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JUAZEIRO-PETROLINA, DUAS CIDADES UNIDAS COM SEUS CONTRASTES SOCIAIS

Só a Ponte Getúlio Vargas e o milenar Rio Opará ou o São Francisco, o conhecido popular “Velho Chico” os separa uma cidade da outra com uma bela visão das águas em pleno sertão nordestino. Em qualquer uma de suas margens, o turista fica encantado com a paisagem

Uma é a baiana Juazeiro, cujo nome é uma árvore catingueira resistente às intempéries da seca. A outra é pernambucana com seu nome em homenagem ao imperador Pedro II ou à imperatriz Tereza Cristina a partir do latim petrus mais o sufixo “ina”. Luiz Gonzaga conta o seu Juazeiro, na espera do seu amor e outro músico diz que ama Juazeiro e Petrolina.

Bem, o que mais importa entre as duas são seus contrates sociais, econômicos e políticos explícitos e gritantes, conhecidos de todos e visíveis para qualquer um visitante. A pernambucana poderia ser uma Londres ou uma Paris e a baiana uma periferia pobre das duas.

Todos que a conhecem sabem que Petrolina é bem mais desenvolvida, organizada, limpa, com um bom saneamento e uma orla ordenada de bons bares e restaurantes de fazer inveja. Sua população tem hoje cerca de 400 mil habitantes, enquanto Juazeiro em torno de 260 mil.

Em comum, as duas são nordestinas de terras áridas com uma agricultura frutífera irrigada pelo “Velho Chico”, com suas plantações de uvas, melões, melancias, mangas, mamões e outras espécies exportadas para vários países.

O Opará indígena do tupi-guarani sustenta essas riquezas e pouco recebe de preservação. Embora cheio nessa época, está desgastado, depredado e quase morre numa longa estiagem. Suas margens secaram e ficou praticamente inavegável.

Quanto as diferenças econômicas e sociais entre as duas, muitos respondem na ponta da língua que se trata de questão política. Os prefeitos de Petrolina, junto com seus governadores e deputados representativos, tiveram mais garra, senso de planejamento, trabalho, disposição, seriedade para ultrapassar em muito a baiana largada, suja, mais pobre, esfarrapada e com esgotos a céu aberto em vários bairros.

Petrolina foi uma cidade planejada, com ruas largas onde quase não se vê um papel no chão. Tem uma educação e saúde de maior qualidade e até a catedral é maior e mais bonita. Sua economia é mais sólida e um comércio mais forte.

Antigamente se dizia que os petrolinos ou petrolenses saiam de lá depois da labuta para beber e curtir as festas em Juazeiro, que nem tem mais. O São João de lá é melhor. Tem mais gente trabalhando em Petrolina do que baiano na outra margem, cujos meios de transportes são a ponte, os ônibus ou a barca que atravessa o rio. Sou mais a barca.

Numa coisa Juazeiro supera que é ter um povo mais alegre, farrista e hospitaleiro, enquanto o pernambucano é mais fechado. Mesmo com as diferenças, o “Velho Chico” une e separa as duas com todo esse contraste de desenvolvimento.

Apesar de tudo, é com Juazeiro que me identifico desde os anos 70 em minhas andanças de boemias, mas sempre fazendo minhas críticas e com horror das muriçocas. Contam uma estória que o sujeito viajante encheu a cara e foi dormir bêbado numa pensão. De tanta muriçoca, no outro dia foram encontrar ele debaixo da cama.

Fui vítima delas em várias ocasiões. A mais recente foi que ao abrir a janela do carro para pedir uma informação, elas me atacaram como enxames de abelhas e sugaram todo meu sangue. Deixaram minha pele toda picada, só no osso. Na rodoviária as bichas são as primeiras a dar “boas vindas” aos visitantes que correm como desesperados.

