OS CONTRASTES DO RIO COM A CIDADE
Fora as belezas do rio São Francisco que desfila sereno e imponente quando recebe águas das chuvas como agora, exibindo suas correntezas e um pôr-do-sol sumindo nas curvas das paisagens, a cidade de Juazeiro, na qual estive visitando na semana passada, está abandonada com muito lixo nas ruas e pontos visíveis de criadouros do mosquito aedes aegypti.
Fiquei estarrecido com o que vi, principalmente se tratando de uma cidade turística por natureza e destaque como maior produtora de frutas do Vale do São Francisco. Por mais que a situação econômica esteja crítica, o poder público não pode deixar que estes contrastes entre cidade e o rio passem uma imagem negativa aos olhos dos moradores e visitantes.
Além do lixo e sujeira da principal avenida da orla que abriga bares, restaurantes e lojas, o que mais me chamou a atenção foi a Praça da Matriz onde um chafariz abandonado tem muita água empoçada, fonte mais que ideal para a proliferação do mosquito que tomou conta do Brasil, mais por negligência e incompetência dos governos do que culpa dos brasileiros.
A primeira impressão que se tem é que a praça foi entregue à própria sorte por falta de manutenção. Cachorros e outros animais perambulam na área enquanto moradores de rua dormem debaixo dos bancos. Com pouca iluminação, a praça se tornou passagem perigosa quando escurece. Fui logo avisado que tivesse cuidado à noite porque ali são registrados furtos e até assaltos.
No local, crianças e adolescentes aproveitam para fumar cigarros e maconha entre umas barraquinhas feiosas que ficam abertas até a madrugada e, muitas vezes, por 24 horas. Um porteiro de um hotel disse que a policia passa e faz de conta que nada vê. Será que também o prefeito Isaac Carvalho, do PC do B, também nada sabe?
Pelo centro da cidade que tanto curti em tempos passados com amigos em memoráveis farras, fotografei vários pontos de esgotos a céu aberto com mau cheiro insuportável, locais apropriados para mosquitos, moscas e muriçocas que tomam conta da cidade.
O lado da Bahia é assim horrível com sujeiras e buraqueiras nas ruas, como a deplorável saída que dá acesso a Sobradinho, mas é só atravessar a ponte Getúlio Vargas e você cai em Petrolina (PE), uma cidade limpa, bem estruturada e aprazível. Não é sem motivo que muitos, em forma de deboche e crítica, apelidaram Juazeiro de “Isaquistão” e Petrolina de Bruxelas brasileira.
Esse contraste entre o desarrumado (Juazeiro) e a arrumada (Petrolina) sempre existiu. O visitante sente logo esta diferença no meio da ponte. A parte pernambucana é larga e a baiana é estreita com entradas apertadas de paredões de concreto para se chegar ao centro.
O único quesito que Juazeiro consegue ser mais atrativo que Petrolina é quando se trata de festa e muito barulho. Tem também o rio do lado baiano que oferece muitas opções de lazer, como passeios agradáveis de caíques e, como já comentei, o pôr-do-sol.
Naveguei num deles até a Ilha do Fogo e outros locais como em volta da ponte e adorei as paisagens, mas as margens do Velho Chico continuam sujas e degradadas, mesmo com o maior volume de água que recebeu das chuvas de janeiro. Lamentável é que com as novas águas, por muito tempo vão deixar de falar em revitalização do rio. Sem gestão e planejamento, quase tudo neste país fica a depender de Deus e São Pedro.