:: 5/ago/2025 . 22:03
NUMA FEIRA LITERÁRIA
Tudo pode acontecer de inusitado numa feira literária, principalmente quando é realizada em cidades do interior. É só observar e escutar os detalhes. Uma coisa é certa, o escritor, escritora, poeta ou poetisa, gasta mais saliva para explicar detalhes sobre sua obra do que vende.
Tem uns que narram toda história do seu romance, conto, da sua prosa ou causo e até declama sua poesia. Cada um tem sua maneira de vender o seu “peixe”, ou sua obra depois de algum tempo queimando os neurônios. De artista o cara passa a ser vendedor de livros, só que da sua autoria.
– O senhor, ou senhora, fez tudo isso? Como é feito? E tem as curiosidades das crianças sobre sua vida e como é escrever e colocar tudo naquele papel. É muita conversa para pouca vendagem, mas uma feira dessa natureza não é somente isso. É também encontro, um instrumento de projeção do seu nome, troca de ideias, projetos e, sobretudo, conhecimento, saber e aprendizagem.
Existem aqueles que vão só visitar, passam, olham e vão embora. Nas cidades pequenas e médias, muitos aparecem das periferias e até das zonas rurais sem o mínimo conhecimento do que é uma feira literária. Ficam encantados quando vê tantos livros nas estantes e bancas. Tem aqueles que expõem seus trabalhos no chão, sentados num tamborete. É uma competição saudável.
Tem aquele personagem chato que não tem nada para fazer e fica em seu pé dando uma de sabichão intelectual, de sabe tudo, dizendo o que deve ou não ser feito, mesmo de forma desconexa. Por vezes surge um bêbado para abrir a boca e falar besteiras, de que tudo aquilo ali não vale de nada.
O destaque é a criançada que chega com aquela algazarra e deixa o expositor atordoado. Por falar em crianças, os livros mais vendidos são os infantis. Passou mais a onda dos gêneros de autoajudas. Tem escritor até pretendendo mudar de estilo para enveredar no infantil que é mais comercial.
Nesses tempos modernos da tecnologia do celular e da febre das redes socais, dos cursos técnicos para atender a demanda do mercado, fico aqui a imaginar se esse público vai dar continuidade à leitura mais tarde quando jovens e adultos. Tenho minhas dúvidas, mas se vingar um por cento de 100, a feira já alcançou seus objetivos e deixou sua mensagem marcada.
Numa feira literária aparece todo tipo de visitante, do intelectual, do leitor assíduo ao que nunca viu um livro. Tem aqueles que acham que é fácil escrever, juntar as palavras para que elas se encaixem certas e virem artes.
Tem o que compra a obra do autor somente por afinidade e amizade, para agradar. Esse tipo, com certeza, não lê o livro e termina jogando no lixo ou, no máximo, passa para alguém.
Na recente Feira de Itapetinga, a II FLITA, observei um fato inédito. Uma senhora comprou o livro de poesia do amigo conterrâneo, pagou e, simplesmente, não quis levar a obra, mesmo autografado.
Ele insistiu que levasse e ela dizia que vendesse para outro. A compra foi como um tipo de ajuda financeira. Foi tão hilário que o autor foi atrás dela até colocar o livro em sua mão.
Esse fato me fez lembrar de outro, ainda mais absurdo que ocorreu aqui em Vitória da Conquista. Um grande poeta conhecido lançou seu trabalho em sua empresa onde trabalhava.
No evento, apoiado pelos colegas, chegou um “amigo”, apertou sua mão, deu tapinhas nas costas e pediu que autografasse um exemplar. Tirou foto e saiu pelo corredor da firma. Na primeira lixeira que encontrou jogou o livro como se fosse qualquer resto de comida ou coisa imprestável.
No outro dia, passou o faxineiro fazendo a limpeza geral e, para sua surpresa, lá estava a obra que ele guardou com todo carinho para ler depois. A burrice do indivíduo foi tão grande que o falso e suposto “leitor” não se deu conta que o livro poderia ser encontrado na lixeira.
Pelo menos levasse para casa, deixasse lá, jogasse fora em outro lugar ou ofertasse para alguém com lucidez pela literatura. Claro que o autor, quando soube do menosprezo, se sentiu arrasado, humilhado, decepcionado e frustrado diante de tanta estupidez do indivíduo farsante.
Existe de tudo que você imaginar numa feira literária. Tem aquele que passa, faz várias perguntas, folheia e ler alguns trechos e se mostra aparentemente interessado.
O escritor fica animado com aquela boa expectativa e até pega na caneta para dar o autógrafo, mas ele lhe derruba quando diz que vai dar uma volta, passa depois ou no outro dia. Esquece que já era.
Tem gente que aparece com um quilo de alimento ou outro objeto para fazer o escambo. Ainda existe aquele que pergunta se é de graça, se é doação.
Difícil é pintar um ladrão de livro, como antigamente, quando se tinha o hábito constante da leitura. Esse personagem desapareceu há muito tempo do nosso cenário. É coisa das décadas de 50, 60 e início dos anos 70. Com a ditadura tudo mudou.
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