Carlos Albán González – jornalista

“Meu Deus! Meu Deus!

Se eu chorar não leve a mal

Pela luz do candeeiro

Liberte o cativeiro social”

Versos do samba enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, cantado com emoção e acompanhado dos gritos de “Fora, Temer”, pelo público das arquibancadas, no Sambódromo do Rio, durante a passagem da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, vice-campeã de 2018.

Tomei emprestado os versos dos compositores da escola Cláudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal, para ilustrar o meu comentário sobre seu oportuno artigo “Misturas de protestos, alegrias e tristezas”, publicado hoje no blog “aestrada”.

Como não se via desde os últimos anos da ditadura militar, as agremiações carnavalescas do Rio e São Paulo aproveitaram as crises nos modelos social, político e religioso do Brasil para levar seus protestos, através de alegorias, alas de passistas, samba enredo, fantasias e carros alegóricos.

Enredos batizados de “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, levado à avenida pela “Beija-Flor de Nilópolis”, campeã do desfile deste ano; versos como “Pecado é não brincar o Carnaval”, “Oh! Pátria amada, por onde andas/ seus filhos já não aguentam mais”. “Me chamas de irmão/ e me abandonas ao léu/ troca um pedaço de pão/ por um pedaço de céu”, reforçaram os clamores contra a corrupção, o desgoverno, a intolerância, o desrespeito, a violência, o desprezo ao menor abandonado, ao trabalho escravo, aos desempregados, às vítimas da seca no Nordeste, à desigualdade social, aos moradores de rua e às reformas trabalhista e da Previdência.

O bloco das ratazanas, de terno e gravata, carregando malas de dinheiro e dólares dentro das cuecas, se reportaram aos políticos, frequentadores da Casa de Mãe Joana (as casas legislativas do país); lobos em pele de cordeiro representavam magistrados corruptos. Destaques, respectivamente, das escolas “Beija-Flor de Nilópolis” e “Mangueira” e “Paraíso de Tuiuti”, o presidente Michel Temer, como um perfeito vampiro, com dólares presos na roupa, e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, dependurado com uma corda no pescoço, no papel de traidor do Carnaval carioca, por ter reduzido, como evangélico, as verbas das escolas de samba.