlos Alberto Caó Oliveira Santos, autor da Lei 7.716/89, sancionada pelo então presidente José Sarney. O primeiro artigo da lei diz que é “crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A “Lei Caó” deu um sentido mais amplo à “Lei Afonso Arinos”, de 1951, que tratava apenas da discriminação racial.
Jornalista, nascido em Salvador em 20 de dezembro de 1941, Caó foi líder estudantil, se posicionou contra o golpe de 64, exerceu uma das secretarias do governo Brizola, no Rio de Janeiro, e fez parte, como deputado federal pelo PDT, da Assembléia Nacional Constituinte. Uma das suas emendas inseridas na Constituição de 88 qualifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível.
Depois de fazer justiça a esse baiano, ausente da vida pública desde 1990, vou tentar mostrar que o racismo no futebol brasileiro está latente desde os primeiros campeonatos estaduais, principalmente o do Rio de Janeiro, que era a capital da República. Na década de 20, os negros ainda procuravam se ambientar com o clima de liberdade, resgatada pela Abolição da Escravatura, assinada em 1988. O futebol era praticado por jovens de famílias abastadas, que ainda mantinham um sentimento escravocrata.
Fluminense, Flamengo, Botafogo e América, ainda numa fase amadorista, lideravam o futebol carioca desde 1906. Seus jogadores participavam de farras e se expressavam em inglês em campo. Em 1923, o Vasco da Gama formou um time de brancos, negros e mestiços, e conquistou o título de campeão. Revoltados, os quatro grandes criaram uma nova liga, deixando os vascaínos de fora. Com o advento do profissionalismo e dando como garantia o estádio de São Januário, o maior do Brasil na época, o Vasco retornou ao grupo de elite carioca.
A novela “Lado a Lado”, exibida recentemente pela Rede Globo, reproduz com fidelidade esses acontecimentos. Um empregado pardo de um clube da alta sociedade do Rio, excelente driblador, coloca bastante talco sobre o rosto para poder jogar ao lado de descendentes da aristocracia monárquica. Esse disfarce utilizado por atletas negros deu ao Fluminense o apelido de “pó de arroz”.
Depois que o Brasil perdeu a Copa de 50, no Maracanã, muitos torcedores embarcaram na idéia de que o atleta negro tremia nos momentos de decisão, citando o lateral Bigode e o goleiro Barbosa, responsabilizados pelo gol de Ghiggia, que deu o Mundial ao Uruguai. Esqueceram que, no passado, Leônidas da Silva e Domingos da Guia brilharam na Seleção Brasileira e nos seus respectivos clubes.
Conta o jornalista Mário Filho em seu livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, que na Copa de 54, na Suíça, o time brasileiro foi acusado de timidez diante dos poderosos húngaros, que aplicaram uma surra nos comandados de Zezé Moreira.
Esse falso conceito acabou em 58, na Suécia, contra a União Soviética. Os negros Garrincha e Pelé foram escalados nos lugares dos então titulares Joel e Mazzola, contrariando o psicólogo da Seleção, João Carvalhaes, que também alimentava esse abominável preconceito.
Voltarei ao tema na próxima edição.











