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:: 3/fev/2016 . 23:17

A INDÚSTRIA DO CARNAVAL

Albán González – jornalistaUma indústria bem administrada, alimentada por empresários, cervejarias, instituições financeiras, políticos, poder público, artistas, compositores e, naturalmente, carnavalescos, descobriu no começo dos anos 90, com a criação do circuito Dodô (Barra-Ondina), que poderia ganhar muito dinheiro com o que eles chamam de “maior festa do planeta”. E pensaram em oferecer, não somente no período dedicado a Momo, mas em todos os 365 dias do ano, um show mambembe, com música de péssima qualidade e apelativa, a uma minoria da população de Salvador e a grupos de turistas mochileiros.

Não há um só dia em Salvador, a cidade mais festeira do Brasil, que não haja uma apresentação de shows, que levam os mais variados nomes, como ensaios, saraus, bênçãos, bailes, marchas com Jesus e desfiles de segmentos da sociedade que se acham discriminados. Com exceção dos artistas que já estão na estrada há muito tempo, diariamente surge uma nova banda de axé, pagode, falso sertanejo ou funk, lançando no cenário musical dezenas de carreiristas. Alguns deles, envolvidos com drogas, têm sido impedidos pelos órgãos de fiscalização do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, de se apresentarem em festinhas infantis.

O que não falta é patrocínio para manter de pé a lona do “circo”. Se o apoio vem do campo empresarial, o cidadão que zela pela cultura desta terra só tem a lamentar. Mas, quando a ajuda vem de órgãos e empresas públicos, como estamos assistindo nos festejos momescos de um ano eleitoral, o sentimento é de revolta. Por que blocos, vocalistas, trios elétricos e camarotes têm que ser subvencionadas por instituições governamentais?

Há poucos dias, o médico Djalma Duarte divulgou nas redes sociais carta aberta ao governador baiano Ruy Costa, condenando o descaso com o Hospital Geral do Estado, onde há falta de profissionais e de equipamentos cirúrgicos, mostrando que os R$ 840 mil que serão pagos pelo governo aos cantores Bel Marques e Ivete Sangalo, nas apresentações para os foliões “pipocas”, dariam para contratar um plantonista por 20 anos. O dr. Costa desabafou depois de ter dado um plantão de 12 horas no HGE, ao lado de um colega e de seis enfermeiros, cuidando de dezenas de pacientes entre a vida e a morte, enquanto políticos em véspera de eleições e foliões desfilavam na Lavagem do Bonfim.

Esta semana os jornais noticiaram que a prefeitura de Salvador gastará R$ 15 milhões com o Carnaval, independente do patrocínio de uma cervejaria e de um banco; que a Caixa Econômica Federal distribuirá R$ 900 mil entre os blocos Ilê Aiyê, Filhos de Gandhi e Timbalada. No meu tempo de folião – não se trata de saudosismo – as entidades carnavalescas se mantinham com as mensalidades dos seus sócios – “Os Internacionais” chegou a ter uma sede própria na Mouraria, aberta durante todo o ano, – e disputava com “Os Corujas” uma espécie de Ba-VI no circuito Campo Grande – Praça da Sé.

Como escrevi acima, o surgimento dos negociantes de abadás e dos proprietários de camarotes , os autênticos foliões rasgaram suas fantasias. A propósito, por anda Rubens Carvalho, o Rubinho dos Carnavais, fundador, com outros jovens do bairro de Santo Antônio Além do Carmo, dos blocos “Fantasmas”, “Os Internacionais” e “Os Corujas”,pioneiros do verdadeiro carnaval de rua baiano.Estou tomando conhecimento da volta dos blocos de rua no Rio e São Paulo, sem cordas, sem violência nem vandalismo, onde se brinca “com dinheiro ou sem dinheiro”, entoando marchinhas do passado. Creio que é mais uma preocupação para os donos da festa baiana, que este ano lamentam a queda nas vendas de abadás e ingressos para os camarotes, dos aluguéis de apartamentos e das reservas em hotéis.

