NAS DIVERSIDADES DAS ESTRADAS
A Bahia é um estado nordestino que cabe dentro da França e é maior do que muitos outros países, com suas diversidades culturais, de clima e solo, na maior parte semiárido, mas temos outros biomas como o cerrado, a Mata Atlântica, a ciliar, de cipó e dentro dela a bela Chapada Diamantina.
Sair de Vitória da Conquista, beirando Minas Gerais, cortando estradas até Juazeiro, pouco mais de 800 quilômetros, no norte da Bahia, divisa com Pernambuco, é conhecer essas diversidades e gente diferente.
Atravessar a Chapada, a partir de Ituaçu, com sua Gruta da Mangabeira, passando por Barra da Estiva, Mucugê, do Cemitério Bizantino, Andaraí e Rui Barbosa é entrar em terras estrangeiras e o mesmo que fazer uma desintoxicação mental.
Depois você passa por Baixa Grande, Mairí, Várzea da Roça, São José do Jacuípe, Capim Grosso, Senhor do Bonfim e em Juazeiro você toma a benção ao “Velho Chico, ou rio Opará, rio-mar em tupi-guarani. Nele se faz o descarrego de banho em suas águas, como diz o meu amigo professor Itamar Aguiar.
O mais cruel nessas estradas para quem vai de carro próprio é aturar as centenas de quebra-molas. Em alguns deles passei no pulo do gato. Cada povoado tem dois ou três lhe esperando e muitos sem a sinalização. É só construir uma casa às margens da estrada e lá vem o quebra-mola. Se fosse contar daria para mais de 300.
O nosso sertão está seco com aquela paisagem cinzenta onde só se ver os engaços e bagaços das árvores, com exceção do verde do mandacaru, o nosso símbolo de resistência que representa a coragem do homem nordestino.
Em alguns locais só choveu no último dezembro e a água está escassa. O mais encantador dessa paisagem árida de chão estorricado é que, quando batem as chuvas, de repente, em questão dias, tudo fica florido, dando vida à fauna e à flora, com sua exuberância e fartura que não se tem em outro lugar.
No retorno você vem cortando outras estradas e cidades, como Antônio Gonçalves, Pindobaçu, Saúde, Caem, Jacobina, Miguel Calmon, Piritiba e Mundo Nova, conversando e assuntando o comportamento das pessoas.
É uma viagem para reaver parentes e velhos amigos, mas também para contar e ouvir causos e estórias daquele povo simples, bem diferente da capital ou dos grandes centros urbanos, metidos a bestas e “civilizados”.
Onde se chega é bem recebido, se come e se dá boas gargalhadas que espantam os problemas do dia a dia. Vi um veículo tipo lata velha rebocando uma caminhonete nova, um motoqueiro puxando um cavalo pelo cabresto e um velho fazendo malabarismos.
Em Piritiba, onde me deu régua e compasso, conheci um poeta de 99 anos e declamamos alguns versos que falam do sertão. O município elegeu a primeira prefeita da sua história, desde a sua emancipação.
Nas prefeituras, ainda persiste o velho assistencialismo. Numa delas, um bocado de gente na porta, cada um com seu pedido, um mais esquisito que outro, para o prefeito ou a prefeita.
Conversa vai e conversa vem, uma senhora estava com um bilhete em sua mão onde pedia uma cama porque a sua havia quebrado. O pessoal que estava na fila fez aquela gozação e ela também caiu na risada.
É isso aí, cortando estradas você observa muitas coisas interessantes e também fica mais próximo da pobreza, do eleitor que sempre está sendo enganado pelas promessas de dias melhores que nunca chegam.