Das mãos do amigo e professor Itamar Aguiar li o livro de poesias “Negramafricamente” do companheiro Franklin Maxado em que, segundo ele mesmo, foi dedicado à mulher negra. Depois de passar em 1977 pelo Conselho Estadual de Cultura do Estado da Bahia, que indeferiu o pedido de ajuda por considerar uma depreciação à mulher pelo erotismo de seus versos, e outras editoras, a obra só foi publicada em 1995 com a colaboração da Universidade Estadual de Feira de Santana.

O poeta Franklin homenageia e oferece o livro à beleza feminina, especialmente da mulher negra, à raça negra, à mãe preta, à África, à umbanda, aos poetas da “cacimba”, aos poetas marginais, alternativos e independentes, aos intelectuais, aos poetas cordelistas, João Ramos, João Barros, Bule-Bule e muitos outros.

A mulher negra ou mulata é o objeto dos seus versos, cita Clóvis Moura em “Anotações sobre Franklin Maxado”. Em sua crítica, diz que Franklin cai no descritismo vaginal. “Ai, me parece, é onde o poeta tem menos força, não sei se porque há o eterno disfarçar-se por pudor, no descrever o ato sexual, ou porque o autor não se encontrou poética e/ou psicologicamente ajustado nesses momentos ao nível de transformá-los em poesia. Isto, porém, não invalida o conjunto do seu trabalho”.

Como o próprio autor escreve no livro, Clovis transcreve o verso “ por que será que te amo!?/será teu peito que mamei, criança!?/ será teu hímem que arranquei, patrão!?será teu colo em que me refugiei, adúltero!?será teu sangue que derramei, feitor!? será tua cor que me enfeitiça, notívago!?

Num dos seus poemas, Franklin escreve “a lei áurea apenas/libertou a escravidão/ para os guetos, favelas, palafitas/ mocambos, cabanas, malocas e barracos/onde não pode haver arco-íres/ pois o negro continua sujo”. Ai Clovis comenta que a palavra “negro sujo” aqui, à primeira vista, poderá parecer rebarbativa e mal empregada porque pode confundir-se com a forma pejorativa como é usada pelos brancos racistas: “negro sujo”. No entanto, o que o poeta pretendeu foi se referir à sujeira da miséria, da marginalização social e não a uma qualidade negativa.

Em sua obra, o autor fala também de Cuba “e ilha sempre é refúgio./ nessa cuba, a vida nova/fermenta e ferve/como nas usinas de açúcar./ a américa latina/cobra, cobre e cuba”. Descreve em seus versos o Nordeste, a Lei Áurea; homenageia Cachoeira, São Felix, Feira de Santana, a Bahia de Todos os Santos; e não deixou de fora Santo Amaro, de Caetano, e Recife, de Ariano Suassuna. De Itabuna ele soltou o verbo “oh, mas como fugir do mistério/quando este se chama itabuna/e quando existe uma negra mulher/ que nos envolve em seu petrume”.

Quando diz em “Noite é Negra” “quero a noite/ quero a negra/porque fugindo do frio/e do mundo,/me agasalho/em teu colchão/num amor de prazer”, talvez ai o Conselho de Cultura tenha enxergado o motivo pelo qual negou ajuda para publicação do seu trabalho. E mais em Matéria Metafísica: “sinto-o (amor) quando abraço na noite/ a negra dentro da escuridão. nada vejo/tateio só o amor/e…penetro no mistério. te picham/por seres de pixe/e teres pentelhos/PIXAIM”.

“É de se lamentar que o jovem poeta Franklin Machado não use o seu talento, a sua vocação definitiva de escritor, os recursos da sua educação superior a serviço de outros ideais que não o seu obstinado erotismo que chega a sufocar os bons momentos, de boa poesia não raros no seu livro” – destacou o Conselho em sua análise.

Em resposta às considerações e ponderações sobre seu livro, Franklin respondeu que, quanto ao impublicável, “só devo dizer que Jorge Amado, um dos maiores escritores da Bahia e do Brasil, escreve muito mais erótico ou realista do que eu”. Uma coisa é julgar e outra é decidir com os nossos preconceitos – desabafou o autor.