:: 13/ago/2025 . 22:21
AH, SE CULTURA FOSSE FUTEBOL!
– Meu time é minha vida, mato e morro por ele! Onde meu time for, eu sigo.
Muitos já ouviram sair esses termos da boca de torcedores fanáticos por futebol em defesa do seu clube predileto. Falam essas besteiras e ainda batem forte no peito, no escudo do time, como se fossem colocar o coração para fora.
– Em meu sangue correm essas cores!
Em que Brasil estamos onde pessoas, por certo alienadas, agressivas e que só têm titica de galinha na cabeça, colocam sua vida acima de um time de futebol, capazes até de matar um irmão, pai e amigo numa discussão?
Os jogadores ganham milhões por mês e sempre estão trocando de camisa. Nem sabem que eles existem. Os dirigentes e cartolas fazem suas trapaças, decidem quem compra e vende e fingem que o torcedor é muito importante nos resultados, como se fossem um camisa 12 em campo, e eles acreditam.
Poucas agremiações dão satisfação às torcidas organizadas, umas tão violentas que já foram chamadas de terroristas. Os clubes hoje estão cheios de gringos da América do Sul e muitos foram até vendidos, perdendo suas identidades originais.
Imagina se os brasileiros (todo mundo se acha um técnico e entende do assunto) discutissem pelo menos a metade sobre cultura quanto tanto se fala de futebol em rodas de conversas, bares, restaurantes e outros lugares!
A grande maioria sabe o nome dos jogadores na ponta da língua e acompanha diariamente os noticiários do seu time. Multidões enchem aeroportos e portões de estádios para receber seus times.
Duvido que algum deles saiba citar o nome de um escritor brasileiro, e nem estão aí para o que está ocorrendo na política nacional. Se chamar alguém para uma manifestação por uma boa causa coletiva, aparece uns gatos pingados. Será que não é o futebol que é o ópio do povo? Com a palavra Marx, se fosse vivo quando apontou a religião. Pode ser os dois.
Ah, se a nossa cultura fosse tratada e debatida como é no futebol! Nem precisava de brutos, estúpidos e vândalos jogando bombas, pedras e outros objetos em centros de treinamento, nem entrarem em lutas de matanças entre grupos adversários.
Se os torcedores comentassem e tivessem conhecimento de cultura como no futebol – nem precisava ser na mesma dimensão – o nosso Brasil seria uma maravilha e o povo teria consciência política ao ponto de não escolher bandidos e corruptos para nos “representar”.
Com certeza não possuiríamos um Congresso desse quilate, de nível tão baixo, e nossos governantes, vereadores, prefeitos e deputados teriam vergonha na cara. Seria o país mais cultural e politizado do mundo.
– Fica aí viajando na maionese, ou no seu imaginário surreal – disse um amigo numa mesa de bar, entre um gole e outro. Cai na real, cara! Isso nunca vai acontecer. Estamos na terra do sem nunca.
– Não custa nada sonhar, né! Quem sabe um dia esse cenário melancólico não muda e teremos dias melhores, com mais humanismo e consciência coletiva.
– É, do jeito que o futebol brasileiro anda caindo das pernas, quem sabe, um dia o torcedor cansa e para de ser otário – respondeu o companheiro, só para me consolar.
– Sou tricolor da Laranjeiras, mas estou fora desse esquema. Minha vida representa outras coisas, bem mais vitais para ainda respirar esse ar poluído. Evito discutir com torcedor fanático, para não levar porrada, ou, quem sabe, ser morto.
ESTADOS UNIDOS ESTÃO ENTRANDO NUMA ROTA PERIGOSA DA DITADURA
Com suas informações e dados falsos, com seus decretos malucos arbitrários, utilizando como esteio a democracia construída há séculos, o Donald Trump, de espírito extremista, vai aos poucos dopando o povo norte-americano para emplacar uma ditadura nos Estados Unidos, a primeira em toda sua história. Poderia me arriscar a dizer que ele já está sendo um Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.
Na realidade, muitos governos de índole autoritária estão se aproveitando da democracia para introduzir regimes ditatoriais, não mais com armamentos militares como no passado. Os congressos legislativos, os eleitores fanáticos e a própria Justiça estão sendo cúmplices dessa trama.
O caso mais explícito está acontecendo com os Estados Unidos, onde o Trump, seguindo um roteiro similar ao nazismo de Hitler, usa a democracia que o elegeu para realizar seu projeto de ditadura, com seus factoides divulgados diariamente pela mídia. Para isso, ele conta com a maioria do Congresso (Capitólio) e da Corte Suprema de Justiça.
São vários os exemplos dessa trama planejada desde a sua posse onde o mandatário de extrema-direita, xenófobo, racista e homofóbico vem sufocando em doses cavalares essas camadas, inclusive com apoio de boa parte da população contaminada por ideias de limpeza étnica de superioridade.
Nem é preciso citar aqui os seus decretos malditos e planejados de esvaziamento e opressão da liberdade das instituições, no caso mais visível as universidades, contingenciando suas autonomias mediante corte de recursos e limitando o ingresso de estudantes estrangeiros.