Por que de tantas muriçocas em Juazeiro e que fazem aumentar em quantidade? Dizem que elas vêm do bagaço da cana da usina de açúcar próxima da cidade e se juntam aos insetos dos esgotos a céu aberto. Umas com cheiro do melaço da cana e outras fedorentas. Cada casa tem sua raquete, seu mosqueteiro, feixes de mosquitinhos e outros meios para combatê-las, mas se tornaram imunes.

No Centro de Juazeiro, as ruas são estreitas que mal passam um carro, mas em algumas a prefeitura teve uma boa ideia de transformá-las em calçadões para o comércio de camelôs e barracas. Em alguns bairros mais próximos, como do Lomanto Júnior e adjacências, os esgotos correm a céu aberto.

Passei num deles e confesso que sai com dor de cabeça diante do mau cheiro. Fiquei a imaginar como as pessoas suportam morar naqueles locais. Soube que todos sofrem de doenças respiratórias e outras crônicas. Passa prefeito e entra prefeito e o problema não é resolvido.

No entanto, Juazeiro agora está recebendo uma grande obra federal de grande porte tocada pelo Denit, ligando a entrada de quem vem de Salvador e de outras regiões à Ponte Getúlio Vargas com Petrolina. Os serviços já duram cerca de três anos de forma lenta. A previsão é que termine em agosto do próximo ano.

Os comerciantes e os moradores reclamam pelos transtornos, mas quando tiver concluída dará uma maior mobilidade urbana e quem sabe, os juazeirense vão poder bater no peito e tirar um pouquinho de sarro com a cara dos petrolenses pernambucanos, mas os contrates sociais, econômicos e políticos vão permanecer. Fica difícil superar sua coirmã em termos de desenvolvimento.

 

A REFORMA DA LEI ORGÂNICA

Os munícipes, de um modo geral, não têm noção sobre a importância do que representa uma Lei Orgânica para a vida de seus moradores, daí a pouca participação nas audiências públicas. As decisões não devem vir de cima para baixo, mas com a participação da população.

Depois de muito tempo, infelizmente, a Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista vem realizando audiências públicas para a reforma da sua Lei Orgânica que tem como principal objetivo estabelecer políticas de ordenamento urbano, principalmente no que diz respeito ao setor imobiliário da cidade.

A Câmara realizou audiências com vários segmentos da sociedade para ver as necessidades mais urgentes e corrigir leis que já estão defasadas quanto a questão do uso do solo e do meio ambiente, hoje degradado pela ação dos homens.

A Lei Orgânica também vai retificar distorções existentes hoje sobre o que é bairro e loteamento, numeração e nomes corretos das ruas, avenidas e praças, hoje um emaranhado de áreas onde cada morador faz a sua definição por conta própria.

Vitória da Conquista é uma das cidades do Norte e Nordeste que mais cresceu nos últimos anos e já passou do tempo de se fazer a reforma da sua Lei Orgânica.

Dentro desse bojo, a reforma, quando for aprovada, deve apontar a necessidade de ser implantado o Plano Municipal de Cultura, uma reivindicação antiga da classe artística que a Prefeitura vem adiando.

Esse Plano servirá de base política para o poder público impulsionar a nossa cultura, com a realização de eventos obrigatórios anuais por lei, como o Festival de Música, a Feira Literária, o Salão de Artes Plásticas, dentre outras atividades que farão parte do calendário do município, não somente o São João e o Natal.

A Reforma tem também como fim estimular a criação de novas associações de bairros, bem como atualizar seus estatutos e normas, de acordo com as mudanças criadas nas esferas estadual e federal.

A BENÇÃO, MEU “VELHO CHICO”

Sempre que visito Juazeiro ou outra cidade qualquer banhada pelo rio Opará, (“rio-mar”) seu nome original indígena tupi-guarani, e é assim que deveria ser o São Francisco, o “Velho Chico”, costumo me benzer com suas águas e pedir sua benção.

