AS FORÇAS ALINHADAS À UNIÃO DEVEM SUPERAR AS BARREIRAS
Peço licença aos companheiros e companheiras estradeiros para dar a minha modesta opinião a respeito da atual situação da cultura em Vitória da Conquista, que deveria estar à altura do porte da terceira maior cidade da Bahia, e que, historicamente, já viveu sua efervescência nesse quesito com grandes nomes até de projeção internacional.
Não vou aqui fazer arrodeios, arroubos e nem citações filosóficas, sociológicas ou de outro cunho ideológico socialista marxista. Parto do meu tema de que as forças alinhadas da união superam as barreiras do descaso.
Longe de mim ser “advogado” dessa administração que sepultou nossa cultura, mas poderia aqui também abrir uma crítica sobre a atuação do nosso Ministério da Cultura. Não vou entrar nessa polêmica. Vamos voltar o nosso olhar para nossa aldeia de terra arrasada onde vivemos.
MOBILIZAÇÃO PÚBLICA
Sinto que está existindo determinados ruídos de “vozes isoladas” sob o ponto de vista dos movimentos e coletivos que, ao invés de se unir num todo, não importando a coloração ideológica, estão partindo para a divisão de intrigas entre si e até com um certo tom de agressividade e ofensas. Sempre defendi que a saída é a mobilização pública nas ruas para mostrar nossa cara, porque os documentos são sempre engavetados.
Tenho ouvido comentários de que tal coletivo é um “balaio”, uma “panela”, tal grupo é de propriedade privada, de que existe censura, sem deixar de considerar pichações negativas que só fazem dividir e criar animosidade entre nós mesmos. Em meu entender, a radicalização com outra radicalização é como a soma de zero mais zero. Não adianta rompantes viscerais.
Certas atitudes são tudo o que o outro lado do poder quer para massacrar ainda mais a nossa cultura. Sobre esta questão, escutei muitas vozes dentro da própria Secretaria de Cultura de que tal movimento partia apenas de um punhado de gente isolada radical “sem importância”, que não representaria o todo.
Que a nossa cultura vai de mal a pior, isto é indiscutível, e agora colocaram um presidente do Conselho que é anticultura. Este quadro já vem se perdurando há pelo menos dez anos, e os nossos métodos usados para mudar este cenário não têm dado resultados satisfatórios e revitalizado a nossa cultura como desejamos.
No meu raciocínio lógico, alguma coisa tem que ser mudada para alcançarmos a mudança que queremos. Diante do exposto, a minha proposta, e não é de hoje, é que todos nós sentemos numa mesa, não importando as ideologias, se de direita ou de esquerda, sem as “fogueiras das vaidades”, para falarmos uma única linguagem de que a arte interessa a todos e que a divisão de ideias só nos separa e fortalece esse poder de destruição da nossa cultura. Alguns podem até rebater que isso é impossível, mas não é.
A linguagem da qual me refiro é de políticas culturais, mas, sinceramente, vejo gente jogando esta causa tão nobre para o viés político partidário, numa nação tão polarizada que só rende ódio e intolerância. Será que constrói ou desconstrói? Vamos ser progressistas no bom sentido para conservar nossas tradições.
Temos um nível intelectual bem mais alto que eles e não estamos aproveitando esta força que é a união de todos num objetivo comum, sem essa de “donos da cultura”. Temos aqui deputados estaduais e outros nomes de expressões que podem se juntar à nossa mesa para fazer ecoar as nossas vozes e estremecer aquelas paredes do atraso.
Qualquer um tem o direito democrático de discordar da minha proposição e até achar que esteja sendo ingênuo. Só peço, porém, que as manifestações não sejam de agressões e ofensas como já vi sair da boca de alguns. Se for nesta toada, prefiro me recolher à minha modesta insignificância.
O SARAU NAS RUAS E O GRUPO
Gostaria aqui de aproveitar o ensejo para falar um pouco sobre o nosso Sarau a Estrada que levantou a ideia de partir para a estrada, literalmente, ou seja, ir para as ruas e dar o seu recado de que precisamos colocar a cultura em seu lugar merecido, desde que os discursos sejam alinhados e unificados.
O que não aceitamos são os deboches “stradêros” de quem quer que seja. Acolhemos todos aqui com muito carinho, desejando sempre boas vindas, com abraços e amizades. Precisamos sim, de colaboração e críticas construtivas, não de indiretas a um sarau que foi construído com muitas lutas e dedicação. Rogo mais respeito, pelo menos aos antigos frequentares que ajudaram a erguer este evento.
Ouvi críticas, que, ao me ver, considero injustas, de que o Sarau A Estrada nos seus quinze anos de vida só é para reunir festeiros, fazer cantorias e declamar poemas. Quem viveu isso aqui durante este período sabe que não é verdade este anunciado.
Aqui introduzimos debates de grande importância para o conhecimento e o saber intelectual, inclusive sobre a cultura em Conquista. As nossas portas sempre estiveram abertas e para entrar nunca indagamos qual sua linha ideológica. Ai, sim, seria censura.
Por outro lado, minha gente, um sarau, como o próprio nome já diz, é um sarau desde suas origens históricas, e não um movimento político partidário, não é um partido político, uma associação de classe, um sindicato ou um grupo popular revolucionário. Claro que a política faz parte desse processo, mas não é necessário polarizar ou destilar xingamentos. O que menos precisamos agora é de teorias.
Mesmo assim, sempre tenho dito em público para todos estradeiros, que o sarau, pelas proporções em que tomou e pelo seu tempo de resistência, deve sim tomar posições políticas no âmbito cultural. O Sarau A Estrada é nosso e ninguém tem o direito de tascar com verborreias depreciativas.
É um ponto de encontro cultural que nunca recebeu nenhum apoio do poder público. Que me perdoem os contrários, mas esta é a minha leitura e é nela que lastreio meus argumentos. É a nossa obrigação sairmos em defesa da cultura, mas sem a mistura partidária, respeitando as diversidades ideológicas em que nele habitam desde a sua fundação.
Por fim, queria também expressar aqui a minha posição, que pode não ser unânime, sobre o grupo “Estradeiros da Cultura”. Desde sua criação, temos como princípio básico não discutirmos política partidária, repito, por causa da convivência com as diversidades ideológicas, e só isto já foi uma grande conquista.
Alguém disse que se trata de um grupo privado. Ora, todo grupo é privado e tem suas normas, como, por exemplo, a dos partidos políticos, seja de direita ou de esquerda. Quem destoa é advertido e até eliminado. Pode até haver divergências e correntes, mas os objetivos são comuns.
Por sua vez, sabendo desse princípio, a pessoa é totalmente livre para participar, ou não. Portanto, quem desrespeita este fundamento básico, sem falar de não ofender e agredir o outro, não pode alegar que esteja havendo censura, nem mordaça e nem atentado contra a liberdade de expressão. Sua liberdade termina quando você invade a do outro ou a dos outros.