:: 9/out/2025 . 23:30
CONVÉM NÃO MISTURAR
(Chico Ribeiro Neto)
Há alguns anos me contaram: “Tem lugar na Bahia em que entra um caminhão de cachaça e saem dois”.
O Brasil já registrou duas mortes pelo consumo de bebidas com metanol, além de 181 notificações, das quais 14 casos confirmados em laboratórios. Cachaça contaminada por metanol deixou 37 mortos na Bahia em 1999.
Adulterar, “batizar”, misturar, isso é coisa que, infelizmente, acontece em todo lugar do Brasil.
Quem nunca achou um caroço de milho ou uma pedrinha no feijão ou no arroz?
Conheço uma baiana de acarajé que deixou de comprar o saco de camarão seco com 10 quilos. “Vinha de tudo misturado. Pequenos búzios, sirizinhos e pedrinhas. Isso tudo junto dava quase meio quilo ou mais”.
Conheço um dono de padaria que uma vez comprou 10 latas de manteiga, cada uma com 10 quilos, por 300 reais. O vendedor trouxe uma lata aberta, de onde retirou manteiga de verdade, e o dono provou. O preço estava ótimo (na época, o quilo de manteiga custava 6 reais e para ele ia sair por 3) e ele deu logo o cheque.
No fim da tarde, abriu a primeira lata e tomou um susto: era batata batida. Abriu as outras 9 latas e só tinha “purê”. Tentou sustar o cheque, mas já tinham descontado. Na época, os malandros aplicaram o golpe em vários estabelecimentos comerciais da Vasco da Gama e do Nordeste de Amaralina.
No interior da Bahia era frequente se colocar água na cachaça vendida em barris, aquela pinga sem marca e que era chamada de “lava jega”. O que nunca me fez mal foi a cachaça com jiló da Barraca de Seu Izidro, em Salvador.
A tramóia parece que é mundial. Um grupo de pescadores nos Estados Unidos todo ano ganhava um torneio de pesca, até que um ano descobriram o golpe: eles enfiavam bolinhas de chumbo goela abaixo dos peixes para pesarem mais.
De volta ao Brasil, muitos postos de combustível vendem gasolina com um percentual de etanol acima do permitido. Aí o carro começa a falhar, surgem vários problemas no motor.
Confesso que eu também já misturei. Quando tinha uns 10 anos, eu e meu irmão Cleomar, então com 12 anos, colocamos uma rolimã no meio de um pacotão de jornais velhos e o vendemos para um açougueiro (a carne era embrulhada em jornal) na feira do Largo 2 de Julho. Ele pesou, pagou e a gente se picou.
Nem toda mistura é ruim. O molho da baiana melhorou o prato do Tio Sam. Tem coisa melhor do que misturar feijão com arroz e farinha?
Uma vez, o cronista Carlinhos Oliveira, do Jornal do Brasil, e Tom Jobim saíam de um bar às 5 da manhã, no Rio, e Carlinhos perguntou a Tom:
“Vamos tomar um táxi?”
“Convém não misturar”, respondeu o compositor.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
PROJETOS EM PAUTA NA CÂMARA
Nesta sexta-feira (dia 10/10/25), a partir das nove horas, a Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista, em sessão ordinária, vai colocar em pauta diversos projetos em discussão, todos de fundamental importância para a população, onde muitos devem se fazer presente na plenária, sem barulhos e conversas paralelas.
Estará em debate a criação de uma Comissão Especial para acompanhar o destino e projetos referentes à área do antigo Aeroporto Pedro Otacílio Figueiredo, uma proposta do parlamentar Xandó. Essa área, que era pertencente à União, se tornou uma polêmica e os conquistenses devem ser ouvidos. Muitos desejam que ali seja implantado o Centro Administrativo como forma de desafogar o centro da cidade. A Casa precisa ser mais transparente.
A sessão vai discutir também a realização de uma audiência pública sobre o transporte coletivo, iniciativa do presidente Ivan Cordeiro. Assunto de relevância, mas que se deve pensar também numa sessão especial sobre a situação da cultura em Conquista.
A vereadora Gabriela Garrido vai propor a realização de uma sessão especial para lançamento oficial do Projeto de Castrações. Será aprovado ainda a solicitação de Tribuna Livre feita por Vanderleia Santos Marinho Moraes, que irá falar sobre as dificuldades de trânsito da estrada de acesso do Povoado de Baixão.
O LIXO E AS FLORES
Difícil falar de lixo e flores, duas coisas que se parecem antagônicas, mas que juntos, com métodos de reciclagem, podem dar belos resultados. É um tema desafio para os poetas transformarem em poesia, extrair o visível do invisível. Nossas lentes conseguiram fazer esse encontro, se bem que um distante do outro numa amostragem nada agradável para o lixo. Primeiro, na porta de uma floricultura, uma das mais antigas de Vitória da Conquista, na praça que fica ao lado da rua Laudicéia Gusmão, um monte lixo contrasta com as flores. Segunda tomada, um terreno vazio cheio de lixo no loteamento Sobradinho (Zabelê) que só atrai insetos, ratos e mau cheiro. Quem gosta de ver lixo em sua porta? Esta é uma outra face, ou imagem feia, do outro lado da nossa cidade que é pouco mostrada. As pessoas ainda trazem lixo e outras tralhas das suas casas e jogam nesses terrenos. O poder público e os moradores são os maiores culpados por esse desastre. O terceiro ponto é que o lixo pode gerar belos canteiros de flores, quando ele é reciclado, triturado, fermentado e seus compostos transformados em adubo para uma variedade de plantas, inclusive em culturas agrícolas, cujos frutos irão parar nas mesas dos seres humanos. Dentro desse conceito e nesse contexto, o lixo e as flores viram poesia num casamento perfeito. Infelizmente, ainda impera dentro de nós o instinto de degradar o meio ambiente, e o lixo e as flores são visões distintas e divergentes.
A DOR FÍSICA E A ESPIRITUAL
Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Na essência da vida existencial,
Qual a pior dor,
A física ou a espiritual?
Cada uma na sua cada qual:
A matéria acha que é a física,
A filosofia que é a espiritual,
E delas se inspira a poesia,
Na dor de José e Maria.
Uma é canibal da outra:
A física aniquila a mente,
A espiritual se fecha como ostra,
E as duas são viscerais da gente.
Tem a dor do câncer,
Aquele que não tem cura,
Tem a dor da fome,
Que até o juízo, consome,
Tem a dor da tortura,
Nos porões da ditadura,
A dor de dente, persistente,
Que deixa a alma em chama,
E a terminal no leito da cama.
Tem a dor do amor perdido,
Que rasga por dentro o peito,
A dor do luto da perda,
Daquele ente querido,
Do material ao metafísico,
É o espiritual roendo o físico.
Entre a física e o espiritual,
Existe aquela enigmática,
Que nem explica a matemática,
É a dor mortal
Daquele suspiro final,
Que nos leva para o além,
E não está no saber de ninguém.
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