Cumpri o meu rito e pedi perdão pelo que os homens fizeram de mal para esvaziar suas margens em tempos de seca e estiagem prolongada, como já ocorreu diversas vezes. E o desmatamento ciliar de suas matas, sem contar o assoreamento?

Diz a história que o rio foi descoberto pelo navegante Américo Vespúcio no dia de São Francisco de Assis. Isso não é verdade porque ele é milenar e já existia antes dos portugueses. Nos ensinam errado.

O que interessa é que de lá para cá, há mais de 500 anos, o Opará é fonte de alimento e suprimento dos povos ribeirinhos, sustentando, inclusive, a agricultura através dos canais de irrigações, e isto para empresários, deixando a classe pobre de fora.

Tenho amor incondicional a este rio que vem das cascatas de Minas Gerais e uniu vários estados nordestinos de culturas diferentes. Gerou e ainda gera inspiração para poetas e compositores musicais, sem falar na narração literária de grandes escritores.

Portanto, a minha benção ao “velho Chico”, beleza pura para Juazeiro e Petrolina, separadas apenas por uma ponte entre a Bahia e Pernambuco.

ISSO É COISA DE IGNORANTE!

– Esse negócio de tarifaço dos Estados Unidos, de que o Eduardo Bolsonaro pressionou os republicanos e o Trump para retaliar o Brasil é tudo mentira e falso, só ignorante acredita nisso.

Acabei agora mesmo de ouvir esse petardo ou pedrada sair da boca de um bolsonarista de Juazeiro, ou sei lá o que o cabra é! Acho ser nada.

Para completar sua raiva canina, disse que no Supremo Tribunal Federal, fora os maios novos, só tem bandidos e ladrões que vendem sentenças.

De tão estarrecido, fiquei calado e dei às costas porque achei que não valia a pena responder. Resolvi economizar minha saliva e meus neurônios para outra discussão mais sensata. Optei pelo silêncio e fiquei a pensar quem era mesmo o ignorante.

Ora, contra fatos e imagens, não existem argumentos. Elas falam por si. Decidi registrar o absurdo. Essa é a cara do nosso Brasil de hoje, de fanáticos e extremistas irracionais. É o Brasil da raiva e da intolerância, que confunde ser patriota com traição.

O próprio Eduardo Bolsonaro, que se licenciou da Câmara dos Deputados, para infernizar o Governo e o seu próprio país, deu uma  entrevista na casa dos yanques dizendo que o tarifaço era uma das retaliações contra o Brasil para pressionar a Corte a parar com o processo contra seu pai, o mentor do golpe de Estado que previa até matar o presidente, seu vice e o ministro Alexandre de Morais.

Ele mesmo completou que vinha mais coisas por aí além das tarifas de 50%. Será que sua fala foi armada pela Inteligência Artificial? Não era ele?

Por outro lado, o Trump foi bem claro em seu recado quando “ordenou” que parassem com as investigações, como se fosse o dono do planeta terra. Todo mundo sabe, inclusive os direitistas mais moderados e conscientes, que o tarifaço não foi técnico. Foi uma medida exclusivamente política de invasão à soberania de outra nação.

Não estou aqui discutindo política partidária, mas relatando fatos incontestáveis que não se pode ignorar puramente por questões pessoais. O cara que falou aquela besteira lá em cima do texto, nem sabe diferenciar ignorância do real.

Naquela hora lembrei do Maluf quando estava sendo julgado por corrupção nas obras de São Paulo. Mostraram a fala dele armando a trama. Simplesmente respondeu que não era ele. Contestou até sua própria assinatura, isto depois de periciada.

Para que fique bem claro, sou de posições esquerdistas, mas não sou petista e nem lulista. Tenho minhas críticas ao Governo Lula e à própria esquerda, que não é mais a mesma de antes, quando era mais ativa, menos contaminada com gente corrupta e ainda bebia aquela cachacinha, ao invés do uísque.

