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:: 23/ago/2025 . 0:20

NAS DIVERSIDADES DAS ESTRADAS

A Bahia é um estado nordestino que cabe dentro da França e é maior do que muitos outros países, com suas diversidades culturais, de clima e solo, na maior parte semiárido, mas temos outros biomas como o cerrado, a Mata Atlântica, a ciliar, de cipó e dentro dela a bela Chapada Diamantina.

Sair de Vitória da Conquista, beirando Minas Gerais, cortando estradas até Juazeiro, pouco mais de 800 quilômetros, no norte da Bahia, divisa com Pernambuco, é conhecer essas diversidades e gente diferente.

Atravessar a Chapada, a partir de Ituaçu, com sua Gruta da Mangabeira, passando por Barra da Estiva, Mucugê, do Cemitério Bizantino, Andaraí e Rui Barbosa é entrar em terras estrangeiras e o mesmo que fazer uma desintoxicação mental.

Depois você passa por Baixa Grande, Mairí, Várzea da Roça, São José do Jacuípe, Capim Grosso, Senhor do Bonfim e em Juazeiro você toma a benção ao “Velho Chico, ou rio Opará, rio-mar em tupi-guarani. Nele se faz o descarrego de banho em suas águas, como diz o meu amigo professor Itamar Aguiar.

O mais cruel nessas estradas para quem vai de carro próprio é aturar as centenas de quebra-molas. Em alguns deles passei no pulo do gato. Cada povoado tem dois ou três lhe esperando e muitos sem a sinalização.  É só construir uma casa às margens da estrada e lá vem o quebra-mola. Se fosse contar daria para mais de 300.

O nosso sertão está seco com aquela paisagem cinzenta onde só se ver os engaços e bagaços das árvores, com exceção do verde do mandacaru, o nosso símbolo de resistência que representa a coragem do homem nordestino.

Em alguns locais só choveu no último dezembro e a água está escassa. O mais encantador dessa paisagem árida de chão estorricado é que, quando batem as chuvas, de repente, em questão dias, tudo fica florido, dando vida à fauna e à flora, com sua exuberância e fartura que não se tem em outro lugar.

No retorno você vem cortando outras estradas e cidades, como Antônio Gonçalves, Pindobaçu, Saúde, Caem, Jacobina, Miguel Calmon, Piritiba e Mundo Nova, conversando e assuntando o comportamento das pessoas.

É uma viagem para reaver parentes e velhos amigos, mas também para contar e ouvir causos e estórias daquele povo simples, bem diferente da capital ou dos grandes centros urbanos, metidos a bestas e “civilizados”.

Onde se chega é bem recebido, se come e se dá boas gargalhadas que espantam os problemas do dia a dia. Vi um veículo tipo lata velha rebocando uma caminhonete nova, um motoqueiro puxando um cavalo pelo cabresto e um velho fazendo malabarismos.

Em Piritiba, onde me deu régua e compasso, conheci um poeta de 99 anos e declamamos alguns versos que falam do sertão. O município elegeu a primeira prefeita da sua história, desde a sua emancipação.

Nas prefeituras, ainda persiste o velho assistencialismo. Numa delas, um bocado de gente na porta, cada um com seu pedido, um mais esquisito que outro, para o prefeito ou a prefeita.

Conversa vai e conversa vem, uma senhora estava com um bilhete em sua mão onde pedia uma cama porque a sua havia quebrado. O pessoal que estava na fila fez aquela gozação e ela também caiu na risada.

É isso aí, cortando estradas você observa muitas coisas interessantes e também fica mais próximo da pobreza, do eleitor que sempre está sendo enganado pelas promessas de dias melhores que nunca chegam.

UM PROJETO ARROJADO EM MAÇAROCA

Tudo começou há anos num velho barracão de bode assado com farofa e uma rede para atender caminhoneiros e outros viajantes. Depois veio outro local chamado de “Folha Seca”, em homenagem a canhoteiro, do Bahia, com maior estrutura e cara de uma boa churrascaria, não somente de bode.

Ao lado, um posto de gasolina e aquele pequeno empreendedor, de nome Rosenberg Macário, “Seu Rose”, que um dia sonhou em comprar o estabelecimento, transita entre os passantes trocando sempre um dedo de prosa e apertando cada mão. “Não é fácil tocar tudo isso, lidar com gente, mas devagar chegamos lá”.

Tudo isso no distrito de Maçaroca, de pessoas humildes, em pleno sertão catingueiro nordestino baiano, distante cerca de 60 quilômetros de Juazeiro. O movimento foi crescendo e o sonho se concretizando. Adquiriu o posto e seu negócio tomou outras dimensões, com lojas artesanais, bebidas, confecções e lanchonetes.

Foi mantida a churrascaria carro-chefe que lhe deu sorte, com um reforçado café da manhã de fazer inveja. A comida bem preparada do cuscuz, aipim, carne assada, ovos e outros ingredientes é forte e dá sustança, deixando o caminhoneiro abastecido durante todo dia no volante da estrada.

Nem tudo estava concluído para o arrojado empresário Rosenberg com sua visão futurística que muitos o chamavam de doido e achavam que era jogar dinheiro fora. Para muitos, ele ia cair na falência total, como o velho posto de gasolina que entrou em decadência várias vezes nas mãos de outros donos.

O segredo é não ter medo e investir com coragem e certeza que lá na frente tudo vai dar certo. Aos poucos, “Seu Rose”, com seu jeito simples de catingueiro de se vestir e se apresentar, começou a montar uma estrutura de pousadas, chalés, áreas de lazer, placas solares, parques infantis, pequenos jardins floridos, criação de aves, plantações de árvores, flores e outras obras.

Com tudo isso, surgiu o mais pesado que foi a construção de um centro de treinamento de futebol com gramado oficial sintético, hoje requisitado por vários times quando vão jogar em Juazeiro. Ao lado um campo soçaite, área para jogar vôlei e uma academia de treinamento com equipamentos de primeira linha.

Quem passa e conhece aquela estrutura ao lado do posto, em pleno sertão árido nordestino onde cruzam bodes na movimentada BR-324 fica encantado e não o chamam mais de “maluco”, mas um visionário que deu vida e força ao pequeno distrito e emprega hoje cerca de 70 pessoas.

Quando chego lá, o meu amigo-primo irmão Rosenberg faz questão de mostrar tudo em detalhes, com aquele prazer de ter feito uma obra em cada canto daquela área de mais de cinco hectares onde antes era só agreste e hoje já está sendo um ponto de turismo e lazer.

Recentemente adquiriu dois pôneis com charretes para proporcionar lazer aos seus hóspedes e demais pessoas que visitam seu projeto, único naquelas redondezas nos confins do norte da Bahia. “Ainda tenho muito coisa por fazer, como uma lagoa nessa área” e aponta para outro lugar onde será mais um de seus sonhos a ser realizado.

Ao lado da pista berram o bode e a cabra, a rapaziada bate seu baba no campo no final de tarde, o pátio está cheio de caminhões, gente de todas culturas se cruzam e proseiam e até cantores de bandas de Salvador, Recife e de outras capitais do Norte e Nordeste têm no Centro de Treinamento e nos chalés seus pontos de apoio para apresentar seus shows em Juazeiro, Petrolina e demais cidades da região.

 

 





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