O grupo “Estradeiros da Cultura”, do Sarau A Estrada, abriu uma discussão muito pertinente sobre a situação lamentável em que vive hoje a cultura em Vitória da Conquista, talvez nunca vista em sua história.

Dentro desse debate, cada membro se expressou livremente e apresentou suas sugestões para contribuir com o “Movimenta Cultura Conquista”. É bom que fique claro que se trata de uma manifestação suprapartidária, porque a única política que nos norteia e une é a luta por uma política cultural no município.

O “Movimenta Cultura Conquista” soltou uma nota pública no último dia 25 de agosto, onde faz um apelo ao poder executivo para que a classe artística e a sociedade civil sejam respeitadas em suas principais reivindicações, quais sejam abertura dos equipamentos Teatro Carlos Jheovah, Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha há anos fechados.

A princípio, o Sarau A Estrada está elaborando uma carta onde pontua diversas reivindicações, como criação de um Plano Municipal de Cultura, Aumento do Orçamento Municipal  para a Cultura na LDO para 2026, Reforma do Teatro Carlos Jehovah, Construção de um Centro de Convenções, Investimentos em Todas as Formas de Expressão Artística, Novo Espaço para o Conservatório de Música, Ampliação de Vagas, Contratação de Instrutores e Novos Módulos nos Bairros, Política de Salvaguarda do Patrimônio Cultural e Retomada do Natal da Cidade com Foco na Produção Local,

A gestão atual se mentem em silêncio. “É sabido que há muita dificuldade de escuta aos coletivos organizados por parte do grupo que governa a cidade” – informa a nota confirmando que foi entregue um documento com quatro mil assinaturas no início do ano sobre várias questões que constituem entrave para a revitalização da nossa cultura.

Cita ainda que o Gabinete Civil recebeu o Movimenta, em 25 de março, acompanhado do secretário de Cultura, Eugênio Avelino (Xangai) e do coordenador Alexandre Magno “e nada de relevante foi apresentado”. Destaca que o grupo esperou por uma nova reunião marcada para o dia dois de maio, o que não aconteceu.

O documento assinala precarização dos trabalhadores da cultura, fechamento dos equipamentos, deterioração do patrimônio público e retorno de verbas da cultura para a União no valor de quase meio milhão de reais referentes aos editais das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Aponta também a descaracterização do nosso São João mediante privatização da festa, com gastos em torno de quatro milhões de reais.

“O evento deixou de acontecer no Espaço Glauber Rocha (Bairro Brasil) para ser realizado num local privado do Parque de Exposições. Dessa forma, torna-se urgente ampliar a mobilização e a luta por parte do setor cultural e da sociedade”. Todos são cumplices por esse atraso cultural, especialmente os poderes executivo e legislativo – completa o documento.

O Movimenta fala da necessidade de efetivação de políticas públicas para a cultura, mas deixou de reivindicar a criação do Conselho Municipal de Cultura, de suma importância para, através de leis, estabelecer diretrizes para a cultura que está sendo tratada como sobra de orçamento.

Bem, foi com base nesse documento que membros do Sarau A Estrada fez suas devidas colocações no intuito de contribuir para a melhoria da nossa cultura. Como os canais foram fechados, a única saída seria uma mobilização pacífica de protesto em frente da prefeitura abrangendo representantes de todas linguagens artísticas – conforme sugestões apresentadas.

O Sarau, fazedor de cultura, se integra e apoia o Movimenta em suas reivindicações e endossa a nota pública visando revitalizar o setor. A criação do Plano Municipal é uma antiga demanda da categoria.

De acordo com manifestações de membros do Sarau, os espaços fechados vêm prejudicando os artistas que ficam sem locais para realizar seus ensaios e apresentações de seus espetáculos.

“Na maioria das vezes não se tem uma política voltada para a formação e a educação da juventude no que se refere a uma visão transformadora e científica crítica. O sistema não favorece a proliferação de uma massa consciente crítica” – ressaltou um membro do Sarau.

Em minha opinião, o Sarau deve e tem a obrigação de tomar uma posição sobre tudo isso que está ocorrendo com relação ao desprezo com a nossa cultura. Afinal de contas, somos também um movimento cultural. O músico e compositor Manno Di Souza chama a atenção de que não houve respostas às reivindicações feitas.

”A situação em Vitória da Conquista é realmente preocupante e reflete uma questão mais ampla sobre o papel da cultura na sociedade. Quando o diálogo é silenciado e os espaços culturais são abandonados, a própria cidade perde sua alma. A cultura em sua essência, é a voz de um povo, o espelho de sua identidade e o motor de sua evolução”. – Ubuntu, A…

Para o músico Manno, Conquista tem um grande número de habitantes oriundos do sudeste e centro-oeste que não têm conhecimento da cultura do município, sobretudo da cultura nordestina. A professora Maria José afirma não entender como a pasta da cultura está nas mãos de uma artista renomado e o setor municipal está travado.

Em minha visão, precisamos de mais apoio das mídias em geral e mobilização de todos aqueles que fazem cultura em nossa cidade, saindo do individualismo e partindo para o coletivo. A professora Dayse, antes das eleições, fez um movimento com abaixo-assinado, mas não se sabe no que resultou.  Um grupo chegou a angariar assinaturas nas feiras. Todo trabalho terminou em silêncio.

A classe artística também tem sua parcela de culpa nesse caos. “Por mais que se tente unificar os movimentos culturais, esbarra-se no individualismo, vaidades e estrelismos de alguns colegas que dirige, ou dirigiu alguns desses movimentos. A unificação pontual mudaria tudo “ – enfatiza Manno.

Dal Farias e a atriz Edna dizem estar de acordo que haja uma manifestação de todos, inclusive do legislativo. O blog Avoador publicou uma matéria onde ressalta que o coletivo de artistas denuncia o descaso da prefeitura com o setor cultural. O grupo alega que não consegue diálogo.

Muitos apontam que a nossa cultura está sendo privatizada, como aconteceu no São João. O poeta, escritor e memorialista Carlos Maia também brada sobre esse descaso, principalmente quanto ao fechamento dos equipamentos culturais.

“Temos que fazer uma convocação geral para uma manifestação de protestos” – sugerem alguns artistas, acrescentando que está comprovado que documento não funciona porque termina sendo engavetado. O artista e cantor Dorinho Chaves concorda nestes pontos.

Para Eduardo Morais, tem que haver um levante nesta cidade, de forma organizada como instrumento de alertar a comunidade e a imprensa sobre o descaso dos poderes públicos em relação às práticas culturais. A maioria concorda com essa posição. Denunciar, mobilizar e reivindicar atenção à nossa causa que é também da população conquistense” – diz a professora Viviane Gama. A atriz Edna sugere se fazer o teatro do absurdo.