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:: 8/out/2025 . 23:29

COMO RESGATAR NOSSA JUVENTUDE?

Alguém aí tem alguma alquimia, mágica ou teoria dialética socialista marxista, ou outra que não seja radical de imposições ideológicas, para resgatar essa nossa juventude, tragada pela internet, anestesiada pelos cultos evangélicos e outras matrizes religiosas?

Não que seja contra a se ter uma religião, mas a nossa nova geração está sendo arrastada a viver num mundo alienado e fanático da onda gospel e das marchas em louvor a Jesus. Antes arrastava multidões para discutir e lutar por direitos humanos, democracia, justiça e igualdade social.

Os nossos jovens de hoje (nem todos) tornaram-se apáticos à política e não querem tomar conhecimento e nem saber sobre os problemas cruciais que afetam o nosso país ou a nossa própria aldeia em que vivemos.

Eles preferem o comodismo e a se integrarem às campanhas de doações de cestas aos pobres do que ter seus ideais de mudanças dentro do ser humano. Perderam a noção de que o homem animal não precisa somente do alimento para viver.

Não estou aqui generalizando os fatos, mas a grande maioria não se interessa mais se envolver com política e nem está mais aí para os absurdos dos políticos que governam e legislam em causa própria.

São poucos os que marcham nos protestos e manifestações. Não mais valorizam o conhecimento, o saber e a cultura. Para eles, a história do passado é apenas um passado que passou, e nada mais que isso. Estão entalados na onda do consumismo e idolatram mais o ter do que do ser.

Sem conscientização política, eles andam por aí ouvindo pastores fanáticos, treinados em lavagem cerebral. O mais lamentável é que a maioria nem tem mais uma ideologia definida e se tornou uma camada amorfa, sem cor e sem cheiro, presa ao mundo da tecnologia, das virilizações virtuais e ao besteirol.

Esta nossa juventude está mais preocupada em aprender a apertar um parafuso, montar uns chips, fazer um curso técnico para ganhar dinheiro lá na frente, do que ocupar alguma parte do seu tempo e espaço para a leitura de um grande escritor.

Quem criou essa juventude para ser massa de manobra e ser utilizada como inocentes úteis? Não é difícil responder essa resposta, basta observar esse cenário em épocas de eleições onde se muda alguma coisa para tudo continuar no mesmo lugar.

Tudo foi planejado e calculado por esse sistema de poder que, aos poucos, foi destruindo nosso ensino educacional e a nossa cultura, com a finalidade de gerar um povo sem esclarecimento e ignorante, para não incomodar seus planos maquiavélicos.

“DIA DO NORDESTINO”

Não poderia deixar passar em branco o “Dia do Nordestino”, comemorado todos os anos em 8 de outubro. O nordestino é o sertão profundo de gente simples sofredora, diferente do cerrado cheio de águas e cachoeiras do famoso escritor Guimarães Rosa, se bem que aqui também temos corredeiras.

Com todo respeito ao grande “Rosa”, mas lhe parodiando, tenho dentro de mim a “Caatinga Veredas”, que nos leva às histórias de lutas, do cangaço, da Coluna Prestes, dos misticismos religiosos, dos milagres, do Conselheiro, do “Padim Ciço” e demais personagens que fazem parte da nossa cultura.

Foi aqui em nosso Nordeste, que possui o único bioma do mundo, que proliferou a poesia de cordel e gerou grandes escritores, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Câmara Cascudo, José de Alencar, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, dentre tantos outros, sem falar nos baianos Ruy Barbosa, o Águia de Haia, e no poeta dos poetas, o condoreiro Castro Alves com suas “Espumas Flutuantes”.

O nordestino é o Nordeste dos repentistas, dos trovadores, contadores de causos e chulas, dos grandes compositores músicos como Zé Ramalho, Geraldo Vandré, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, com sua sanfona ao som de “Asa Branca”, que voou pelo mundo a fora, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Tom Zé, Novos Baianos e toda uma geração conhecida internacionalmente.

