Não poderia deixar passar em branco o “Dia do Nordestino”, comemorado todos os anos em 8 de outubro. O nordestino é o sertão profundo de gente simples sofredora, diferente do cerrado cheio de águas e cachoeiras do famoso escritor Guimarães Rosa, se bem que aqui também temos corredeiras.

Com todo respeito ao grande “Rosa”, mas lhe parodiando, tenho dentro de mim a “Caatinga Veredas”, que nos leva às histórias de lutas, do cangaço, da Coluna Prestes, dos misticismos religiosos, dos milagres, do Conselheiro, do “Padim Ciço” e demais personagens que fazem parte da nossa cultura.

Foi aqui em nosso Nordeste, que possui o único bioma do mundo, que proliferou a poesia de cordel e gerou grandes escritores, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Câmara Cascudo, José de Alencar, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, dentre tantos outros, sem falar nos baianos Ruy Barbosa, o Águia de Haia, e no poeta dos poetas, o condoreiro Castro Alves com suas “Espumas Flutuantes”.

O nordestino é o Nordeste dos repentistas, dos trovadores, contadores de causos e chulas, dos grandes compositores músicos como Zé Ramalho, Geraldo Vandré, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, com sua sanfona ao som de “Asa Branca”, que voou pelo mundo a fora, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Tom Zé, Novos Baianos e toda uma geração conhecida internacionalmente.

Neste “Dia do Nordestino”, quero também falar da nossa terra de bravos, mulheres e homens anônimos que fizeram e fazem parte da nossa história e da nossa rica cultura, cheia de mistérios, fé e religião. Nosso sertão é único, cinzento nos engaços e bagaços, misturados com o mandacaru, e verde e colorido quando chegam as trovoadas de final de ano.

O nordestino tem um cheiro próprio e peculiar. Brilha em seus olhos a paisagem do seu solo. Sua pele é queimada e mestiça do sol onde exala pura poesia. Em seu sangue corre a arte como matéria-prima em suas diversas linguagens. O nordestino é também o Nordeste dos retirantes, dos caminhões paus-de-arara que daqui saíram na “Triste Partida”, de Patativa do Assaré, para construir São Paulo e outras terras estranhas. O nordestino é o retorno de saudades pelo torrão querido.

O nordestino é o Nordeste da Bahia, dos heróis que consolidaram a independência do Brasil, do Maranhão, do Ceará, do Piauí, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas e Sergipe. O nordestino é o São Francisco, o “Velho Chico”, ou melhor, o Opará indígena, com suas águas dando vida aos ribeirinhos, banhando nossas margens e abrindo canais de irrigação para nossa agricultura.

O nordestino é esse Nordeste que reverencio, do qual tenho orgulho de dizer que dele sou filho, e repudia os preconceituosos e racistas que em muito contribuíram para que houvesse essa desigualdade regional, desde os tempos coloniais. Daqui exploraram nosso suor e ainda nos chamam de atrasados, mas, como diz a Bíblia, perdoai Senhor, porque eles não sabem o que dizem.