Engano do brasileiro que bate forte no peito e diz em alto e bom som que tem seus direitos. Neste país das imoralidades, o cidadão é sempre desrespeitado, ludibriado, humilhado e só tem deveres. O poder público que vende um serviço precioso e não entrega é o primeiro a dar o calote, e não adianta apelar para a Justiça. Na Bahia não seria diferente esta anomalia que se tornou comum entre os governantes.

Não oficialmente, mas de fato e na prática, estamos vivendo um novo racionamento de água em Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia, e tudo por falta de planejamento e cumprimento das promessas. Jacques Wagner passou oito anos no Governo do Estado assinando papéis e termos de compromissos para a construção de uma barragem que iria solucionar de uma vez a escassez de água.

Há três anos os moradores de Conquista foram severamente penalizados pelo racionamento de água. Em 2014, nas vésperas das eleições gerais, nos iludiram mais uma vez de que a obra, afinal, sairia do papel e em cinco anos teríamos em definitivo a Barragem do Catolé. Lá se foram dois anos e até agora nem edital de licitação, quanto mais recursos à vista! Queríamos saber: Cadê a barragem, governador?  Vamos ter que esperar por mais quanto tempo?

Já que não podemos confiar nos eleitos, nem na ação da sociedade dita “organizada” para cobrar, sem rodeios, o benefício a que temos direito, só resta aos desvalidos rezar para que São Pedro mande chuva para manter sempre cheias as barragens de Água Fria I e II que não têm mais capacidade para atender a crescente demanda da população. Como paliativo fizeram uma adutora.  O racionamento desta vez vai ser ainda pior porque chuva mesmo só a partir de outubro. Vem mais agonia da lata d´água na cabeça e muita sujeira nos lares.

Na semana passada, vários bairros da cidade, como Patagônia, Kadija,Campinhos, Morada dos Pássaros, Panorama, Filipinas, Jardim Guanabara e adjacências ficaram sem uma gota de água nas torneiras de suas casas, e isto por cinco dias consecutivos. No setor privado, quando uma empresa vende uma mercadoria para um cliente e não entrega, o nome que se dá a isso é crime de vigarice, e a Justiça atua com agilidade para ressarcir o consumidor.

No setor público e estatal, caso da Embasa, (a empresa do desabastecimento de água), protela-se, adia-se, corta-se a entrega com desculpas fajutas de danificação de equipamentos, vazamentos ou quebra de tubulação, e não adianta entrar com ações judiciais porque não dá em nada. Se a pessoa paga por uma coisa tem o direito sagrado de receber pelo que pagou, não importando se a empresa teve problemas no caminho. Cabe a ela investir pesado em manutenção para evitar problemas na oferta.

No que tange a água em Conquista temos ainda o agravante dos segmentos da sociedade que se acomodam e, por um motivo ou outro de não querer se indispor politicamente (situação do terminal de passageiros do novo aeroporto), não cobram com firmeza a realização das obras essenciais para a cidade. Os documentos “reivindicatórios” são mais diplomáticos, tipos blábláblá, que incisivos. No fim, nada se resolve. É como sessão especial da Câmara de Vereadores.

Aí, a população mais pobre, que é a mais afetada, fica desamparada a ver navios. Os possuídos de recursos (os ricos) se ajeitam com poços, caixas e tanques e nem estão ai para a crise da água. Só que por conta do individualismo, todos terminam pagando um alto preço pela queda nos investimentos no município. Em reunião entre eles, um fica com receio de tomar uma posição porque pode “ferir os brios” dos donos desta ou daquela entidade.

Quando falta água num bairro, a Embasa, simplesmente, solta uma nota e tudo fica no mesmo. Por ironia, no domingo passado (dia 1º de maio), quando vários bairros sofriam com o desabastecimento total, o jornal “A Tarde” publicou uma matéria onde dizia que, de acordo com o gerente regional da Empresa Baiana de Águas e Saneamento, em Vitória da Conquista, José Silveira, “com o crescimento populacional nos últimos anos, o índice atual de atendimento é de 99,8%”.

Isto só pode ser uma brincadeira ou mais uma propaganda enganosa. Redes de encanação e torneiras nas casas não significam que delas jorrem água, pois as queixas contra a Embasa por escassez do líquido e contas indevidas é cada vez mais crescente. Outra inverdade, conforme a reportagem, é que Conquista tinha em 2014 100% da população atendida com água tratada. Esse número não passa de deboche.

A matéria destaca Conquista em primeiro lugar na Bahia e região Nordeste no ranking do saneamento básico e segundo lugar em eficiência financeira entre as 100 maiores cidades do Brasil pesquisadas. No Brasil, não sou de confiar em dados estatísticos quando observo na prática a outra realidade, como é a situação particular de Conquista que há muitos anos sofre com o racionamento de água. Somos vítimas da promessa de uma barragem que virou miragem. Quem se atreve a investir numa cidade sem água?

Aliás, o nosso governador-prefeito está mais preocupado em ganhar as eleições municipais de Salvador onde constrói avenidas, vias expressas, passeios, viadutos e encostas. Com essa política, bom para os moradores da capital que têm dois prefeitos. Só para citar um exemplo, no interior, como ao redor da região sudoeste, as estradas estão intransitáveis. Cadê nossa barragem e o nosso aeroporto, governador Ruy Costa?