Neste “Dia do Nordestino”, quero também falar da nossa terra de bravos, mulheres e homens anônimos que fizeram e fazem parte da nossa história e da nossa rica cultura, cheia de mistérios, fé e religião. Nosso sertão é único, cinzento nos engaços e bagaços, misturados com o mandacaru, e verde e colorido quando chegam as trovoadas de final de ano.

O nordestino tem um cheiro próprio e peculiar. Brilha em seus olhos a paisagem do seu solo. Sua pele é queimada e mestiça do sol onde exala pura poesia. Em seu sangue corre a arte como matéria-prima em suas diversas linguagens. O nordestino é também o Nordeste dos retirantes, dos caminhões paus-de-arara que daqui saíram na “Triste Partida”, de Patativa do Assaré, para construir São Paulo e outras terras estranhas. O nordestino é o retorno de saudades pelo torrão querido.

O nordestino é o Nordeste da Bahia, dos heróis que consolidaram a independência do Brasil, do Maranhão, do Ceará, do Piauí, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas e Sergipe. O nordestino é o São Francisco, o “Velho Chico”, ou melhor, o Opará indígena, com suas águas dando vida aos ribeirinhos, banhando nossas margens e abrindo canais de irrigação para nossa agricultura.

O nordestino é esse Nordeste que reverencio, do qual tenho orgulho de dizer que dele sou filho, e repudia os preconceituosos e racistas que em muito contribuíram para que houvesse essa desigualdade regional, desde os tempos coloniais. Daqui exploraram nosso suor e ainda nos chamam de atrasados, mas, como diz a Bíblia, perdoai Senhor, porque eles não sabem o que dizem.

NORDESTINO TININDO

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário em homenagem ao “Dia do Nordestino”

Meu compadre, seu menino!

Nós somos é nordestino:

Carne dura como reio,

Mas não somos boi de rei;

Canga para seu roçado;

Garranchos para sua coivara,

Nem mais cego em tiroteio;

Escravo cabresto da sua lei,

Nem levar tapa na cara.

 

Moço, nós somos é nordestino!

Pernambucano, paraibano, baiano,

Potiguar, sergipano e alagoano:

Filhos do guerreiro Tapuia;

Das “ pracatas”, gibão e jibeira,

De embornal e subselentes;

Fazedor de casa, cancela e porteira,

Comendo rapadura e água na cuia,

Na construção e no canavial sulino.

 

É, seu moço, nordestino tinindo!

Marcado a ferro, como boiada;

Cascalho vermelho de estrada;

Manobra de coronel sacana;

Cabra de embolada, repente e toada,

Que viveu no breu do ensino;

Sefardita, moçárabe-marroquino,

Caboclo índio-mulato bem-vindo.

 

Somos do torrão nordestino!

Da adaga do sol brandindo;

Não mais carne moída de patrão,

Nem tralha velha de porão,

Bicho de pé e barriga d´água,

Nem alma penada que vaga.

 

Se preciso, arma em punho!

Gente guerra a guerrear,

Em empreitada de destino:

Assim é o nordestino tinindo,

Com foice, machado e facão:

Chapéu de couro na cabeça:

Nos garranchos, vaqueiro valente,

Mesmo que ao inferno desça,

Pra realizar seu sonho sonhado,

De nunca mais ser rascunho.

 

OS “FORASTEIROS” E A CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE CONQUISTA

Não sei o porquê, talvez porque sempre gostei de assistir filmes do gênero, mas a palavra “forasteiro” me faz lembrar dos tempos do faroeste bang-bang norte-americano quando colonos começaram a desbravar o Oeste.

Quando chegava algum estranho num vilarejo sem lei, todos saiam nas portas e abriam as janelas para acompanhar seus passos até a entrada do salon, na delegacia ou no bar de meia porta dividida em duas bandas. Cada um fazia suas conjecturas sobre quem era e a sua origem. Muitas vezes era um pistoleiro ou justiceiro caça bandidos.

