“Os processos de comunicação de massa, com suas estruturas de controle interno, assim como seu papel de apoio aos negócios e aos sistemas políticos, são tão eficazes que dispensam os tanques dos regimes ditatoriais. A propaganda está para a democracia assim como a tortura e a repressão estão para os regimes totalitários”.

O comentário é do comunicólogo e filósofo Aran Noan Chomiskv que precisa ser refletido e debatido nos dias atuais do nosso Brasil de crise política, econômica e moral onde os partidos ditos de esquerda, artistas e intelectuais taxam a mídia de um modo geral de “golpista e tendenciosa”, tirando ai, é claro, a generalização e os exageros de quem defende a permanência do poder a qualquer custo.

A liberdade de imprensa tem que ser defendida e não deve morrer nunca, mas, exige-se também que os autores e usuários dela tenham responsabilidade. Sempre digo que o direito à liberdade de imprensa acaba quando não se tem ética, moral e responsabilidade.

Bem, toda esta introdução foi para dizer que no dia 7 de abril se “comemora” o Dia do Jornalista, conforme estabelecido pelos sindicatos da categoria e pela Federação Nacional dos Jornalistas. Antes de qualquer outra discussão, até há pouco tempo se homenageava a data com reportagens, entrevistas, eventos, seminários, painéis e encontros, mas ontem (dia 7), houve apenas algumas citações. Tem-se uma sensação de decadência e desvalorização da profissão, especialmente após o advento da internet.

Jornal de papel (muitos não gostam deste termo), boletins, revistas e outros impressos, juntos com o rádio e a televisão, esta a partir dos anos 50 do século XX, eram considerados veículos de comunicação de massa quando se lia e ouvia bem mais, e o nível de cultura abrangia mais gente no país. Nos últimos 30, 40 anos, a qualidade do ensino escolar caiu e, no meio disso, surgiram a internet e as redes sociais que contribuíram mais ainda para que o jornal impresso deixasse de ser veículo de massa.

O mundo tecnológico dos meios eletrônicos fascinou também as redações e multidões, introduzindo inovações visuais, ilustrações e recursos iconográficos, que foram bons mecanismos para os leitores, mas, infelizmente, as empresas esqueceram-se de reforçar o conteúdo e a qualidade das notícias e das informações com um corpo competente de recursos humanos, mesmo com a chegada das faculdades de Comunicação em Jornalismo nos anos 60 e 70.

Estudiosos, professores e estudantes “profetizaram” o fim do impresso, mas não foi isso o que aconteceu até agora passados quase 20 anos, embora os jornais e revistas tenham sofrido grande queda nas vendas e no número de seus leitores. Em minha opinião, o que pode sustentar este segmento jornalístico é o conteúdo e a qualidade na apuração das matérias feitas, comprometidas, acima de tudo, com a informação correta das investigações ou do factual, sem tendência e partidarismo, senão caem no total descrédito e viram máquinas ditatoriais e da repressão.

O jornalismo impresso não pode tentar imitar de forma alguma as emissoras, blogs e as redes sociais, senão entram no ridículo da notícia e perdem a credibilidade, como vem ocorrendo. Atualmente temos uma grande carência de bons profissionais e empresas comprometidas com a sociedade e a opinião pública. Sente-se muito isso nas divulgações das matérias e reportagens que deixam a desejar em termos de informações recebidas.

Preservando-se a liberdade de expressão da mídia, não se pode negar que ainda hoje existem veículos (impresso e rede de televisão e rádio) que continuam e sempre vão continuar tendenciosos. O que se deduz é que eles já nasceram com esse DNA, sem contar o oligopólio que tanto enfraquece a tão sonhada democratização dos meios de comunicação.

Quanto a questão do conteúdo propriamente dito, a impressão que se tem é que o ensino das faculdades pouco ajudou na melhora do nível de qualificação das matérias. Outro fator negativo é a acomodação premeditada das empresas, ou até mesmo a incompetência dos chefes de reportagem, editores e redatores que dirigem e “orientam” os repórteres.

MÍDIA REGIONAL

Dito tudo isso, no caso regional de Vitória da Conquista, esperava-se que o noticiário jornalístico fosse melhorar de qualidade com a criação, em 1998, (se não me engano) do curso de Comunicação em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, mas, não foi isso o que aconteceu. Na verdade, o nosso jornalismo local caiu de produção e qualidade, inclusive com a chegada dos inúmeros blogs que substituíram os quase 20 jornais impressos a partir do ano 2000.

A estrutura de recursos humanos e financeiros dos nossos veículos locais continua precária. Tudo leva a crer que tudo isso seja o cerne da questão. A própria Uesb e as faculdades particulares poderiam realizar um estudo mais profundo para detectar se essa afirmação minha é verdadeira, e sendo, quais outros fatores contribuíram para a queda do nosso jornalismo regional.

Para resumir, cito aqui exemplos de matérias truncadas e incompletas que deixaram de preencher os requisitos básicos do que se aprende nas escolas de jornalismo, que são responder às perguntas “O quê, Quem, Quando, Como, Por que” e outros itens importantes. Noticia-se que um homem malvado cortou as unhas de uma Preguiça (o factual), mas não se faz uma entrevista com o autor do atentado para, pelo menos perguntar por que e para quê ele fez aquilo. Muita gente ficou indagando: Por que o cara fez isso?

Outro fato foi de uma criança que morreu na zona rural após extrair um dente. Não se entrevistou os pais, o dentista e o que houve com a vítima depois de ter passado mais de uma semana na roça após a extração do dente. Além de erros nos textos dos impressos baianos como “os passageiros do interior do avião” (Outros estavam voando fora da aeronave?), os lides são mal construídos.

Outro grande pecado dos nossos veículos locais é que no lugar de concentrarem o noticiário nos fatos e acontecimentos regionais, dão muitas matérias nacionais e até internacionais que já foram ou vão ser divulgadas momentos depois pelas grandes redes e emissoras.

Muitas pautas são construídas com base no que já ocorreu no âmbito nacional, sem contar que reproduzem muito noticiário requentado. A comunidade anseia por mais notícia da sua aldeia local, o chamado jornalismo alternativo, e não sobre o que aconteceu ou está acontecendo em outros estados ou no exterior. Por fim, como no Brasil atual em todos os níveis, o nosso jornalismo também necessita de mais imaginação e criatividade.