MISTUREBA
(Chico Ribeiro Neto)
Fiz o alinhavo de pequenos escritos que podem virar uma croniqueta catarina. Segue o alinhavado, tudo junto e misturado. Coquetel da vida.
DE REPÓRTER
“Nosso repórter gravou o momento exato em que um passageiro está desmaiando” (apresentador de TV sobre um acidente no metrô de São Paulo).
“Atiraram aqui uma latinha de cerveja que não atingiu devidamente o bandeirinha” (o chamado locutor de pista de uma emissora de rádio no Estádio da Fonte Nova, em Salvador).
MEDIDA DA DOR
Um palmo de dor
Dois palmos de poesia
Um palmo de dor
Mais dois de alegria
Um palmo de dor
Fecha a mão, senhor.
Um palmo de dor
Isso não se mede
Leva a régua, Leonor.
Um palmo de dor
Você mediu certo?
Não ficou um dedinho
De esperança descoberto?
Quantas polegadas tem a dor?
Me diga, meu senhor,
A IA vai medir a dor?
SEM CAMISINHA
Bar muito cheio sexta à noite. Sento numa mesa, a garçonete traz uma cerveja sem o isopor (também chamado de camisinha) e diz: “O bar tá lotado. Tô sem camisinha. O senhor vai assim mesmo?”
ONDE ESTARÃO?
Onde estará aquela vizinha que tocava piano?
Aquele colega do Ginásio São Bento que aos 14 anos tinha um plano mirabolante para assaltar o Banco da Bahia na Rua Chile? Eu seria o pipoqueiro, com a metralhadora debaixo das pipocas, para auxiliar na fuga.
Onde estará aquela menina de short branco?
Aquele velho desengano
E o pedaço de pano que cobria a dor por um ano?
Estão dentro de uma cisterna
Entre baldes de lágrimas e sorrisos.
POESIA PENDURADA
Uma vez, um conhecido me pediu: “Faça uma poesia curta assim, bem bonita, que eu possa botar num quadro e pendurar na minha sala”. Poesia não se encomenda. Ela nasce sozinha lá na serra em noite de chuva. E só pode ser pendurada no coração.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)