Foi só uma viagem ao túnel do tempo para falarmos sobre a grande contribuição que os chamados “forasteiros” deram para o desenvolvimento de Vitória da Conquista nos campos econômico, social e cultural. Não foram bandoleiros, mas gente do conhecimento e do saber.

Quando aqui cheguei, em 1991, para chefiar a Sucursal do Jornal A Tarde, com o passar dos anos, fui visto por muitos com certa indiferença, como um “forasteiro” que se metia e tudo e apontava críticas que “maculavam” a imagem da cidade. Como jornalista, só fazia o meu trabalho, com seriedade e ética.

Com todo respeito às grandes personalidades conquistenses que deixaram seus nomes marcados nesta terra pelos seus serviços prestados e até se tornaram conhecidos mundialmente, os “forasteiros”, ou aqueles que vieram de fora, merecem ser reconhecidos e também homenageados.

Primeiro gostaria de citar os filhos deste chão que construíram suas histórias e colaboraram para o desenvolvimento dessa sociedade, como Fernando Spínola, a professora Heleusa Câmara, Henriqueta Prates, Laudicéia Gusmão, o prefeito, deputado e governador Edvaldo Flores, o filólogo professor José de Sá Nunes, o grande poeta Laudionor Brasil, José Pedral Sampaio, Herzem Gusmão, o famoso cineasta Glauber Rocha e tantos outros que se foram.

No entanto, não podemos esquecer dos considerados “forasteiros”, no bom sentido, que também colocaram a mão na massa e com suas habilidades e inteligência se tornaram “imortais”, como o educador  Abdias Menezes, vindo lá de Conde, na divisa entre Bahia e Sergipe, Olívia Flores (Aracatu ou Ituberá), Luiz Régis Pacheco Pereira (Salvador), vereador, prefeito (1942/45) e governador da Bahia, Camilo de Jesus Lima, escritor, jornalista e poeta, nascido em Caetité, professor Everardo Públio de Castro (Caetité), Euclides Abelardo de Souza Dantas (Salvador), primeiro jornalista em Conquista, padre Luiz Soares Palmeira (Rio de Janeiro, Alagoas e Caetité) que aqui montou o melhor colégio do estado, o poeta Heratóstenes Menezes, nascido no arraial Lage do Gavião, hoje Aracatu, o professor cientista Ubirajara Brito (Tremedal), o ex-deputado Elquison Soares (Anagé) e muitos outros que compõem uma extensa lista de notáveis.

Talvez tenha dado maior espaço aos “forasteiros”, mas nada intencional, mesmo porque todos sabem que existem muitos outros conquistenses natos que figuram na lista dos filhos ilustres que ajudaram Conquista ser o que é hoje, a terceira maior cidade da Bahia.

Lamentável que muitos, como sempre nos diz o professor Durval Menezes, foram apagados da nossa memória, principalmente pelas novas gerações. Eles deixaram de ser estudados e pesquisados e até riscados como nomes de ruas.

Além de empresários, intelectuais, escritores, educadores, temos uma enorme gama de artistas plásticos, músicos e construtores, como o mestre de obras, Luiz Alexandrino de Melo, que levantou diversos casarões que fazem parte do patrimônio arquitetônico conquistense. Temos ainda José Medeiros que, por encomenda de Edvaldo Flores, esculpiu a Venus grega, meninos e golfinhos que ficavam no Jardim das Borboletas (Praça Tancredo Neves).

Não poderia deixar de registrar aqui os Miguelenses que aqui formaram uma colônia e, com seus tinos para os negócios, ergueram o comércio de Vitória da Conquista. Portanto, devemos muito aos “forasteiros” que nesta terra montaram suas “tendas” e se tornaram filhos adotivos de Conquista.

 





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