PELOS BURACOS DA NOSSA MÍDIA
“A LEITURA É UMA FONTE INESGOTÁVEL DE PRAZER, MAS, POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, A QUASE TOTALIDADE NÃO SENTE ESTA SEDE” – Carlos Drummond de Andrade.
Uma boa reportagem jornalística começa pelo entrevistador e termina na fonte. O repórter deve antes pesquisar e ler sobre o assunto para fazer perguntas firmes e seguras, sempre se colocando como leitor, ouvinte ou telespectador, que deseja informações completas e fidedignas sobre os fatos.
A fonte deve ser preparada e conhecedora do tema em questão. Muitos repórteres esquecem a função das perguntas e fazem afirmativas sobre o tema como se pondo no lugar do entrevistado que está ali para prestar esclarecimentos.
É horrível, sem contar que muitas matérias são requentadas e repetitivas. Falta criatividade nas pautas, de modo a sair do factual, dos boletins de ocorrências e das mesmices. De um modo geral, pouco mudou com o advento da internet.
Em geral, a mídia conquistense, principalmente a televisiva, deixa muito a desejar e peca desde a entrevista à cobertura dos fatos. Os buracos são constantes e a informação fica capenga, com vazios que até o leigo do jornalismo percebe.
A maior falha está quando o público passa a indagar o porquê de outros dados importantes não terem sido divulgados. Muitas matérias ficam faltando colocar o porquê, o que, como, quem, o onde e até o quando. A notícia não pode ser apenas um espetáculo. Ela pede conteúdo.
São muitos exemplos de matérias “jornalísticas” publicadas incompletas. Um dos casos foi a morte de uma criança depois de ter extraído um dente e passado uma semana na roça. Nem os pais e nem o dentista foram ouvidos. O que aconteceu com o procedimento durante e depois da extração?
Uma atração musical vinda de fora é entrevistada sobre seu show na cidade. Fala, canta e no final a mídia não revela aonde será realizada a apresentação do artista. O interessado em ir ao show tem que procurar o local em outra fonte.
Recentemente um caminhão baú desgovernado descendo a Serra do Periperi saiu arrastando vários carros pela Avenida Integração, provocando a morte de uma pessoa e ferindo outras. Não se entrevistou o motorista, não ficaram esclarecidos os motivos do acidente, nem a carga do veículo, tampouco o nome da vítima e dos feridos. A matéria não passou de um boletim de ocorrência malfeito.
O outro fato mais recente foi o acidente de um ciclista na BA- 262 Conquista-Anagé por um caminhão pequeno em péssimas condições de trafegar. Também o motorista não foi entrevisto, não se divulgou a placa do veículo, e o mais grave: Não se indagou da Polícia Rodoviária Estadual como o carro todo irregular, sem documentos, passou no posto.
Da cobertura do desabamento de uma obra irregular na Avenida Bartolomeu de Gusmão ficou a sensação de que não existe nenhuma fiscalização por parte dos poderes públicos com relação à construção de imóveis. Ninguém é responsável, só quem morreu. No jornalismo, um acontecimento cabe outras reportagens complementares. Explorar e investigar é a receita mais acertada.
Existem muitos outros exemplos que poderiam ser aqui citados. O jornalista responsável pela cobertura tem culpa nas falhas e nos buracos deixados, ou quando passa uma informação incompleta, mas, a maior culpa é do chefe de reportagem e do próprio editor do veículo que não exige do repórter mais rigor na apuração dos fatos. Publica-se do jeito que veio da rua, com defeitos, erros e omissões de dados.
Temos aqui uma faculdade de comunicação na área de jornalismo e multimídia, criada pela Uesb (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) em 1998, que visa preparar bons profissionais para o mercado, mas a produção local tem deixado muito a desejar. A comunidade esperava um jornalismo bem melhor, mas não foi isso o que ocorreu.
Mesmo com a evolução da internet e dos meios eletrônicos, nosso jornalismo continua fraco e capenga, com falhas nas coberturas. Quem são os maiores culpados? O tema merece muitas reflexões e debates regionais com as empresas, profissionais, estudantes, professores e a sociedade. O jornalista precisa ler mais e se preparar melhor.











