“Quem com o ferro fere, com o ferro será ferido”.

O médico passa um remédio para aliviar a dor do portador de câncer, mas não extrai o tumor do paciente. Outro toma um analgésico para a dor de cabeça que é consequência de uma infecção intestinal grave. Assim acontece com a crise política, econômica, moral e institucional levando o país a uma divisão entre lado A e lado B, cada um destilando mais ódio e intolerância.

Agora estão falando em realizar novas eleições através da impugnação pelo Tribunal Superior Eleitoral da chapa Dilma/Temer, ou até mesmo gerais incluindo deputados e senadores para até 2018. Não adianta nada disso se o sistema político eleitoral continuar a mesma coisa com seus vícios e deformações desmoralizantes, agredindo frontalmente a nação.

Não adianta arremediar o doente com paliativos se não atacar a raiz principal do problema, sob pena dele logo aparecer lá na frente. Com novas eleições, com impeachment ou sem impeachment, o Brasil vai continuar sangrando e poderá sofrer uma hemorragia, levando-o a um estado de coma, se é que já não está. A verdade é que o paciente está seriamente enfermo e precisa de uma junta médica de qualidade, não de palpiteiros.

Por que não fazer um plebiscito para a população decidir se aceita ou não um novo regime parlamentarista e convocar, urgentemente, uma Nova Constituinte formada por uma comissão de renomados estudiosos da intelectualidade, instituições, cidadãos e os diversos segmentos representativos da sociedade, incluindo todas as categorias e classes.

A Nova Constituinte teria como principal ponto de partida a reforma político, extraindo o tumor maligno do sistema eleitoral que elege sempre os iguais e piores, acabando de vez com os privilégios, as mordomias, as benesses e as excrecências da casta superior dos parlamentares, como, por exemplo, o foro privilegiado. Não dizem que todos são iguais perante a lei?

Nada de verbas indenizatórias e um monte de assessores que nada fazem, a não ser arrebanhar votos como cabos eleitorais. Viagens de avião só a serviço e não com cônjuges, parentes, namoradas e prostitutas. Os eleitos têm que ter responsabilidade parlamentar e trabalhar com total transparência, legislando a favor do povo e não debochando e de costas para a opinião pública como há anos fazem.

A comissão não se encarregaria apenas em apreciar a reforma política, mas também elaborar as reformas tributária, agrária, trabalhista, previdenciária e outras, sempre visando o social no sentido de amparar as classes de menor poder aquisitivo. Neste espaço das manifestações populares está faltando a bandeira dos desempregados que estão vivendo em desespero e desagregação familiar e social.

A Nova Constituinte convocaria uma eleição geral e quem estivesse respondendo processo na Justiça não poderia se candidatar, principalmente os envolvidos em corrupção. Eliminaria ai mais da metade dos políticos atuais. Como está, nem o próprio governo acredita nos parlamentares da sua base. Defendo que todos os corruptos de todos os partidos sejam punidos. O PT faz o que os partidos tradicionais fizeram e ainda fazem.

O Congresso renovado referendaria ou não a Constituinte, fazendo suas emendas, se necessário fosse. No Brasil de hoje em que a briga é estritamente pelo poder entre os maus e os feios, esta minha proposta não passa de um monte de baboseiras utópicas. O negócio hoje é meter o cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.

Será que os políticos aí do Planalto querem mesmo resolver o grave problema do Brasil que eles mesmos criaram com seus quase 40 partidos mamando do Fundo Partidário e das verbas do Petrolão e estatais, ou cada um quer mesmo é segurar o quinhão que lhe cabe neste latifúndio?

Se a histórica direita oligárquica nos envergonha porque nunca aceitou ceder um pouco da sua fortuna para construir uma sociedade mais justa e igualitária socialmente, a esquerda que sempre pregou a ética, a moral e a distribuição das riquezas nos envergonha mais ainda porque se lambuzou com o capitalismo e se promiscuiu com gente mais repugnante e da pior laia. Do outro lado já sabíamos e sabemos que sempre foram e serão predadores ferozes e mortais. Capitalismo sempre foi e será capitalismo