GOROBA – histórias e causos
O livro “Goroba Contos”, do jornalista e escritor Carlos Navarro Filho me fez lembrar dos tempos de menino quando passei na roça trabalhando com meu pai em convívio com os sertanejos que, de forma simples e brejeira, têm seu linguajar peculiar, crenças e costumes próprios dos homens que lidam na terra.
É isso que Carlos Navarro, que lançou também sua obra aqui em Vitória da Conquista, retrata nos seus 18 contos que, numa linguagem simples e clara, própria do jornalismo, contam histórias e causos do interior e dos seus companheiros que se reuniam depois da labuta das redações de suas matérias jornalísticas para jogar conversa fora.
O prefaciador da obra, Délio Pinheiro, diz que as narrativas são recriações literárias de cenas singulares que o autor colheu na vida real. Digo mais ainda que são mistura gostosa de realidade com a ficção. É o real fantástico que sai dos espaços históricos de Salvador e de várias cidades do interior, especialmente de Alagoinhas onde Navarro viveu.
Da sua confraria de boêmios-jornalistas, como Jadson Oliveira, Pedro (Bó) Formigli, Jorge Ramos, Paolo Marconi, Escariz, Biaggio Talento, Selene Brasil, Adilson Ramos e Agliberto Lima, o escritor extraiu (deles) o sumo precioso para fazer sua literatura em tom de gozação e até mesmo melodramática.
Dos 18 contos destaco, entre outros, “Boquira e o Padre Muito Sabido”, cujo personagem Nazário engabelou, como fazem os políticos atuais, o povo simples da cidade para passar para seu nome uma terra (Morro do Pelado) rica de um mineral raro e depois vender para os gringos no exterior.
Nesse conto, Navarro descreve, com precisão, o caboclo do mato que anda de pracatas de verdureiro, três tiras de vaqueta e solas de pneu que expõem unhas retorcidas e pretas nos pés rachados. “Apaga a lamparina de óleo de mamona e recosta em dois travesseiros de pena de galinha”.
A narração diz tudo sobre objetos usados pelo homem do campo para sobreviver. Eu mesmo usei muita lamparina de mamona à noite, preparada pela minha saudosa mãe. No mesmo conto, o autor fala do caboclo Codó que, sem pressa, sai num jumento selado, um matolão com carne de veado moqueada, rapadura, farinha e pimenta, um embornal de milho para o animal.
No conto 13, Navarro descreve as peripécias e artes do seu irmão boêmio “Goroba”, um desprendido das coisas materiais que viveu e curtiu suas farras em Salvador e cidades do interior. A maior parte dos seus causos foi inspirada em personagens reais e folclóricas do interior. Delas, soube, como bom repórter, observar o cotidiano da vida, seus comportamentos e atitudes.
São contos prazerosos para se ler em qualquer lugar e ambiente, como Nambu e Zabelê, A Morte do Gato, Derrubando a Ditadura, Chico, o pensador do Porto do Moreira, Favila, o rei da Coreia, Brasilino, o revolucionário e Roído, os quais fazem você rir e pensar.