0 SISTEMA TECNOTÓXICO
Poema do jornalista Jeremias Macário
Neste mundo de tanta tecnologia
A sabedoria caiu no coito da orgia;
O homem ficou ainda mais idiota,
Que nem sabe mais abrir sua porta,
E como tropa segue cego sem rota.
Ainda jovem plantei árvore, livro e fiz filho,
E dai Raul, continuo um cara insatisfeito,
Um andarilho sem sentido e sem conceito,
Nesse sistema que nos empurra pro poço;
Sou como um cão faminto roendo um osso.
A máquina roubou o seu lugar;
Planta na terra mais agrotóxico;
Colhe veneno alimento de matar;
Tudo fresco e vistoso por fora,
Que se come até a casca na hora.
O homem corre dia e noite, noite e dia;
Respira no ar as partículas de dióxido,
E lá vai o elemento andante tecnotóxico
No sistema tóxico de tanto pó e negócio,
Que suga sua alma e cada gota de energia.
Sou um invento contente tecnotóxico;
O sistema que manda fazer isso e aquilo;
Beber ácido e comer a comida a quilo;
Ser um ativo neste mundo competitivo;
Fumar tóxico e engolir fumaça de monóxido.
Sou do sistema um átomo e fio de conectar;
Sempre carrego na cabeça a senha do celular;
Excremento que por ai vagueia sem um tema,
Pronto pra aprender o teorema do esquema,
E repetir na entrevista tudo que me perguntar.
Não tenho nome, sou número tecnotóxico,
Moço engravatado e um liso comportado,
Se quiser um emprego de gari ou deputado,
Sigo a linha padrão de um bom capitalista
E nada de artista, ativista ou comunista.
Minha artéria venenosa de competição
No sistema bruto sem caráter e sem lição,
Nem vejo miséria nesse mundo tecnológico;
Como na fila o hamburguer cheio de tóxico,
E nem quero saber dessa coisa de ser lógico.











