Não bastassem o dinheiro da contravenção do jogo do bicho, do tráfico de drogas, das lavagens das corrupções que sustentam as escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo, agora é o financiamento de uma ditadura de fora que é bem aceito, como foi o caso da “Beija-Flor”, campeão carioca deste ano.

O mais aberrante nisso tudo foi ouvir do diretor da Escola, Fran Sérgio Oliveira, que a ditadura da Guiné Equatorial, do presidente Teodoro Obiang, é benéfica para a população, quando a maioria vive na miséria e o mandatário de 35 anos no poder é o oitavo governante mais rico do mundo.

Houve controvérsias e até quem achasse ser justo está “irmandade” por se tratar de um país africano que investiu numa agremiação pobre de uma periferia excluída pelo nosso Estado, que está mais preocupado em militarizar a violência do que investir na educação e no social.

Outra justificativa alegada é que a escola desempenhou papel importante de abordar as questões vividas pelos povos africanos que há muitos séculos têm sido espoliados e escravizados pelas grandes potências, como Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha. Os movimentos negros nada falaram.

A Guiné Equatorial vive uma monarquia ditatorial onde o vice-presidente é o próprio filho do dono do regime. Acompanhado de uma comitiva que oprime seu próprio povo, o vice-presidente ocupou um andar do Hotel Copacabana e um camarote de luxo para ver a passagem da escola no sambódromo.

Falou-se em 10 e outros em cinco milhões de reais injetados pelo governo bilionário de uma nação pobre. Representantes mandatários da Guiné negaram a quantia, mas confirmaram que houve sim recursos do país, só que “doados” por empreiteiras brasileiras que têm obras por lá. Semelhança com o esquema do “petróleo”, da Operação Lava-Jato, é pura coincidência.

O somatório de verba pública com o dinheiro ilegal proveniente de fontes criminosas faz a festa dos pobres que desfilam glamourosamente no asfalto para deleite dos ricos que levam toda bolada do evento. As celebridades  fazem seu marketing e fingem estar irmanados e solidários ao meio.

Não importa que se esteja ali, mais uma vez, sendo usado por patrões suspeitos de fraudes e uso autoritário do poder, contanto que se tenha 80 minutos de glamour e alegria. Tudo é maravilhoso, tudo é deslumbrante no comentário monótono e enfadonho da mídia que também leva seu grande quinhão no lote. Todos são exaltados em suas performances.

Todos louvam e concordam com o carnavalesco João Trinta de que intelectual é quem gosta da miséria. O pobre gosta de luxo, pelo menos naquele momento especial da festa onde o rico permite que ele beba um golinho do seu copo. O resto é só orgulho fazer parte do maior “evento do planeta”, como anuncia a mídia.

Contestar e criticar só podem ser mesmo coisa de “espírito de porco”. O carnaval de Salvador, por exemplo, é bancado pelo dinheiro público o pior que existe da música, se é que se pode chamar isso de música, com letras de péssimo gosto, “porque é disso que o povo gosta”, segundo eles. É nesse nível que a população é tratada, como marionetes. Educação é o que menos conta na conta deles.