 

AH, SE CULTURA FOSSE FUTEBOL!

– Meu time é minha vida, mato e morro por ele! Onde meu time for, eu sigo.

Muitos já ouviram sair esses termos da boca de torcedores fanáticos por futebol em defesa do seu clube predileto. Falam essas besteiras e ainda batem forte no peito, no escudo do time, como se fossem colocar o coração para fora.

– Em meu sangue correm essas cores!

Em que Brasil estamos onde pessoas, por certo alienadas, agressivas e que só têm titica de galinha na cabeça, colocam sua vida acima de um time de futebol, capazes até de matar um irmão, pai e amigo numa discussão?

Os jogadores ganham milhões por mês e sempre estão trocando de camisa. Nem sabem que eles existem. Os dirigentes e cartolas fazem suas trapaças, decidem quem compra e vende e fingem que o torcedor é muito importante nos resultados, como se fossem um camisa 12 em campo, e eles acreditam.

Poucas agremiações dão satisfação às torcidas organizadas, umas tão violentas que já foram chamadas de terroristas. Os clubes hoje estão cheios de gringos da América do Sul e muitos foram até vendidos, perdendo suas identidades originais.

Imagina se os brasileiros (todo mundo se acha um técnico e entende do assunto) discutissem pelo menos a metade sobre cultura quanto tanto se fala de futebol em rodas de conversas, bares, restaurantes e outros lugares!

A grande maioria sabe o nome dos jogadores na ponta da língua e acompanha diariamente os noticiários do seu time. Multidões enchem aeroportos e portões de estádios para receber seus times.

Duvido que algum deles saiba citar o nome de um escritor brasileiro, e nem estão aí para o que está ocorrendo na política nacional. Se chamar alguém para uma manifestação por uma boa causa coletiva, aparece uns gatos pingados. Será que não é o futebol que é o ópio do povo? Com a palavra Marx, se fosse vivo quando apontou a religião. Pode ser os dois.

Ah, se a nossa cultura fosse tratada e debatida como é no futebol! Nem precisava de brutos, estúpidos e vândalos jogando bombas, pedras e outros objetos em centros de treinamento, nem entrarem em lutas de matanças entre grupos adversários.

Se os torcedores comentassem e tivessem conhecimento de cultura como no futebol – nem precisava ser na mesma dimensão –  o nosso Brasil seria uma maravilha e o povo teria consciência política ao ponto de não escolher bandidos e corruptos para nos “representar”.

Com certeza não possuiríamos um Congresso desse quilate, de nível tão baixo, e nossos governantes, vereadores, prefeitos e deputados teriam vergonha na cara. Seria o país mais cultural e politizado do mundo.

– Fica aí viajando na maionese, ou no seu imaginário surreal – disse um amigo numa mesa de bar, entre um gole e outro. Cai na real, cara! Isso nunca vai acontecer. Estamos na terra do sem nunca.

– Não custa nada sonhar, né! Quem sabe um dia esse cenário melancólico não muda e teremos dias melhores, com mais humanismo e consciência coletiva.

– É, do jeito que o futebol brasileiro anda caindo das pernas, quem sabe, um dia o torcedor cansa e para de ser otário – respondeu o companheiro, só para me consolar.

– Sou tricolor da Laranjeiras, mas estou fora desse esquema. Minha vida representa outras coisas, bem mais vitais para ainda respirar esse ar poluído. Evito discutir com torcedor fanático, para não levar porrada, ou, quem sabe, ser morto.

 

 

 

 

ESTADOS UNIDOS ESTÃO ENTRANDO NUMA ROTA PERIGOSA DA DITADURA

Com suas informações e dados falsos, com seus decretos malucos arbitrários, utilizando como esteio a democracia construída há séculos, o Donald Trump, de espírito extremista, vai aos poucos dopando o povo norte-americano para emplacar uma ditadura nos Estados Unidos, a primeira em toda sua história. Poderia me arriscar a dizer que ele já está sendo um Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.

