:: 28/maio/2016 . 0:39
“LÁGRIMAS AZUIS – MEMÓRIAS”
Em rodas de amigos, bate-papos, saraus e encontros diversos quando as pessoas me perguntam aonde nasci sempre respondo que em Mairi (antiga Monte Alegre) e em Piritiba, mas também em Amargosa, Salvador e Vitória da Conquista, na Bahia.
– Mas, como assim, cara?
Aí tento explicar que Mairi é a terra-mãe biológica onde uma parteira da roça me pegou numa fazendinha que nem sei mais seu nome. Foi o lugar onde a maior parte dos meus familiares e parentes, os Macários, os Almeidas e os Lisboas construíram e solidificaram suas bases.
Em Piritiba, que no final dos anos 40 e início dos 50 ainda pertencia ao município de Mundo Novo (olha a confusão!), foi aonde meus pais, vindos de mudança de Mairi, me registraram. Sempre lavradores, venderam uma terrinha para comprar outra. Piritiba, onde me criei e fiz o primário, me adotou como filho.
Amargosa, no Seminário Nossa Senhora do Bom Conselho, me deu a formação ginasial e parte do clássico durante seis anos, de 1962 a 1968. Em Salvador foram mais de 20 anos entre a universidade (Faculdade de Comunicação/Jornalismo) e a base profissional. Vitória da Conquista me deu o título de cidadão e mais raízes para o crescimento no jornalismo. Aqui tomei gosto e inventei seguir carreira solo de escritor.
Bem, confesso que nem eu mesmo entendi esse “nariz de cera” para falar da nova edição do livro “Lágrimas Azuis – Memórias”, da professora licenciada em Letras pela Uneb (Jacobina), Iraci Pacheco Pedreira. Acho que foi para também dizer do orgulho de ter nascido nesta terra de Mairi, embora, por circunstâncias familiares da época, ter partido ainda criança para outras plagas, sem levar no embornal seu valioso registro de nascimento. Tenho essa frustração.
Sem mais delongas, li a nova edição de “Lágrimas Azuis” e digo que a obra literária de Iraci Pacheco não se reporta apenas às memórias familiares, mas também é história de Mairi e região; é documentário; é autobiografia e reportagem sociológica quando fala da seca do sertão, dos hábitos, dos costumes e da cultura popular do interior.
Para confirmar e provar a minha análise sobre o trabalho de Iraci, destaco alguns trechos da carta do sr. Colbert Torres da Silva onde comenta que a autora fez bem narrar sobre as feiras semanais, que além de um mercado a céu aberto, elas eram também ponto de encontro de toda sociedade do município. Só retifico, sr. Colbert, que as feiras ainda são ponto de encontro, mesmo com a internet e as redes sociais.
Como disse Colbert, a escritora fala no seu livro sobre casamentos, tropeiros, ciganos e boiadeiros, “figuras que tiveram papel saliente em todo interior do Brasil e também aí em nossa Bahia”. A entrada de Lampião no município, em 1933, citada por Iraci, quando muita gente fugiu para o mato, também é história que ouvi dos meus pais e os mais antigos.
Versos e pensamentos de grandes escritores, poetas e compositores, como Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Patativa do Assaré, Dom e Ravel, Tim Maia, Alceu Valença, Zé Ramalho, Jorge Amado, Hélio Pólvora (jornalista e escritor), Renato Teixeira, Gilberto Gil e tantos outros são mencionados nos capítulos do seu livro, a exemplo de “Raízes” que fala das lembranças dos ancestrais, caso do seu bisavô Calixto Pereira Pacheco, homem rico e todo poderoso, dono do povoado de Várzea da Roça, que guardava dinheiro num saco, no forro do seu grande casarão.
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