“CABELO DE CHAPINHA”
Albán González – jornalista
“Cabelo de Chapinha” é o nome de uma “obra prima da cultura baiana”,
lançada há menos de um mês, com a finalidade de ser cantada somente no
período carnavalesco, e esquecida na Quarta-Feira de Cinzas, como
dezenas de outras músicas que surgem todos os anos. Três sujeitos
devem ter se reunido na mesa de um bar e, entre goles de cerveja,
compuseram os seguintes versos: “Minha nega vai no salão e faz aquele
corte que seu nego gosta de te ver…Ó mainha, mas eu só gosto do
cabelo de chapinha/Tá lindinho, ta lindinho”.
O samba, marcha, aché, ou seja lá que ritmo tenha, provocou uma onda
de protestos por parte das pessoas e entidades que defendem a mulher
afro descendente; que combatem o preconceito racial em todas as suas
formas, embora o compositor Luiz Caldas, um dos criadores das axé
music, continue mandando a nega da Baixa do Tubo passar batom na boca
e na bochecha.
Vale lembrar que dois expoentes da MPB, em todos os
tempos, Lamartine Babo e David Nasser, teriam que se submeter hoje ao
crivo da censura, sendo obrigados a alterar as bem colocadas letras de
“O teu cabelo não nega”, de 1929, e “Nega do cabelo duro”, de 1942.
As duas marchinhas estão entre as mais entoadas atualmente pelos
blocos de rua do Rio e São Paulo.
Bell Marques, intérprete de “Cabelo de Chapinha”, conseguiu, sem
gastar um centavo, a divulgação do seu novo sucesso musical. Como no
episódio da separação do casal Calypso (Chimbinha e Joelma), a
imprensa deu ao ex-Chiclete, nos últimos dias, quase o mesmo destaque
que está dando ao Eduardo “Catilínia” Cunha. Seus fãs já devem ter
gravado nos seus smarthphones e readphones as palavras musicadas do
amor de “painho” por sua “mainha”.
Aliás, amor e gentileza foram expressões usadas por Bell para defender
os três compositores, afirmando que cada um tem sua maneira de se
dirigir à sua amada. Revelou que a música já estava sendo cantada em
todo o Brasil. Vinte e quatro horas depois ele mudou de opinião,
assinando, no Ministério Público Estadual, um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC), na presença de dirigentes de instituições que trabalham
em favor dos direitos humanos e em defesa de uma política para as
mulheres, comprometendo-se – o que já foi feito – de substituir
algumas palavras, consideradas ofensivas, do “Cabelo de Chapinha”,
que, certamente, vai receber o Troféu Dodô e Osmar como a melhor
musica do Carnaval de 2016.
Em tempo: as mulheres que pretendem imitar o corte de cabelo de mainha
nesse Carnaval, a peça conhecida como chapinha pode ser obtida pela
internet ao preço de 50 a 60 reais.