FATOS CURIOSOS DO NORDESTE II
OS CANGACEIROS SE ENTREGARAM
Depois do assassinato de Lampião, em 1938, um grande grupo de cangaceiros entregou as armas. Em 19 de setembro de 38, Pancada, sua mulher Maria Juvenina e outros cinco bandoleiros, Vila Nova, Santa Cruz, Cobra Verde, Vinte e Cinco e Peitica se entregaram à policia de Alagoas e Sergipe. No começo de 1939 foi a vez de Francelino José Nunes, o Português, sua mulher Quitéria, Velocidade, Pedra Roxa e Barra de Aço.
ORAÇÕES
De acordo com os pesquisadores Ilda Ribeiro de Souza e Israel Araújo Orrico, os sertanejos e cangaceiros faziam dezenas de orações, como a oração preciosa, oração de São Jorge, oração do Anjo Custódio, oração das Doze Palavras Ditas e Retornadas, oração Reservada, oração de Santa Catarina, oração Poderosa, o Creio em Cruz, a Força do Credo, o Credo às Avessas, a oração do Sonho de Santa Helena, oração de São Silvestre, de São Bento, oração das 34 Almas, das Nove Almas, do Salvador do Mundo, de Santo Agostinho, a oração de Nosso Senhor Jesus Cristo e tantas outras. Em sua algibeira, Lampião levava consigo rosários e orações de São Gabriel, de São Jorge e de São Pedro. Também carregava o livro “A Vida de Jesus”.
NO PIAUÍ
Segundo historiadores, ainda que seja mais difícil encontrar indícios de cangaceirismo no Piauí, houve casos de banditismo rural naquele estado. O chefe de polícia do Ceará recebia ordens do presidente da província para que suas tropas de Ipu e São João do Príncipe mantivessem ligações constantes com autoridades policiais no Piauí, para saber a direção tomada pelos bandidos que atravessavam a divisa.
O SEBASTIANISMO
O Rei de Portugal, D. Sebastião (século XVI) estava convencido de que teria que intervir na sucessão dos governantes da África. Sem apoio popular, resolveu invadir Marrocos. Ele desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Desde, então, criou-se uma lenda de que algum dia ele retornaria. Essa história atravessou o Atlântico e chegou até o sertão nordestino, cujo povo via em D. Sebastião uma figura divina que voltaria para salvar a todos e trazer justiça para os pobres.
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Silvestre José dos Santos, chamado de Profeta, tornou-se um peregrino asceta, viajando por Alagoas e Pernambuco até se radicar, em 1817, na Serra do Rodeador. Ali criou o vilarejo denominado Paraíso Terrestre, com 400 moradores. Ele acreditava que havia uma cruz dentro de uma rocha e que de lá sairia D. Sebastião e seus soldados. Se o povo da vila fosse atacado, o rei português o tornaria invisível. Mesmo assim, a comunidade andava armada. Em outubro de 1820 foram atacados e destruídos por ordens do presidente da província de Pernambuco. O “profeta” fugiu.
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Sebastianista convicto, o beato João Ferreira, líder da comunidade de Pedra Bonita, Pernambuco, acreditava que D. Sebastião retornaria se fossem realizados sacrifícios humanos. O episódio do Reino Encantado de Vila Bela, em 1830, representou o sacrifício de dezenas de pessoas, que foram decapitadas ou esmagadas contra as pedras. O povo acreditava que os mulatos e negros seriam transformados em brancos, e os pobres em ricos. Os fanáticos cantavam hinos religiosos e conclamavam o retorno do seu rei.
LUNÁRIO PERPÉTUO
A primeira edição do Lunário Perpétuo, publicado em Portugal é de 1703. Tinha como título O non plus ultra do lunário e prognóstico perpétuo geral e particular para todos os reinos e províncias, composto por Jerônimo Cortez. Valenciano fez emendas conforme o expurgatório da Santa Inquisição, e traduziu em português. A edição de 1921, conforme Câmara Cascudo, tinha 350 páginas e incluía astrologia, mitologia, horoscopo, receitas, calendários, biografias de santos e de papas, temas da agricultura, ensinamentos de como construir um relógio de sol, formas de aprender como ver as horas pelas estrelas, veterinária e outros temas. Era o livro mais popular do sertão.
VÍTIMAS DAS SECAS
Sem contar a terrível seca de 1877/78, a pior de todas, que levou levas de famintos para Fortaleza (Ceará), houve muitas outras que provocaram saques e violências. Ocorreu o episódio do ataque do cangaceiro romântico Jesuíno Brilhante contra o carregamento de alimentos do governo, para distribuí-los às vítimas da seca de 1877, mas essa não era uma regra geral a partir do período lampiônico. Aconteceram vários casos de flagelados e saques no Nordeste entre 1979 e 1982. Em abril de 79, cinquenta mil flagelados no Ceará fizeram o governo decretar emergência. Na ocasião, 300 flagelados invadiram a cidade de Mombaça, no Rio Grande do Norte, 100 invadiram São José da Penha, em abril de 1980. Ocorreram saques às feiras e comércio de Garrotes, Itapuranga e Itaperoá, na Paraíba, enquanto 1.600 flagelados se reuniram nas ruas de Irauçuba, Ceará, para pedir trabalho e comida. PENICO FLORAL DE LOUÇA AZUL
O historiador José Anderson Nascimento narra a entrada de Lampião em uma fazenda, em 1927, onde havia um penico de louça azul e branco, com decoração floral, em cujo fundo se lia Made in England. Na casa encontrou ainda anéis, brincos, pulseiras, escravas de ouro, gargantilhas, broche de platina e brilhantes, um barrete de diamantes, um rico colar de esmeraldas e outras joias caras, um lenço de seda chinesa, 15 libras esterlinas e dois relógios de bolso da marca Parek.
Do livro “OS CANGACEIROS”, do historiador Luiz Bernardo Pericás.











