:: 16/fev/2018 . 23:45
INTERVENÇÃO CHEIRA COM DITADURA
Precisamos de uma reforma estrutural e competente no policiamento e não de estrategistas de guerra. Talvez tenha sido a voz mais sensata para retratar o caos a que se chegou a segurança no Rio de Janeiro, resultante dos desmandos, dos desvios de recursos públicos, das trapalhadas e da incompetência da turma que governou e mandou no estado nos últimos anos.
Bateram cabeça todo tempo, anunciaram planos de integração que não existiam e, por último, abandonaram literalmente a capital fluminense, tanto o governador corrupto como o prefeito pastor. Não foram capazes de controlar a situação de violência e, como ficaram desmoralizados, apelaram para o artigo 34 da Constituição que justifica intervenção das forças armadas por quebra de ordem, o que cheira a ditadura e quebra da lei.
Os verdadeiros culpados por todo este quadro de desordens, bandidagens e de quadrilhas organizadas sitiando ruas, praias, avenidas e bairros da cidade maravilhosa, que se tornou bárbara e feia por dentro, vão continuar impunes e donos dos seus “postos” como “salvadores da pátria”.
Começaram tontos com as GLOs (Garantias das Leis e da Ordem) que não solucionaram o problema, e agora o mordomo de Drácula e seu bando de vampiros recorrerm às tropas intervencionistas de guerra. O que deveria ter sido feito antes, não foi feito. No sufoco de morte, a maioria aplaude e poucos contestam.
Nesta hora de tormento e desespero, a sociedade apoia, tornando a intervenção numa medida consentida pela grande maioria civil, inclusive pela maior mídia do país que já foi baluarte e colaboradora da ditadura de 1964. Poucos sabem que o artigo da Constituição de 1988 que fala de possível intervenção militar foi posto lá na Carta por pressão dos generais linha dura da época.
Esta ordem através das forças que têm a função de combater inimigos externos pode gerar também quebra da lei, com arbitrariedades, opressão, prisões ilegais e até num regime de exceção. Alguém ai deve estar achando que é exagero demais da minha parte, mas a história do Brasil, por falta de conhecimento dela, costuma se repetir.
Por se tratar de imediatismo, a intervenção, no momento, pode conter a violência, mas não se acabar de vez, porque ela virou, há muito tempo, um monstro, criado pelos próprios governantes que se desviaram de suas missões de dar educação, saúde, habitação, saneamento, emprego e assistência social digna para a população.
Tudo isto ai que estamos presenciando é consequência da falta de políticas públicas e das injustiças sociais praticadas ao longo dos anos. No lugar disso só fizeram roubar, aprontar corrupções, desprezar e fazer pouco do clamor do povo. Preferiram se fartar em seus banquetes com guardanapos nas cabeças. Estes que faliram o estado e o país também fazem parte da bandidagem e da violência. São bandidos falantes de discursos mentirosos.
Não é agora com a força bruta, com tanques, fuzis, metralhadoras e estratégias de guerra que vão criar ordem e paz duradoura. Pode até conter e controlar a violência por uns tempos, mas sem a moralização da política, a presença do estado nas comunidades, justiça e igualdade social com distribuição de renda, ela voltará mais tarde com mais força e brutalidade.
PAÍS SEM CULTURA É PAÍS SEM ALMA
O BRASIL É UM PAÍS SEM ALMA QUE A VENDEU AOS OUTROS
Por que as nossas crianças e até os adultos ficam fascinados com as estampas coloridas dos super-heróis norte-americanos nos cadernos escolares e não valorizam nossas personagens da cultura local? Por que preferem mais festejar o dia da bruxa nos Estados Unidos que o saci, a caipora, a lenda do boto, a mula sem cabeça ou o bumba-meu-boi? Por que de tantos nomes em inglês nas vitrines das lojas do que o uso de letreiros em nossa língua portuguesa? Nos eventos promocionais do comércio lojista, não temos uma data ou uma criação de festejo, exclusivamente nosso.
