– Meu time é minha vida, mato e morro por ele! Onde meu time for, eu sigo.

Muitos já ouviram sair esses termos da boca de torcedores fanáticos por futebol em defesa do seu clube predileto. Falam essas besteiras e ainda batem forte no peito, no escudo do time, como se fossem colocar o coração para fora.

– Em meu sangue correm essas cores!

Em que Brasil estamos onde pessoas, por certo alienadas, agressivas e que só têm titica de galinha na cabeça, colocam sua vida acima de um time de futebol, capazes até de matar um irmão, pai e amigo numa discussão?

Os jogadores ganham milhões por mês e sempre estão trocando de camisa. Nem sabem que eles existem. Os dirigentes e cartolas fazem suas trapaças, decidem quem compra e vende e fingem que o torcedor é muito importante nos resultados, como se fossem um camisa 12 em campo, e eles acreditam.

Poucas agremiações dão satisfação às torcidas organizadas, umas tão violentas que já foram chamadas de terroristas. Os clubes hoje estão cheios de gringos da América do Sul e muitos foram até vendidos, perdendo suas identidades originais.

Imagina se os brasileiros (todo mundo se acha um técnico e entende do assunto) discutissem pelo menos a metade sobre cultura quanto tanto se fala de futebol em rodas de conversas, bares, restaurantes e outros lugares!

A grande maioria sabe o nome dos jogadores na ponta da língua e acompanha diariamente os noticiários do seu time. Multidões enchem aeroportos e portões de estádios para receber seus times.

Duvido que algum deles saiba citar o nome de um escritor brasileiro, e nem estão aí para o que está ocorrendo na política nacional. Se chamar alguém para uma manifestação por uma boa causa coletiva, aparece uns gatos pingados. Será que não é o futebol que é o ópio do povo? Com a palavra Marx, se fosse vivo quando apontou a religião. Pode ser os dois.

Ah, se a nossa cultura fosse tratada e debatida como é no futebol! Nem precisava de brutos, estúpidos e vândalos jogando bombas, pedras e outros objetos em centros de treinamento, nem entrarem em lutas de matanças entre grupos adversários.

Se os torcedores comentassem e tivessem conhecimento de cultura como no futebol – nem precisava ser na mesma dimensão –  o nosso Brasil seria uma maravilha e o povo teria consciência política ao ponto de não escolher bandidos e corruptos para nos “representar”.

Com certeza não possuiríamos um Congresso desse quilate, de nível tão baixo, e nossos governantes, vereadores, prefeitos e deputados teriam vergonha na cara. Seria o país mais cultural e politizado do mundo.

– Fica aí viajando na maionese, ou no seu imaginário surreal – disse um amigo numa mesa de bar, entre um gole e outro. Cai na real, cara! Isso nunca vai acontecer. Estamos na terra do sem nunca.

– Não custa nada sonhar, né! Quem sabe um dia esse cenário melancólico não muda e teremos dias melhores, com mais humanismo e consciência coletiva.

– É, do jeito que o futebol brasileiro anda caindo das pernas, quem sabe, um dia o torcedor cansa e para de ser otário – respondeu o companheiro, só para me consolar.

– Sou tricolor da Laranjeiras, mas estou fora desse esquema. Minha vida representa outras coisas, bem mais vitais para ainda respirar esse ar poluído. Evito discutir com torcedor fanático, para não levar porrada, ou, quem sabe, ser morto.