AS BANCADAS E A FACA DE DOIS GUMES
Ao lhe perguntarem em que consistia a justiça, para um homem virtuoso, Tales de Mileto, que viveu na Grécia 600 anos antes de Cristo, respondeu que “em não fazer aos outros o que não queremos que nos seja feito”.
Antes de entrar nas questões abertas no título em referência do nosso comentário, dia desses veio-me à cabeça que a Polícia Federal, o Ministério Público e todo corpo judicial do país, diante de tantos desmentidos, deveriam ser criminalizados, virar réus e presos seus membros por levantarem falsas denúncias contra supostos corruptos que nunca existiram. É tudo fantasia!
É isso mesmo, todos se dizem inocentes, negam seus feitos, se colocam como vítimas perseguidas por forças ocultas das trevas e prometem provar que nada fizeram de mal, mesmo diante de provas de gravações de diálogos com seus comparsas e imagens de câmaras, caso de Gedel Vieira Lima, Aécio Neves e do cara que mandou por ovo no lugar de carne na merenda escolar roubada da boca das pobres crianças.
O problema, meus senhores, é que não se trata de desvio de conduta e da falta de caráter dessa gente sem remorsos e desprovida de qualquer dor de consciência, porque tudo está inserido no contexto de uma política rasa que foi montada para atuar dessa maneira, como se tudo fosse normal, ético e moral. Coisa de esquema natural que todos faziam e ainda fazem.
Não adianta eleições se o sistema arcaico continua o mesmo, como, por exemplo, a formação de bancadas para proteger e defender exclusivamente seus interesses. Agora mesmo estão fazendo de tudo para criar a Frente Parlamentar de Medicina que vai se somar às bancadas da bala, rural e a feroz evangélica, todas retrogradas e reacionárias que só levam o país ao retrocesso e ao roubo.
Temos de tudo no Congresso Nacional no que diz respeito ao corporativismo de cada categoria, menos uma bancada de defesa do povo. Só mesmo uma revolução popular, para sair uma verdadeira reforma do podre sistema eleitoral vigente. Engana quem acha que tem saída através do voto e no diálogo com eles. Democracia para essa gente é aproveitar as brechas.
O sistema político e judiciário está todo velho, troncho e carcomido, de maneira que não adiante ficar fazendo remendos aqui e acolá, como no caso mais recente do foro privilegiado restrito para deputados e senadores aprovado pelo Supremo Tribunal Federal.
Num país ainda provinciano com características coronelísticas onde existem e coexistem as relações viciadas de impunidade entre poderes e autoridades, com raras exceções, muitos estão festejando terem seus processos caídos para julgamento em primeira instância. Além da tão decantada morosidade da justiça, existem os conluios, amizades e até a mão forte da ameaça do chefe político e sua gente.
Como tantas outras emendas e tentativas de moralização, o tal foro privilegiado restrito, do jeito como está hoje posto o sistema político, virou uma faca de dois gumes para corruptos contumazes onde terminam se beneficiando, ao invés de puni-los. Não adianta remendar calça velha esfarrapada.











