LEÃO DA RECEITA ASSUSTA NEYMAR (PAI E FILHO)
Carlos González – jornalista
“Intranquilidade tributária”, palavras encontradas por Neymar da Silva Santos numa entrevista a um jornal catalão, para justificar uma possível saída do seu filho, Neymar Jr., do Barcelona, no momento em que os dois lados vão começar a negociar uma renovação de contrato, que colocará o brasileiro entre os três mais bem pagos jogadores de futebol do mundo. Sua queixa é direcionada à Receita espanhola, que está cobrando de ambos o que é justo. Imaginava, provavelmente, Neymar pai que poderia driblar o fisco daquele país, como vem fazendo há anos com o do Brasil, onde as mordidas do leão só ferem, na maioria dos casos, assalariados e aposentados.
“Estamos conversando sobre a renovação, mas existem coisas pendentes para resolver que nos deixam um pouco inquietos. Devemos saber se a Espanha aceita nossa situação. É duro para nós, pois estamos recebendo muitos ataques, no Brasil e na Espanha, por conta dos assuntos de tributação fiscal. Essa falta de compreensão nos deixa muito inseguros e nervosos. Devemos fazer as coisas bem e saber que na Espanha, ou nos deixam trabalhar, ou saímos. Nunca tivemos problemas fiscais tão grandes”, desabafou Neymar pai.
A resposta ao brasileiro foi dada pelo jornalista Jesús Mota, em editorial publicado pelo diário madrilenho“El Pais”, sugerindo que pai e filho vão embora da Espanha, transferindo-se para um paraíso fiscal, as Ilhas Cayman, por exemplo, cujo futebol principiante abrigaria o jovem de 23 anos, que, repentinamente, foi transformado numa mina de ouro. Para o mais lido jornal espanhol, o protesto do brasileiro significa um “retrocesso cívico. Os impostos não foram concebidos, nem na Espanha nem em nenhum outro país, como fatores de comodidade. O contribuinte tem que aceitar os desconfortos fiscais e pronto”.
O colunista de “El Pais”ainda coloca em cheque as intenções do pai que virou empresário: “O que significa confortável? É possível que Neymar esteja pedindo impunidade tributária ou que a empresa dele e do filho não seja submetida a inspeções de agora em diante, mesmo que existam razões objetivas para isso”.
As diferenças entre a família Silva Santos e o fisco, o brasileiro e o espanhol, começaram há cinco anos. Em setembro deste ano, o desembargador Carlos Muta, da Justiça Federal, atendendo a um pedido da Receita, determinou o bloqueio de R$ 188,8 milhões nas contas de Neymar Jr., acusado de sonegação fiscal entre 2011 e 1013. A transferência do jogador para o Barcelona motivou novas convocações de ambos aos órgãos fiscais em Madrid e Brasília, além da prisão de diretores do clube catalão.
Na época, um dos membros do séquito dos Neymar, Wagner Ribeiro, aconselhou o chefe do clã a vender tudo o que tinha no Brasil, mandar o dinheiro para os paraísos fiscais, fixar residência nas Ilhas Baleares (Palma de Mallorca) e gozar das delícias das praias do Mediterrâneo. “Você saiu da favela, mas a favela não saiu de você. A sociedade brasileira não aceita o pobre que fica rico”, escreveu Ribeiro em carta a Neymar pai, onde sugere que “o Juninho adote a cidadania espanhola e termine a sua carreira no Real Madrid”.
Um outro conselheiro da família é o pastor Newton Lobato, da Igreja Batista Peniel, localizada na Baixada Santista. Mensalmente chega às suas mãos um envelope com R$ 15 mil enviado pelo jogador, que frequenta os cultos evangélicos desde os oito anos de idade, sendo inclusive responsável pela conversão religiosa dos seus pais. Sem revelar como emprega o dízimo pago pelas ovelhas do seu rebanho, Lobato minimiza o fato de Júnior ter engravidado uma menor de idade, abandonada por ele após o nascimento de David Lucca há quatro anos; e fecha os olhos para as aventuras amorosas do ex-trabalhador Neymar pai.
Sonegação fiscal no Brasil é um crime tão comum quanto roubar um celular numa rua de qualquer cidade. Atletas profissionais, artistas, empresários, políticos, não declaram efetivamente quanto ganham por mês, o que dificulta o trabalho da fiscalização, apesar do sofisticado mecanismo de que dispõem os órgãos da Receita. No passado, os auditores se baseavam nas colunas sociais, principalmente as assinadas por Ibrahim Sued, em “O Globo”, e Zózimo Barroso do Amaral, no“Jornal do Brasil”, onde os ricos se sentiam mais ricos ao revelar a compra de mansões, fazendas, joias, iates e carros importados, ou viagens à Europa. Era o que o leão esperava para dar a mordida. Hoje, esse tipo de colunismo acabou –resta somente July, em “A Tarde” -, e os endinheirados preferem não mostrar a grana.