Com a mão da democracia, ele vai impondo sua ditadura, inclusive intervindo na soberania de outros países. Seu domínio interno agora está se estendendo às forças armas, às polícias e até o FBI, sob argumento de impor uma ordem numa desordem social que não existe.
Recentemente, com estatísticas mentirosas de aumento da violência na capital Washington, o desequilibrado determinou uma espécie de intervenção com a força das armas, dizendo que a polícia federal e o exército podem fazer o que bem entender contra os cidadãos. Isso é mais um gesto de ditadura e arbitrariedade.
Embora com invasões históricas terroristas de Estado em outros países, para derrubar governos democráticos, principalmente na década de 60 do século passado na América do Sul e Central, os Estados Unidos sempre passaram uma imagem de democracia sólida, o que nunca foi verdade. Sua “democracia” sempre protegeu ditadores por interesses exclusivamente econômicos e políticos.
Cada absurdo mentiroso de Trump, muitos deles bem arquitetados conscientemente, é superado por outro. O mais agressivo e falso foi sua crítica velada ao Brasil, Índia e até a algumas nações democráticas europeias, como a França, de que esses governantes suprimem a liberdade de expressão e desrespeitam os direitos humanos, quando é o próprio que assim está agindo.
O Trump, uma espécie de personagem diabólica, não se envergonha de expor ao seu país e ao mundo as suas falsidades extremas, ao ponto de deixar qualquer um possuidor de senso crítico esclarecido e racional estarrecido.
Nessa loucura desvairada e desmedida, citou a Coréia do Norte e a Arábia Saudita como exemplos de liberdade de expressão, países esses os mais opressores e assassinos de seus opositores. Não tenho dúvidas de que ele é um sádico maquiavélico, incarnado num Hitler, Stalin e outros tiranos tiranetes.
Como golpista da democracia e ainda com aquela ideia de potência dominadora imperialista, ele dá guarida a outros “lideres” defensores de uma intervenção militar, caso específico do Brasil onde se acha no direito de mandar o Supremo Tribunal Federal parar com os processos contra o mentor do golpe de Estado.
MISTUREBA
(Chico Ribeiro Neto)
Fiz o alinhavo de pequenos escritos que podem virar uma croniqueta catarina. Segue o alinhavado, tudo junto e misturado. Coquetel da vida.
DE REPÓRTER
“Nosso repórter gravou o momento exato em que um passageiro está desmaiando” (apresentador de TV sobre um acidente no metrô de São Paulo).
“Atiraram aqui uma latinha de cerveja que não atingiu devidamente o bandeirinha” (o chamado locutor de pista de uma emissora de rádio no Estádio da Fonte Nova, em Salvador).
MEDIDA DA DOR
Um palmo de dor
Dois palmos de poesia
Um palmo de dor
Mais dois de alegria
Um palmo de dor
Fecha a mão, senhor.
Um palmo de dor
Isso não se mede
Leva a régua, Leonor.
Um palmo de dor
Você mediu certo?
Não ficou um dedinho
De esperança descoberto?
Quantas polegadas tem a dor?
Me diga, meu senhor,
A IA vai medir a dor?
SEM CAMISINHA
Bar muito cheio sexta à noite. Sento numa mesa, a garçonete traz uma cerveja sem o isopor (também chamado de camisinha) e diz: “O bar tá lotado. Tô sem camisinha. O senhor vai assim mesmo?”
ONDE ESTARÃO?
Onde estará aquela vizinha que tocava piano?
Aquele colega do Ginásio São Bento que aos 14 anos tinha um plano mirabolante para assaltar o Banco da Bahia na Rua Chile? Eu seria o pipoqueiro, com a metralhadora debaixo das pipocas, para auxiliar na fuga.
Onde estará aquela menina de short branco?
Aquele velho desengano
E o pedaço de pano que cobria a dor por um ano?
Estão dentro de uma cisterna
Entre baldes de lágrimas e sorrisos.
POESIA PENDURADA
Uma vez, um conhecido me pediu: “Faça uma poesia curta assim, bem bonita, que eu possa botar num quadro e pendurar na minha sala”. Poesia não se encomenda. Ela nasce sozinha lá na serra em noite de chuva. E só pode ser pendurada no coração.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
A CATADORA DE LIXO E O BARRACO
As nossas lentes flagraram, num final de tarde em um terreno vazio, no loteamento Sobradinho (Zabelê), ao lado do “Sucatão” poluidor de fuligem nas casas vizinhas, uma senhora idosa catando lixo para sobreviver. Ela estava saindo de um barraco no canto do terreno onde as pessoas jogam todo tipo de entulhos. É a Vitória da Conquista vista do outro lado, chamada cinicamente por muitos de a “Suíça Baiana”. É também a cara de um Brasil com suas profundas desigualdades sociais, uma das maiores do mundo, mesmo com os programas dos governantes que não conseguem eliminar essa pobreza extrema. Essa senhora já deveria estar gozando o seu descanso merecido, mas ainda tem que lutar para colocar um pedaço de pão na mesa. É a realidade que muitos se recusam ver e preferem passar indiferentes com suas individualidades pessoais.
