(Chico Ribeiro Neto)

Antes de nascer, a gente já é empacotado na bolsa amniótica e vai lidar com embalagens durante toda a vida.

Acho que foi minha primeira ideia de infinito: no rótulo da lata de aveia  havia uma mulher segurando uma lata daquela aveia, em cujo rótulo tinha uma mulher segurando uma lata…e por aí ia minha imaginação.

Quem compra um sanduíche ganha uma coroa. A criança pega a coroa e larga o sanduíche. Hoje o pessoal embala até carro zero, que vem coberto por um laço vermelho.

Muitas lojas hoje não embrulham pra presente. Algumas dão o papel pra você embrulhar em casa. Outras, nem isso. Quem viveu nas décadas de 70/80 lembra das lojas Mesbla e Sandiz. Tinham um balcão especial de embaladores. As vitrines de Natal eram fantásticas e a Prefeitura de Salvador promovia um Concurso de Vitrines.

Uma vez, a Mesbla da Avenida Sete, em Salvador, colocou uma mulher de maiô na vitrine. Era uma multidão, a maioria homens, apinhada diante da vitrine. Uns dizendo leros e outros fazendo sinais com as mãos diante da acuada manequim viva.

A história das embalagens revela que há 10 mil anos se usava cascas de coco, conchas e folhas de árvores para guardar e transportar alimentos. Muitos séculos depois viriam os barris de madeira, os barros para potes e

cestos de fibras vegetais. Com a revolução industrial, vieram a folha de flandres (para latas) e o papel em escala industrial.

Na feira de Ipiaú cada um levava sua cesta ou então pagava um carrinho guiado por meninos.

 

Nas décadas de 50/60 a carne do açougue era embrulhada em jornal. As compras no armazém eram enroladas naquele papel grosso, cinza, e passavam o barbante. Meu pai Waldemar tinha a Padaria Minerva, em Ipiaú, e convocava meu irmão Luiz, toda sexta à noite, para fazer os pacotes de 250 gramas de feijão, arroz, café e açúcar, porque sábado era dia de feira. Antigamente, se vendia meio quilo ou duzentos-e-cinquenta de vários produtos. Isso devia voltar. Quem mora sozinho não precisa comprar, por exemplo, um quilo de sal nem de açúcar.

A embalagem com papel bolha é boa pra pocar as bolhas, uma por uma. Ninguém resiste. A caixa de sapatos era um trambolho, mas mamãe Cleonice usava pra guardar as bolas da árvore de Natal.

Depois que morre, a gente é empacotado.

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