Na realidade, muitos governos de índole autoritária estão se aproveitando da democracia para introduzir regimes ditatoriais, não mais com armamentos militares como no passado. Os congressos legislativos, os eleitores fanáticos e a própria Justiça estão sendo cúmplices dessa trama.

O caso mais explícito está acontecendo com os Estados Unidos, onde o Trump, seguindo um roteiro similar ao nazismo de Hitler, usa a democracia que o elegeu para realizar seu projeto de ditadura, com seus factoides divulgados diariamente pela mídia. Para isso, ele conta com a maioria do Congresso (Capitólio) e da Corte Suprema de Justiça.

São vários os exemplos dessa trama planejada desde a sua posse onde o mandatário de extrema-direita, xenófobo, racista e homofóbico vem sufocando em doses cavalares essas camadas, inclusive com apoio de boa parte da população contaminada por ideias de limpeza étnica de superioridade.

Nem é preciso citar aqui os seus decretos malditos e planejados de esvaziamento e opressão da liberdade das instituições, no caso mais visível as universidades, contingenciando suas autonomias mediante corte de recursos e limitando o ingresso de estudantes estrangeiros.

Com a mão da democracia, ele vai impondo sua ditadura, inclusive intervindo na soberania de outros países. Seu domínio interno agora está se estendendo às forças armas, às polícias e até o FBI, sob argumento de impor uma ordem numa desordem social que não existe.

Recentemente, com estatísticas mentirosas de aumento da violência na capital Washington, o desequilibrado determinou uma espécie de intervenção com a força das armas, dizendo que a polícia federal e o exército podem fazer o que bem entender contra os cidadãos. Isso é mais um gesto de ditadura e arbitrariedade.

Embora com invasões históricas terroristas de Estado em outros países, para derrubar governos democráticos, principalmente na década de 60 do século passado na América do Sul e Central, os Estados Unidos sempre passaram uma imagem de democracia sólida, o que nunca foi verdade. Sua “democracia” sempre protegeu ditadores por interesses exclusivamente econômicos e políticos.

Cada absurdo mentiroso de Trump, muitos deles bem arquitetados conscientemente, é superado por outro. O mais agressivo e falso foi sua crítica velada ao Brasil, Índia e até a algumas nações democráticas europeias, como a França, de que esses governantes suprimem a liberdade de expressão e desrespeitam os direitos humanos, quando é o próprio que assim está agindo.

O Trump, uma espécie de personagem diabólica, não se envergonha de expor ao seu país e ao mundo as suas falsidades extremas, ao ponto de deixar qualquer um possuidor de senso crítico esclarecido e racional estarrecido.

Nessa loucura desvairada e desmedida, citou a Coréia do Norte e a Arábia Saudita como exemplos de liberdade de expressão, países esses os mais opressores e assassinos de seus opositores. Não tenho dúvidas de que ele é um sádico maquiavélico, incarnado num Hitler, Stalin e outros tiranos tiranetes.

Como golpista da democracia e ainda com aquela ideia de potência dominadora imperialista, ele dá guarida a outros “lideres” defensores de uma intervenção militar, caso específico do Brasil onde se acha no direito de mandar o Supremo Tribunal Federal parar com os processos contra o mentor do golpe de Estado.

MISTUREBA

(Chico Ribeiro Neto)

Fiz o alinhavo de pequenos escritos que podem virar uma croniqueta catarina. Segue o alinhavado, tudo junto e misturado. Coquetel da vida.

DE REPÓRTER

“Nosso repórter gravou o momento exato em que um passageiro está desmaiando” (apresentador de TV sobre um acidente no metrô de São Paulo).

“Atiraram aqui uma latinha de cerveja que não atingiu devidamente o bandeirinha” (o chamado locutor de pista de uma emissora de rádio no Estádio da Fonte Nova, em Salvador).