No mais, sugiro a quem vai ficar diante da televisão, assistir a passagem da Mangueira na Sapucaí, apresentando o tema “Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá”

 

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A ECLUSA QUE NÃO FUNCIONA

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Agora que o rio São Francisco está mais encorpado com as águas que caíram em janeiro em toda Bahia e Minas Gerais, é muito prazeroso fazer um tour de barco de Juazeiro até a Barragem do Sobradinho, curtindo as belas paisagens. Mas, o turista não sabe é da raiva que vai passar até alcançar o maior lago artificial da América Latina que com seca reduziu sua capacidade para menos de 10%, com vazão de 800 metros por segundo.

Ao passar na primeira eclusa que se fecha aos poucos enquanto a barragem solta água para que haja um nivelamento, o guia turístico anuncia com estardalhaço para que todos do barco fiquem atentos para o grande feito da engenharia quando em dez minutos se dará o processo de transporte de um lado para o outro.

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Acontece que a segunda eclusa, que deveria baixar para a passagem do barco, emperra e as pessoas ficam presas no vão por mais de uma hora (até quando deixei o local) na espera do prometido. Não suportei ver a agonia, no último domingo (dia 31/01), de um único funcionário da Chesf andando de um lado para o outro entre as máquinas, tentando baixar a eclusa.

O empregado, naquele calor do sertão, coçava a cabeça, colocava a mão para aparar o sol, e só dizia que “o negócio tava russo”. Acionava botão ali e acolá e nada funcionava. Alguns comentavam que se fosse na Rússia o problema já teria sido resolvido. De lá de cima da barragem só via o barco apertado no paredão de concreto. O que ainda acalmava os turistas ansiosos era o som do samba e do pagode. Imaginei minha irritação ali dentro, ou o caso de uma pessoa (criança ou idosa) passando mal sem poder ser socorrida.

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Também queria ver a eclusa baixar e os barcos (outro já estava preparado para descer o rio) se cruzarem para tirar uma bela foto. Do lado de cá não suportei a espera e segui minha viagem de passeio sem saber o resultado, pensando comigo: Isto é a cara do nosso belo Brasil.

Antes disso, porém, dei um dedo de prosa com seu Valdemar que vendia coco gelado do outro lado e tinha antes me orientado como me posicionar para tirar belas fotos. Ele começou a dizer que aquele problema era constante, quando um amigo lhe avisou que eu era jornalista e era bom não falar muito.

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Foi aí que ele abriu o verbo e contou que já havia trabalhado por 30 anos na Chesf, comparando aqueles tempos com os de hoje em decadência. Contou que no meado de janeiro a embaixadora da Venezuela ficou presa por horas no mesmo lugar na espera que a eclusa baixasse para que o barco avançasse lago adentro. Os representantes brasileiros devem ter pedido desculpas à embaixadora e dito que o problema aconteceu pela primeira vez, mas seu Valdemar confirmou que é sempre assim.

Outro fato que me chamou a atenção como visitante foi quando soube que por ali havia passado o engenheiro chefe do setor e foi embora para seu domingo de lazer, sem dar a mínima para a aflição do funcionário que continuava tentando baixar a eclusa, sem sucesso. Segundo seu Valdemar, ele apenas olhou, e referindo-se à Chesf disse: “Não é assim que eles querem”?

Ao embarcarem em Juazeiro para a viagem até a Barragem do Sobradinho, os turistas são comunicados do tempo de ida e volta, com previsão de retorno, mas não sabem que a eclusa sempre está com defeito. Simplesmente são iludidos com a propaganda enganosa. É por estas e outras que o turismo na Bahia só faz cair cada vez mais.

Entre uma conversa e outra, seu Valdemar, que todos os dias está ali vendendo seu coco e acompanha tudo de perto, adiantou ainda que, por questão de doença, o funcionário que estava tentando baixar a eclusa nem podia estar trabalhando naquela função. Nem ele entende o que está se passando com a Chesf.





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