CARNAVAL CULTURAL DE CONQUISTA
Todos os anos neste período de carnaval, a cidade de Vitória da Conquista se transforma num feriadão com pouca gente nas ruas. Boa parte da população viaja para Ilhéus, Salvador e Rio de Contas na Chapada Diamantina. Para quem fica, a Prefeitura Municipal promove o carnaval cultural de três dias onde as famílias se divertem.
Neste ano, o evento foi realizado na praça conhecida como Pau da Bandeira no, centro da cidade, com a participação de cerca de duas a três mil pessoas por dia. A estrutura bem que atende a demanda, mas a folia começa sempre atrasada, por volta das 15 às 16 horas, deixando muita gente na espera da entrada das bandas.
Para quem tem condições de viajar e gosta de apreciar as batucadas do carnaval, a melhor pedida é Rio de Contas onde a festa é tradicional com desfile de mascarados e outras apresentações folclóricas da terra. De dia os visitantes vão às cachoeiras, rios e trilhas e, à noite, a curtição acontece na praça da antiga cadeia. É muito bom e tudo ocorre na maior tranquilidade.
Não se pode dizer o mesmo de Salvador, cujo o carnaval, agora de oito dias de disputa eleitoral entre ACM Neto e o governador Ruy Costa, foi descaracterizado pelo barulho ensurdecedor de trios elétricos com “música” de péssima qualidade. O que mais se destaca são as bundas das mulheres e os corpos sarados e marombados dos puxadores, com gritos e macaquices de “tira o pé do chão” e “sai do chão”.
Oh que saudades daqueles tempos quando, como repórter, cobria o carnaval nos anos 70 e 80 onde a participação era bem mais igualitária com músicas que tinham letras! Hoje existe a concorrência do pior, e a separação de classe entre o asfalto e os camarotes é bem mais visível.
Mesmo com crise e aperto fiscal, os governos municipal e estadual investiram quase 100 milhões de reais tirados dos cofres públicos para beneficiar uma minoria já enriquecida com a festa (cantores, donos de blocos e trios, camarotes, empresários da rede hoteleira e das agências de viagens). Os barraqueiros e ambulantes ficam com as migalhas.
O próprio Governo do Estado alardeia com orgulho que está investindo 69 milhões, enquanto afirma que não vai dar aumento para os servidores. O carnaval é o circo sem pão. Oh quanto paradoxo! Ao tentar imitar os ricos e os que têm maior poder aquisitivo, o pobre entra na gandaia e, ao término da festa, descobre que está mais pobre ainda. Vai de ônibus lotados e depois de um dia sofre para retornar para casa, com fome e sem dinheiro para pegar um taxi.
Os turistas de outros países acham que aqui é um paraíso de felicidade e não vê nenhuma crise econômica e política. Todos entram na farra e os governantes se esbaldam na disputa pelo voto. Quem faz mais festa leva a melhor.
Todos ficam contentes e realizados, porque, afinal de contas, todos merecem entrar na orgia insensata dos oito dias. O cantor Gilberto Gil pede um mês de carnaval e todos aplaudem. Enquanto isso, continuamos atolados na corrupção. Sem problemas!
Quem aponta as contradições e contrastes do nosso povo é visto como um fora do contexto que não sabe viver a vida como ela é. Pelo menos, com o circo superamos por oito dias nosso complexo de vira lata e somos o povo mais feliz do mundo. Somos a Roma antiga, só que lá era um império.