MEDIDA DA DOR

Um palmo de dor

Dois palmos de poesia

Um palmo de dor

Mais dois de alegria

Um palmo de dor

Fecha a mão, senhor.

 

Um palmo de dor

Isso não se mede

Leva a régua, Leonor.

 

Um palmo de dor

Você mediu certo?

Não ficou um dedinho

De esperança descoberto?

 

Quantas polegadas tem a dor?

Me diga, meu senhor,

A IA vai medir a dor?

SEM CAMISINHA

Bar muito cheio sexta à noite. Sento numa mesa, a garçonete traz uma cerveja sem o isopor (também chamado de camisinha) e diz: “O bar tá lotado. Tô sem camisinha. O senhor vai assim mesmo?”

ONDE ESTARÃO?

Onde estará aquela vizinha que tocava piano?

Aquele colega do Ginásio São Bento que aos 14 anos tinha um plano mirabolante para assaltar o Banco da Bahia na Rua Chile? Eu seria o pipoqueiro, com a metralhadora debaixo das pipocas, para auxiliar na fuga.

Onde estará aquela menina de short branco?

Aquele velho desengano

E o pedaço de pano que cobria a dor por um ano?

Estão dentro de uma cisterna

Entre baldes de lágrimas e sorrisos.

POESIA PENDURADA

Uma vez, um conhecido me pediu: “Faça uma poesia curta assim, bem bonita, que eu possa botar num quadro e pendurar na minha sala”. Poesia não se encomenda. Ela nasce sozinha lá na serra em noite de chuva. E só pode ser pendurada no coração.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

A CATADORA DE LIXO E O BARRACO

As nossas lentes flagraram, num final de tarde em um terreno vazio, no loteamento Sobradinho (Zabelê), ao lado do “Sucatão” poluidor de fuligem nas casas vizinhas, uma senhora idosa catando lixo para sobreviver. Ela estava saindo de um barraco no canto do terreno onde as pessoas jogam todo tipo de entulhos. É a Vitória da Conquista vista do outro lado, chamada cinicamente por muitos de a “Suíça Baiana”. É também a cara de um Brasil com suas profundas desigualdades sociais, uma das maiores do mundo, mesmo com os programas dos governantes que não conseguem eliminar essa pobreza extrema. Essa senhora já deveria estar gozando o seu descanso merecido, mas ainda tem que lutar para colocar um pedaço de pão na mesa. É a realidade que muitos se recusam ver e preferem passar indiferentes com suas individualidades pessoais.

POESIA, É POESIA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

A poesia encanta e desencanta,

É mágica e trágica,

Nos iludi, engana e confundi,

Nos deixa tonto no amor,

Dilacera nossa alma

Agitada e calma,

É alegria, tormento e dor.

 

Poesia é saudade eterna,

Que nunca se acaba,

É corte de navalha na carne,

Sai da fumaça da erva,

Luz, caos e treva,

Faz o mar secar,

O rio deixar de correr,

O mundo parar de girar.

 

Poesia é como tirar leite de pedra,

É zumbido do vento,

Choro, riso e lamento.

 

Poesia é sentir o sangue correr na veia,

É como nascer, viver e morrer,

É pura Sofia,

Vem do universo, o som,

Não se cria, é dom,

É a madrugada serena,

Pés no orvalho da manhã,

É a cor branca, negra e morena.

 

Poesia é como se estar no cio,

É canção de viola no frio,

Tirar espinho da flor,

Agradar ao diabo,

E orar ao Senhor.

 

Poesia, é poesia

Não é só verso,

É descobrir o visível no invisível,

Poesia, é poesia,

Noite engolindo o dia.

