O BRASIL É UM PAÍS SEM ALMA QUE A VENDEU AOS OUTROS

Por que as nossas crianças e até os adultos ficam fascinados com as estampas coloridas dos super-heróis norte-americanos nos cadernos escolares e não valorizam nossas personagens da cultura local? Por que preferem mais festejar o dia da bruxa nos Estados Unidos que o saci, a caipora, a lenda do boto, a mula sem cabeça ou o bumba-meu-boi? Por que de tantos nomes em inglês nas vitrines das lojas do que o uso de letreiros em nossa língua portuguesa? Nos eventos promocionais do comércio lojista, não temos uma data ou uma criação de festejo, exclusivamente nosso.

Antes era a França o nosso espelho da moda, da etiqueta, da gastronomia e das ideias revolucionárias, e o Brasil adorava e idolatrava tudo que vinha da terra de Victor Hugo, Voltaire, Lavoisier, Rousseau e outros tantos intelectuais, pensadores e filósofos. Da colônia ao império, os brasileiros imitavam tudo o que chegava de lá, até talheres, pratos e xícaras. Começamos a partir dai a vender nossa alma cultural e a negar nossa identidade.

Depois vieram os Estados Unidos para ditar a sua cultura e roubaram a nossa maneira de pensar e de viver. Até hoje ficamos deslumbrados com seu cinema, seus super-heróis enlatados, filmes de “arrasa quarteirão”, sua política capitalista neoliberal, suas escolas de pensamento egocêntrico e prepotente de donos do mundo e suas criações de endeusamento do consumismo como forma de incentivar as vendas e o poder de compra.

O consenso de Washington, da América dos norte-americanos, impregnou em nossas peles. Como subalternos e pobres coloniais sofrendo do complexo de inferioridade, esquecemo-nos da nossa cultura e ficamos sem alma. Deixamos que eles impusessem suas políticas, seus costumes e ficamos eufóricos em visitar seu país, mesmo sendo constrangidos e humilhados nos aeroportos como clandestinos. Perdemos a autoestima, e tudo que vem de lá é bom, é o melhor e deve ser imitado.

Continuamos pobres, inclusive de espírito, apesar de possuirmos um grande caldeirão cultural recheado de diversidades, com uma riqueza enorme em todo território. A mistura de povos entre índios, negros e brancos ibéricos expandiu o leque cultural multifacetado. Temos grandes músicos, artistas, escritores e matéria-prima suficiente para cultuarmos o que é nosso, mas destruímos como vândalos nosso patrimônio.

Com um sistema perverso que privilegia as elites burguesas, desde os tempos do coronelismo e dos senhores de engenhos, em detrimento das camadas desfavorecidas que foram ao longo dos últimos anos escravizadas na miséria, a nossa cultura foi se diluindo e perdendo sua real identidade. A própria oligarquia se rendeu ao produto de fora, e os governantes entreguistas incentivaram a criação externa.

Damos muito mais valor aos cadernos de Batman, do Homem Aranha, do Homem de Ferro, da Mulher Maravilha, do Huck e outros heróis estrangeiros do que os personagens do desenhista Maurício de Souza. Não cuidamos bem do que é nosso como o Bumba-Meu-Boi, o Maracatu, a Capoeira, o Reisado, o Samba, o Forró e outras expressões, como é o caso do Carnaval.

A festa momesca, por exemplo, foi infestada de batuques, rebolados e músicas de baixo nível. A estupidez das cantorias invadiu as ruas e aniquilou nossa cultura. Na Bahia, os banzêros, “os gigantes” as falsas rainhas e príncipes são os nossos “representantes culturais” nas vozes de trios e bandas do nível de “É o Tchan”. O mesmo vem acontecendo com o nosso Forró, cada vez mais descaracterizado e emporcalhado pelo estrangeirismo.

A mídia submissa e idiotizada abre largos espaços para estes artistas das letras sem sentido que nada dizem. Cada gesto e atitude de um deles são acompanhados como grandes acontecimentos e feitos. O nascimento de um filho ou filha torna-se um espetáculo e um show à parte, com manchetes de páginas e imagens de bajulações carregadas de elogios baratos.

Cada veículo quer sair na frente com mais sensacionalismo que puder, para angariar mais simpatia, audiência e adesão dos súditos do “tira os pés do chão”, ávidos por notícias de seus “ídolos e heróis”. Tudo isso é estampado numa sociedade de profundas desigualdades sociais de filhos abandonados, desnutridos e incultos onde muitos morrem nos corredores sujos dos hospitais.

 Bebemos, todos nós, desse caldo amargo de crise moral e ética, preparado pelos poderes legislativo, judiciário e executivo que empurraram nossa cultura para o fundo do poço. Agora mesmo, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou uma verba extra para o Congresso de R$888,7 milhões que serão usados para custeio dos 35 partidos políticos em atividade no país (mais 56 aguardam aprovação do TSE).

Esse valor a ser repassado é equivalente aos recursos da União previstos este ano para a pasta do Ministério da Cultura e representa mais uma fonte de despesas que poderia ser aplicada na educação, na saúde e na segurança. Sem o suporte da cultura, a alma do país, passa-se a incorporar e a se incarnar em tudo o que vem de fora como forma de se continuar vivo. Perde-se assim a autoestima e o orgulho pelo o que é nacional.

A alta grana aos partidos é mais um custo do governo federal (dinheiro nosso), responsável por manter a Câmara dos Deputados que consome R$5,9 bilhões em salários, benefícios e custeio por ano, além de R$4,2 bilhões para o Senado, R$11,4 bilhões para a Justiça Federal e mais R$2 bilhões para o Tribunal de Contas. O Brasil é um país sem alma cultural.