O LEGADO DOS JOGOS RIO 2016
Carlos González – jornalista
Os australianos foram os primeiros a denunciar as más condições de moradia temporária das instalações da Vila Olímpica, que vai receber cerca de 12.500 atletas de 206 países, participantes dos XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna, marcados para o período de 5 a 21 de agosto, no Rio de Janeiro.
A delegação do país da Oceania deixou nesse início de semana os apartamentos que lhe foram destinados, reclamando, com repercussão no exterior, de vazamentos nas paredes, fios descobertos, vasos sanitários quebrados. O brado de alerta de Kitty Chiller, chefe da comitiva, chegou aos ouvidos dos dirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI), que, imediatamente, passaram um “pito” nos organizadores do evento esportivo.
Os brasileiros estão passando por uma vergonha anunciada desde o dia 2 de agosto de 2009, quando, em Copenhague, na Dinamarca, 66 votos dados por um total de 98 delegados do COI, escolheram o Rio de Janeiro para sediar os Jogos de 2016. Os brasileiros presentes, entre eles, o presidente Lula, o ministro dos Esportes Orlando Silva, o governador fluminense Sérgio Cabral, o prefeito do Rio Eduardo Paes e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Arthur Nuzman, comemoram efusivamente a indicação.
A pergunta que se faz agora é a seguinte: será que as nossas autoridades governamentais e esportivas não sabiam do risco em que estavam colocando o país, e, principalmente, a cidade-sede dos Jogos, em termos econômicos, políticos e sociais? Será que não olharam para o passado e constataram que os países que receberam o maior evento esportivo do mundo pagaram com sacrifício de sua população os erros que cometeram?
A Grécia é um dos exemplos mais recentes. Palco da Olimpíada de 2004, o berço do movimento olímpico entrou numa grave crise econômica, provocando revoltas populares, amenizadas pelos seus parceiros da Comunidade Europeia, com vultosas remessas de euros. A partir daí, importantes cidades da Europa e América do Norte, como Oslo, Roma, Cracóvia, Estocolmo, Boston, Toronto e Hamburgo, desistiram de abrigar os Jogos, algumas delas atendendo aos apelos de seus moradores.
Barcelona, que sediou a Olimpíada em 1992, foi uma exceção. A Espanha estava procurando se recuperar das feridas provocadas nos mais de 40 anos de ditadura franquista. O catalão aproveitou a realização dos Jogos para mostrar ao restante do país ibérico a força de sua política separatista. O desenvolvimento de Barcelona é ressaltado por todos que a conhecem. Quinto destino turístico da Europa, a cidade catalã recebe em um mês mais visitantes do que todo o Brasil no mesmo período.
Estudos econômicos aprofundados publicados recentemente na imprensa norte-americana mostram que os Jogos deixam um maldito legado econômico, ao contrário das promessas feitas por seus organizadores. São orçamentos estourados, previsões de ganhos furadas, corrupção, obras superfaturadas.
No intervalo de dois anos nossos governantes imaginaram que poderiam promover duas das maiores competições esportivas mundiais, a Copa do Mundo de 2014 e os XXXI Jogos Olímpicos de 2016. O torneio de futebol deixou como legado, além dos 7 a 1 aplicados pela Alemanha, os “elefantes brancos” de Manaus, Natal, Recife, Brasília e Cuiabá.
Concluindo, gostaria de saber qual o destino que será dado, depois dos Jogos 2016, ao campo de golfe, construído por R$ 60 milhões, na Reserva de Marapendi, na Barra da Tijuca, com 970 mil metros quadrados. O esporte nobre volta ao calendário olímpico depois de 112 anos de ausência. É bem provável que o MST já esteja de olho na valiosa área.











