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:: 14/fev/2019 . 23:55

A CARRANCA E O TEMPO

Foto do jornalista Jeremias MacárioEm pleno agreste do sertão, Juazeiro nos recebe com esta arte secular da carranca, símbolo da terra dos vapores e barcos que sobem e descem o Velho Chico, transportando passageiros e mercadorias. O pássaro contempla a paisagem seca da caatinga que, com a água do rio e a mão do homem, produz frutas para o Brasil e o exterior. A seguidão é triste para o homem forte do sertão na luta pela sua sobrevivência, mas dá esperança quando cai a chuva e faz brotar o verde. O triste é também belo, como o mandacaru que resiste ao tempo das estiagens.

SERTÃONESTE

De autoria do jornalista Jeremias Macário

macariojeremias@yahoo.com.br

A corda está cara

Couro cru não tem mais

Então, vai mesmo de pano,

Este corpo veio que virou vara

No Nordeste bíblico desumano.

 

Sertãoneste carrasco de aço

Do rachado chão do agreste

Cordel viola e compasso

Que renasce como a Fênix

E valente ergue o Sudeste.

 

Sertãoneste do bravo Corisco

Todo riscado de espinho

Que das cinzas rompe o verde,

Da serra corre o São Francisco

Pra irrigar o fruto e o vinho.

DE BRUMADO PARA A DINAMARCA

Carlos González – jornalista

A exemplo de milhares de garotos de sua idade, José Francisco dos Santos Júnior sentiu muito cedo, com apenas 13 anos de idade, a necessidade de tomar um rumo em sua vida. Com as bênçãos dos pais, o abraço dos irmãos e dos companheiros de peladas, e um beijo da namorada, ele partiu em busca de uma oportunidade num dos grandes clubes do país.

Júnior embarcou em um ônibus na Rodoviária de Brumado, distante 135 kms. de Vitória da Conquista, com destino a Belo Horizonte. Na sua pequena bagagem levava o sonho de um dia vestir a mesma camisa azul celeste do Cruzeiro, que projetou Ronaldo Fenômeno para o futebol no mundo. Afinal, com mais de 1,80 m. de altura tinha o porte de um centroavante goleador.

Baiano ou Brumado, como era chamado pelos seus companheiros de alojamento na Toca da Raposa, passou dois anos (2013 a 2015) no chamado “come-e-dorme” do Cruzeiro. Dispensado, não desistiu da carreira de jogador de futebol. Procurou o Bahia, que lhe promoveu ao profissionalismo e abriu o caminho para a convocação à Seleção Brasileira Sub 20.

Das altas temperaturas do sertão baiano ao frio e dos dias sombrios da região nórdica da Europa. Esse vai ser o longo caminho a ser percorrido pelo jovem sertanejo baiano, hoje com 19 anos, “vendido” pela quantia de R$ 9,5 milhões – uma parte fica com o empresário – ao Midtjylland, atual campeão da Dinamarca, sediado na cidade de Herning. Caso o jogador seja transferido para outro clube, o Bahia terá direito a 12% do negócio. Como será sua adaptação num país cuja população é acusada de xenófoba? Só o futuro dirá.

Um comércio desumano

Os clubes brasileiros, principalmente aqueles que estão nas primeiras posições do ranking da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mantêm em áreas privativas, separados dos profissionais, crianças e adolescentes, oriundos de famílias pobres das mais distantes regiões do Brasil.

Como gado em regime de engorda, esses jovens sonhadores, com pouco tempo de frequência escolar, são acompanhados por treinadores, nutricionistas e médicos. Estão sendo lapidados para serem negociados, por milhões de dólares, com clubes da Europa, China, Japão e Oriente Médio.

Moram em alojamentos sem as mínimas condições de salubridade, com pouco espaço de locomoção e de fuga, dormindo em beliches. Essa conjunção de erros se adequam com os contâineres instalados pelo Flamengo, o clube de maior torcida do país, que, nos últimos dias, ocupou grandes espaços da mídia: o Brasil, cenário de tantas tragédias, chorou a morte, com requintes de homicídio culposo, de dez garotos, entre 13 e 17 anos.

Se a irresponsabilidade dos dirigentes mancha o pavilhão rubro-negro da querida agremiação brasileira, o leitor pode imaginar o que acontece nos clubes do Norte e Nordeste do país. Assistimos, no mês passado, à Copa São Paulo de Futebol Júnior, que reuniu atletas com menos de 20 anos de 128 equipes, representando todos os estados e o Distrito Federal.

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