 

 

“O CORONEL” E SACERDOTE “PADIM CIÇO”

Com seu cangaço, sua terra árida catingueira, seus coronéis, suas culturas popular e acadêmica, escritores, repentistas, trovadores, poetas, cantores, músicos e compositores de reconhecimento nacional e mundial, suas lendas e mitos, o Nordeste tem também seus personagens controversos e polêmicos estudados e pesquisados por historiadores. A literatura é vasta sobre o assunto e as versões sobre essas pessoas são as mais diversas, muitas delas contraditórias e paradoxais.

Um deles é o “coronel” e sacerdote Cícero Romão Batista, o “Padim Ciço” (1844-1934), o todo poderoso e até hoje venerado como santo em sua terra de Juazeiro do Norte. Estive lá visitando sua estátua e quem se atrever falar mal dele entre seus fiéis e romeiros poderá ser linchado e até morto.

Não chegou a ser canonizado, mas tem seus devotos de fé e, quando alguém se ver em “maus lençóis”, logo apela para sua proteção. A maioria faz suas promessas e confessa ter recebido dele suas graças. Uns dizem que ele foi injustiçado, visto como pai dos pobres e desvalidos do Nordeste. Outros que não passou de mais um oligarca aproveitador e oportunista.

Em 1894 o Vaticano afastou o padre de suas funções sacerdotais devido ao “milagre da hóstia” que teria sangrado na boca da beata Maria de Araújo, no ano de 1889. A Igreja Católica questionou o tal “milagre”, considerado como um “embuste” e fanatismo religioso. Em 1896 teve que deixar Juazeiro do Norte sob pena de ser excomungado.

Depois da suspensão, o sacerdote ingressou na política e tinha Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, como seu grande admirador. Era amigo dos grandes coronéis da região e tudo isso só fez irritar mais ainda a Igreja.

Um fato curioso é que o padre chegou a ir ao Vaticano para buscar uma absolvição diretamente com o papa Leão XIII. Segundo pesquisadores, ele foi reabilitado, mas permaneceu suspenso. Ficou até o fim da vida usando sua batina e assistindo as missas como um leigo. Contam que “Padim Ciço” permaneceu obediente aos preceitos da sua Igreja e até intercedia em orações a favor do papa.

Para o teólogo cearense José Luis Lira, o padre Cícero representa uma figura emblemática dessas idiossincrasias entre uma postura dogmática da Igreja e a devoção popular. Essa devoção a “Padim Ciço”, depois do seu afastamento, só fez crescer e se tornou lucrativa ao longo dos anos.

Décadas após, a própria Igreja que o afastou lhe concedeu oficialmente o perdão, em 2015, no pontificado do Papa Francisco, abrindo caminho para sua beatificação, cujo processo foi aberto em 2022. Ele chegou a receber o título de “Servo de Deus”. O levantamento, escritos, obras e suas virtudes foram concluídos neste ano de 2025 e enviados ao Vaticano. Por que essa reviravolta da Igreja?

Do outro lado, de acordo com historiadores, como Luiz Bernardo Pericás, autor do livro “Os Cangaceiros – ensaio de interpretação histórica”, o “Padim Ciço” era uma mistura de sacerdote, político e “coronel”. No final da sua vida possuía trinta sítios, dezesseis prédios, um quarteirão e uma avenida de casas, cinco fazendas com gado, assim como uma mina de cobre.

“Tinha ao seu redor um séquito de fiéis, o qual ajudava com esmolas, preces e palmatórias, fiéis esses que, por seu lado, também o apoiavam incondicionalmente. Era provavelmente um dos mais ricos senhores rurais do Cariri cearense de sua época”.

Ainda, segundo ele, tinha relações estreitas com comerciantes, coronéis e políticos poderosos da região. O próprio “Padim” chegou a dizer certa vez que, em Juazeiro do Norte, ele era prefeito, a Câmara, o juiz, o delegado, o comandante, a polícia e o carcereiro. Na verdade, ele tinha o poder político, social e econômico em sua mão, fazendo parte de uma oligarquia.

 





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