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:: 11/ago/2025 . 23:50

“AS FEIRAS DE TRABALHADORES”

Ao lado dos feirantes comuns que levavam suas produções, como farinha, feijão, milho, carnes e verduras para comercializar, pouca gente tem conhecimento do que eram “as feiras de trabalhadores” no Nordeste que aconteceram até meados do século XX.

Essas feiras representavam a exploração deplorável da miséria nordestina pelos senhores de engenhos, coronéis fazendeiros e até poderosos políticos, tudo em regime de escravidão explícita, não daquela africana do tronco e da chibata que perdurou por mais de 300 anos no Brasil.

Sem trabalho para sustentar suas famílias, principalmente em épocas de seca, trabalhadores com suas enxadas, foices, machados e outras ferramentas se dirigiam aos povoados, vilarejos e cidades. Um amontoado de esfarrapados operários, com fome e sede, ficava exposto ao sol ardente como mercadorias à espera de que aparecesse um senhor engravatado para contratar seus serviços.

Essas feiras funcionavam como mercados de compra e venda de mão-de-obra barata, só que menos violenta do que nos tempos da escravidão, mas não deixavam de ser cruéis para aqueles famintos que se sujeitavam a oferta de qualquer preço porque não tinham outra saída diante de tanta oferta e pouca procura.

Como nos barracões de escravos, os donos de engenhos e os coronéis transitavam soberanos entre aqueles homens, inclusive crianças e jovens, e escolhiam os mais robustos e fortes que aguentavam pegar no pesado por cerca de doze horas de trabalho duro e forçado.

Os mais fracos e aqueles com idade entre os 40 ou 50 anos eram rejeitados por aqueles patrões que pagavam uma mixaria aos outros e mal davam um prato de comida, na maioria restos de carne, buchos ou até vísceras de animais. Essas pessoas dormiam em locais precários e sujos, sem nenhuma dignidade humana.

Sem serviço, muitos caiam no cangaço e se tornavam bandoleiros, isto é, partiam para a criminalidade, ou viravam retirantes em paus-de-arara para o sul do país, sobretudo São Paulo onde também eram submetidos à escravidão nas grandes capitais. De um modo geral, o nordestino pobre e miserável tinha uma vida curta em torno dos 50 anos.

Portanto, não era somente a seca que provocava a retirada dos nordestinos em busca de trabalho em outros estados. Quem tinha uma pequena propriedade se tornava vítima de grilagem dos senhores poderosos ou era obrigado a vender seu pedaço de terra para aumentar o latifúndio do “coronel” e do senhor de engenho da zona da mata.

Não como antes, de forma bastante institucionalizada pela pobreza extrema, essas “feiras de trabalhadores” deixaram seus resquícios. Quando ainda moleque na roça do meu pai, muita gente ia às feiras tão somente para procurar um trabalho, não mais com a enxada e uma foice na mão.

As coisas melhoraram bastante com relação àquela época, mas o nordestino catingueiro continua a sofrer e sendo explorado por esses rincões a fora, tanto é que ainda existe o trabalho análogo à escravidão em pleno século XXI.

“As feiras dos trabalhadores” estão hoje camufladas por contratantes de mão-de-obra para lavoras, carvoarias e outras atividades. Eles prometem bons salários e outros benefícios, só que a realidade é bem diferente.

 

 

 

 





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