Só a Ponte Getúlio Vargas e o milenar Rio Opará ou o São Francisco, o conhecido popular “Velho Chico” os separa uma cidade da outra com uma bela visão das águas em pleno sertão nordestino. Em qualquer uma de suas margens, o turista fica encantado com a paisagem

Uma é a baiana Juazeiro, cujo nome é uma árvore catingueira resistente às intempéries da seca. A outra é pernambucana com seu nome em homenagem ao imperador Pedro II ou à imperatriz Tereza Cristina a partir do latim petrus mais o sufixo “ina”. Luiz Gonzaga conta o seu Juazeiro, na espera do seu amor e outro músico diz que ama Juazeiro e Petrolina.

Bem, o que mais importa entre as duas são seus contrates sociais, econômicos e políticos explícitos e gritantes, conhecidos de todos e visíveis para qualquer um visitante. A pernambucana poderia ser uma Londres ou uma Paris e a baiana uma periferia pobre das duas.

Todos que a conhecem sabem que Petrolina é bem mais desenvolvida, organizada, limpa, com um bom saneamento e uma orla ordenada de bons bares e restaurantes de fazer inveja. Sua população tem hoje cerca de 400 mil habitantes, enquanto Juazeiro em torno de 260 mil.

Em comum, as duas são nordestinas de terras áridas com uma agricultura frutífera irrigada pelo “Velho Chico”, com suas plantações de uvas, melões, melancias, mangas, mamões e outras espécies exportadas para vários países.

O Opará indígena do tupi-guarani sustenta essas riquezas e pouco recebe de preservação. Embora cheio nessa época, está desgastado, depredado e quase morre numa longa estiagem. Suas margens secaram e ficou praticamente inavegável.

Quanto as diferenças econômicas e sociais entre as duas, muitos respondem na ponta da língua que se trata de questão política. Os prefeitos de Petrolina, junto com seus governadores e deputados representativos, tiveram mais garra, senso de planejamento, trabalho, disposição, seriedade para ultrapassar em muito a baiana largada, suja, mais pobre, esfarrapada e com esgotos a céu aberto em vários bairros.

Petrolina foi uma cidade planejada, com ruas largas onde quase não se vê um papel no chão. Tem uma educação e saúde de maior qualidade e até a catedral é maior e mais bonita. Sua economia é mais sólida e um comércio mais forte.

Antigamente se dizia que os petrolinos ou petrolenses saiam de lá depois da labuta para beber e curtir as festas em Juazeiro, que nem tem mais. O São João de lá é melhor. Tem mais gente trabalhando em Petrolina do que baiano na outra margem, cujos meios de transportes são a ponte, os ônibus ou a barca que atravessa o rio. Sou mais a barca.

Numa coisa Juazeiro supera que é ter um povo mais alegre, farrista e hospitaleiro, enquanto o pernambucano é mais fechado. Mesmo com as diferenças, o “Velho Chico” une e separa as duas com todo esse contraste de desenvolvimento.

Apesar de tudo, é com Juazeiro que me identifico desde os anos 70 em minhas andanças de boemias, mas sempre fazendo minhas críticas e com horror das muriçocas. Contam uma estória que o sujeito viajante encheu a cara e foi dormir bêbado numa pensão. De tanta muriçoca, no outro dia foram encontrar ele debaixo da cama.

Fui vítima delas em várias ocasiões. A mais recente foi que ao abrir a janela do carro para pedir uma informação, elas me atacaram como enxames de abelhas e sugaram todo meu sangue. Deixaram minha pele toda picada, só no osso. Na rodoviária as bichas são as primeiras a dar “boas vindas” aos visitantes que correm como desesperados.

Por que de tantas muriçocas em Juazeiro e que fazem aumentar em quantidade? Dizem que elas vêm do bagaço da cana da usina de açúcar próxima da cidade e se juntam aos insetos dos esgotos a céu aberto. Umas com cheiro do melaço da cana e outras fedorentas. Cada casa tem sua raquete, seu mosqueteiro, feixes de mosquitinhos e outros meios para combatê-las, mas se tornaram imunes.

No Centro de Juazeiro, as ruas são estreitas que mal passam um carro, mas em algumas a prefeitura teve uma boa ideia de transformá-las em calçadões para o comércio de camelôs e barracas. Em alguns bairros mais próximos, como do Lomanto Júnior e adjacências, os esgotos correm a céu aberto.

Passei num deles e confesso que sai com dor de cabeça diante do mau cheiro. Fiquei a imaginar como as pessoas suportam morar naqueles locais. Soube que todos sofrem de doenças respiratórias e outras crônicas. Passa prefeito e entra prefeito e o problema não é resolvido.

No entanto, Juazeiro agora está recebendo uma grande obra federal de grande porte tocada pelo Denit, ligando a entrada de quem vem de Salvador e de outras regiões à Ponte Getúlio Vargas com Petrolina. Os serviços já duram cerca de três anos de forma lenta. A previsão é que termine em agosto do próximo ano.

Os comerciantes e os moradores reclamam pelos transtornos, mas quando tiver concluída dará uma maior mobilidade urbana e quem sabe, os juazeirense vão poder bater no peito e tirar um pouquinho de sarro com a cara dos petrolenses pernambucanos, mas os contrates sociais, econômicos e políticos vão permanecer. Fica difícil superar sua coirmã em termos de desenvolvimento.