POESIA, É POESIA
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
A poesia encanta e desencanta,
É mágica e trágica,
Nos iludi, engana e confundi,
Nos deixa tonto no amor,
Dilacera nossa alma
Agitada e calma,
É alegria, tormento e dor.
Poesia é saudade eterna,
Que nunca se acaba,
É corte de navalha na carne,
Sai da fumaça da erva,
Luz, caos e treva,
Faz o mar secar,
O rio deixar de correr,
O mundo parar de girar.
Poesia é como tirar leite de pedra,
É zumbido do vento,
Choro, riso e lamento.
Poesia é sentir o sangue correr na veia,
É como nascer, viver e morrer,
É pura Sofia,
Vem do universo, o som,
Não se cria, é dom,
É a madrugada serena,
Pés no orvalho da manhã,
É a cor branca, negra e morena.
Poesia é como se estar no cio,
É canção de viola no frio,
Tirar espinho da flor,
Agradar ao diabo,
E orar ao Senhor.
Poesia, é poesia
Não é só verso,
É descobrir o visível no invisível,
Poesia, é poesia,
Noite engolindo o dia.
“O CORONEL” E SACERDOTE “PADIM CIÇO”
Com seu cangaço, sua terra árida catingueira, seus coronéis, suas culturas popular e acadêmica, escritores, repentistas, trovadores, poetas, cantores, músicos e compositores de reconhecimento nacional e mundial, suas lendas e mitos, o Nordeste tem também seus personagens controversos e polêmicos estudados e pesquisados por historiadores. A literatura é vasta sobre o assunto e as versões sobre essas pessoas são as mais diversas, muitas delas contraditórias e paradoxais.
Um deles é o “coronel” e sacerdote Cícero Romão Batista, o “Padim Ciço” (1844-1934), o todo poderoso e até hoje venerado como santo em sua terra de Juazeiro do Norte. Estive lá visitando sua estátua e quem se atrever falar mal dele entre seus fiéis e romeiros poderá ser linchado e até morto.
Não chegou a ser canonizado, mas tem seus devotos de fé e, quando alguém se ver em “maus lençóis”, logo apela para sua proteção. A maioria faz suas promessas e confessa ter recebido dele suas graças. Uns dizem que ele foi injustiçado, visto como pai dos pobres e desvalidos do Nordeste. Outros que não passou de mais um oligarca aproveitador e oportunista.
Em 1894 o Vaticano afastou o padre de suas funções sacerdotais devido ao “milagre da hóstia” que teria sangrado na boca da beata Maria de Araújo, no ano de 1889. A Igreja Católica questionou o tal “milagre”, considerado como um “embuste” e fanatismo religioso. Em 1896 teve que deixar Juazeiro do Norte sob pena de ser excomungado.
Depois da suspensão, o sacerdote ingressou na política e tinha Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, como seu grande admirador. Era amigo dos grandes coronéis da região e tudo isso só fez irritar mais ainda a Igreja.
Um fato curioso é que o padre chegou a ir ao Vaticano para buscar uma absolvição diretamente com o papa Leão XIII. Segundo pesquisadores, ele foi reabilitado, mas permaneceu suspenso. Ficou até o fim da vida usando sua batina e assistindo as missas como um leigo. Contam que “Padim Ciço” permaneceu obediente aos preceitos da sua Igreja e até intercedia em orações a favor do papa.
Para o teólogo cearense José Luis Lira, o padre Cícero representa uma figura emblemática dessas idiossincrasias entre uma postura dogmática da Igreja e a devoção popular. Essa devoção a “Padim Ciço”, depois do seu afastamento, só fez crescer e se tornou lucrativa ao longo dos anos.
Décadas após, a própria Igreja que o afastou lhe concedeu oficialmente o perdão, em 2015, no pontificado do Papa Francisco, abrindo caminho para sua beatificação, cujo processo foi aberto em 2022. Ele chegou a receber o título de “Servo de Deus”. O levantamento, escritos, obras e suas virtudes foram concluídos neste ano de 2025 e enviados ao Vaticano. Por que essa reviravolta da Igreja?
Do outro lado, de acordo com historiadores, como Luiz Bernardo Pericás, autor do livro “Os Cangaceiros – ensaio de interpretação histórica”, o “Padim Ciço” era uma mistura de sacerdote, político e “coronel”. No final da sua vida possuía trinta sítios, dezesseis prédios, um quarteirão e uma avenida de casas, cinco fazendas com gado, assim como uma mina de cobre.
“Tinha ao seu redor um séquito de fiéis, o qual ajudava com esmolas, preces e palmatórias, fiéis esses que, por seu lado, também o apoiavam incondicionalmente. Era provavelmente um dos mais ricos senhores rurais do Cariri cearense de sua época”.
Ainda, segundo ele, tinha relações estreitas com comerciantes, coronéis e políticos poderosos da região. O próprio “Padim” chegou a dizer certa vez que, em Juazeiro do Norte, ele era prefeito, a Câmara, o juiz, o delegado, o comandante, a polícia e o carcereiro. Na verdade, ele tinha o poder político, social e econômico em sua mão, fazendo parte de uma oligarquia.
- 1