Ponte  Bom Jesus da Lapa – Santa Maria da Vitória no oeste sobre o “Velho Chico”LAPA-ROMARIAS 003

Os 400 a 500 mil romeiros de Bom Jesus da Lapa esperados desde o final de julho até dia seis de agosto próximo para os festejos ao Senhor muito têm que penitenciar e rezar pela recuperação do Rio São Francisco, o conhecido “Velho Chico” que a cada dia está morrendo de tantas agressões praticadas pelos homens desde os últimos cinco séculos.

Estive na Lapa na semana passada e ouvi muitos comentários de pesar e de tristeza a respeito da sua degradação geral e dos desmatamentos em suas margens, sem contar os dejetos jogados no leito pelas cidades e empresas. Percebe-se que o rio está secando e o assoreamento avança. Apareceram áreas de pequenas ilhas onde antes essas terras eram cobertas pelas águas.

Ouvi de pessoas o desânimo profundo de que não há mais como recuperar o “Velho Chico”, mesmo que os governos juntem todas as forças e invistam pesado em sua revitalização. Durante anos, como sanguessugas só fizeram retirar água para energia, para abastecimento das cidades, para irrigar a agricultura e quase nada de medidas para repor e conservar.

Depois da ideia maluca e mirabolante de fazer a transposição de suas águas para os estados do Nordeste, cujas obras estão rachadas e abandonadas no meio do caminho, o governo anunciou alguns projetos de revitalização que se arrastam lentamente, só para tapear, como se a natureza fosse se contentar com tão pouco. Sua revolta está sendo maligna.

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O descaso foi tão grande que sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, secou, e agora o rio definhado percorre os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas em seu leito agonizante de morte. Muitos locais nem são mais navegáveis e em outros já se passa a pé ou de carro e carroça, como quiserem. Desapareceram a fauna e a flora. Os peixes escassearam.

Portanto, só restam aos romeiros de Bom Jesus da Lapa, que recebe por ano mais de dois milhões de pessoas, fazerem muitas orações, preces e promessas para o Bom Jesus (seis de agosto), a Nossa Senhora da Soledade (15 de setembro), a Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro) e a Santa Luzia (13 de dezembro).

O frei Capio  jejuou por vários dias em suas margens na Juazeiro da Bahia, mas não quiseram ouvir sua penitência e clamor. São Pedro já fez de tudo quanto estava ao seu alcance, mas os homens, impiedosamente, se encarregaram de destruir, com suas atitudes e garras predadoras. Um dia não mais terão água para seus projetos gananciosos de irrigação, nem dele terão mais energia para abastecer cidades e vilas e não mais haverá ribeirinhos e ribeiros. Não mais se esbanjarão com suas orgias pecaminosas.

Enquanto ficamos aqui esperando por um milagre, por que as grandes empresas que pregam sustentabilidade social e ambiental em suas falsas propagandas não se unem para recuperar as matas ciliares e salvar o “Velho Chico” que há anos reduz sua vazão de água e perde seu encanto e magia?

Como disse o poeta: “E agora José”? Os peixes sumiram, o rio secou; não mais navios, barcos e velas; não mais o por de sol corado e vermelho refletindo em suas águas; não mais o verde de suas margens; não mais produção; não mais praias para se esbaldarem; não mais a gelada e a moqueca de surubim nas barracas com o vento batendo na cara;  não mais curtição; não mais passeios pelas suas costas  e lá se foram suas belezas naturais e as esperanças. Pelos seus cânions passarão tropas e cavalos. Só desilusão.