Antes era a França o nosso espelho da moda, da etiqueta, da gastronomia e das ideias revolucionárias, e o Brasil adorava e idolatrava tudo que vinha da terra de Victor Hugo, Voltaire, Lavoisier, Rousseau e outros tantos intelectuais, pensadores e filósofos. Da colônia ao império, os brasileiros imitavam tudo o que chegava de lá, até talheres, pratos e xícaras. Começamos a partir dai a vender nossa alma cultural e a negar nossa identidade.
Depois vieram os Estados Unidos para ditar a sua cultura e roubaram a nossa maneira de pensar e de viver. Até hoje ficamos deslumbrados com seu cinema, seus super-heróis enlatados, filmes de “arrasa quarteirão”, sua política capitalista neoliberal, suas escolas de pensamento egocêntrico e prepotente de donos do mundo e suas criações de endeusamento do consumismo como forma de incentivar as vendas e o poder de compra.
O consenso de Washington, da América dos norte-americanos, impregnou em nossas peles. Como subalternos e pobres coloniais sofrendo do complexo de inferioridade, esquecemo-nos da nossa cultura e ficamos sem alma. Deixamos que eles impusessem suas políticas, seus costumes e ficamos eufóricos em visitar seu país, mesmo sendo constrangidos e humilhados nos aeroportos como clandestinos. Perdemos a autoestima, e tudo que vem de lá é bom, é o melhor e deve ser imitado.
Continuamos pobres, inclusive de espírito, apesar de possuirmos um grande caldeirão cultural recheado de diversidades, com uma riqueza enorme em todo território. A mistura de povos entre índios, negros e brancos ibéricos expandiu o leque cultural multifacetado. Temos grandes músicos, artistas, escritores e matéria-prima suficiente para cultuarmos o que é nosso, mas destruímos como vândalos nosso patrimônio.
Com um sistema perverso que privilegia as elites burguesas, desde os tempos do coronelismo e dos senhores de engenhos, em detrimento das camadas desfavorecidas que foram ao longo dos últimos anos escravizadas na miséria, a nossa cultura foi se diluindo e perdendo sua real identidade. A própria oligarquia se rendeu ao produto de fora, e os governantes entreguistas incentivaram a criação externa.
Damos muito mais valor aos cadernos de Batman, do Homem Aranha, do Homem de Ferro, da Mulher Maravilha, do Huck e outros heróis estrangeiros do que os personagens do desenhista Maurício de Souza. Não cuidamos bem do que é nosso como o Bumba-Meu-Boi, o Maracatu, a Capoeira, o Reisado, o Samba, o Forró e outras expressões, como é o caso do Carnaval.
A festa momesca, por exemplo, foi infestada de batuques, rebolados e músicas de baixo nível. A estupidez das cantorias invadiu as ruas e aniquilou nossa cultura. Na Bahia, os banzêros, “os gigantes” as falsas rainhas e príncipes são os nossos “representantes culturais” nas vozes de trios e bandas do nível de “É o Tchan”. O mesmo vem acontecendo com o nosso Forró, cada vez mais descaracterizado e emporcalhado pelo estrangeirismo.
A mídia submissa e idiotizada abre largos espaços para estes artistas das letras sem sentido que nada dizem. Cada gesto e atitude de um deles são acompanhados como grandes acontecimentos e feitos. O nascimento de um filho ou filha torna-se um espetáculo e um show à parte, com manchetes de páginas e imagens de bajulações carregadas de elogios baratos.
Cada veículo quer sair na frente com mais sensacionalismo que puder, para angariar mais simpatia, audiência e adesão dos súditos do “tira os pés do chão”, ávidos por notícias de seus “ídolos e heróis”. Tudo isso é estampado numa sociedade de profundas desigualdades sociais de filhos abandonados, desnutridos e incultos onde muitos morrem nos corredores sujos dos hospitais.
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