:: 16/dez/2015 . 23:14
“CABELO DE CHAPINHA”
Albán González – jornalista
“Cabelo de Chapinha” é o nome de uma “obra prima da cultura baiana”,
lançada há menos de um mês, com a finalidade de ser cantada somente no
período carnavalesco, e esquecida na Quarta-Feira de Cinzas, como
dezenas de outras músicas que surgem todos os anos. Três sujeitos
devem ter se reunido na mesa de um bar e, entre goles de cerveja,
compuseram os seguintes versos: “Minha nega vai no salão e faz aquele
corte que seu nego gosta de te ver…Ó mainha, mas eu só gosto do
cabelo de chapinha/Tá lindinho, ta lindinho”.
O samba, marcha, aché, ou seja lá que ritmo tenha, provocou uma onda
de protestos por parte das pessoas e entidades que defendem a mulher
afro descendente; que combatem o preconceito racial em todas as suas
formas, embora o compositor Luiz Caldas, um dos criadores das axé
music, continue mandando a nega da Baixa do Tubo passar batom na boca
e na bochecha.
Vale lembrar que dois expoentes da MPB, em todos os
tempos, Lamartine Babo e David Nasser, teriam que se submeter hoje ao
crivo da censura, sendo obrigados a alterar as bem colocadas letras de
“O teu cabelo não nega”, de 1929, e “Nega do cabelo duro”, de 1942.
As duas marchinhas estão entre as mais entoadas atualmente pelos
blocos de rua do Rio e São Paulo.
Bell Marques, intérprete de “Cabelo de Chapinha”, conseguiu, sem
gastar um centavo, a divulgação do seu novo sucesso musical. Como no
episódio da separação do casal Calypso (Chimbinha e Joelma), a
imprensa deu ao ex-Chiclete, nos últimos dias, quase o mesmo destaque
que está dando ao Eduardo “Catilínia” Cunha. Seus fãs já devem ter
gravado nos seus smarthphones e readphones as palavras musicadas do
amor de “painho” por sua “mainha”.
Aliás, amor e gentileza foram expressões usadas por Bell para defender
os três compositores, afirmando que cada um tem sua maneira de se
dirigir à sua amada. Revelou que a música já estava sendo cantada em
todo o Brasil. Vinte e quatro horas depois ele mudou de opinião,
assinando, no Ministério Público Estadual, um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC), na presença de dirigentes de instituições que trabalham
em favor dos direitos humanos e em defesa de uma política para as
mulheres, comprometendo-se – o que já foi feito – de substituir
algumas palavras, consideradas ofensivas, do “Cabelo de Chapinha”,
que, certamente, vai receber o Troféu Dodô e Osmar como a melhor
musica do Carnaval de 2016.
Em tempo: as mulheres que pretendem imitar o corte de cabelo de mainha
nesse Carnaval, a peça conhecida como chapinha pode ser obtida pela
internet ao preço de 50 a 60 reais.
PONTO DE VISTA ” A ESTRADA”
AEROPORTO DO “RACHA”
A pista do novo aeroporto de Vitória da Conquista, sem o terminal de passageiros, já está abandonada e servindo para motoqueiros playboys fazerem “racha”. Logo vão voar os carros dos “filhos de papai” que nos finais de semana fazem zoeiras nos bares próximos à avenida Olívia Flores, no bairro Candeias. Também têm os urubus que já estão pousando suavemente na pista. O edital de licitação para o terminal era para ter saído em maio deste ano e agora ficou para 2016. Sobre a invasão dos motoqueiros, o Governo do Estado joga a responsabilidade para a empresa construtora, mas, se ela já terminou o serviço, não é mais dela.
ESTADO SEM MORAL
Um Estado que arrecada altos impostos dos cidadãos e faz o mínimo por eles, não tem nenhuma moral para pedir colaboração e nem culpar ninguém pelas mazelas. Veja o caso do mosquito aedes aegypti a que ponto chegou! Os governos (federal, estadual e municipal) pouco fizeram para combater o inseto que provoca dengue, chikungunha, zica vírus e a microcefalia. A saúde no país é um verdadeiro caos.
Que moral tem o governo de pedir racionamento de água e energia se não investe em infraestrutura nestes setores? Vitória da Conquista é um caso típico em relação à Embasa. Há anos esperamos por uma barragem. Na Chapada Diamantina o fogo destrói o Parque Nacional e as comunidades ficam a mercê dos brigadistas voluntários. Só agora, depois do desastre e sob pressão da Justiça Federal, é que o Governo do Estado decidiu entrar com equipamentos para controlar os incêndios.
Para minimizar o sofrimento dos moradores das margens do rio Doce que foi invadido pela lama da barragem de uma mineradora, os voluntários tiveram que entrar em ação com água e suprimentos. Existem milhares de casos assim. Não fosse a boa vontade dos brasileiros que são solidários nas catástrofes e tragédias, milhões já teriam morrido à mingua. Precisamos nos indignar e exigir que o Estado cumpra com seu dever.
NEGA POR DEUSA
Não vou aqui entrar no mérito do conteúdo das letras musicadas para o ritmo axé, mas é demais o cantor Bell Marques e seus compositores se submeterem a trocar versões da música “Cabelo de Chapinha” porque alguns idiotas acharam racismo e discriminação. Em vez de “minha nega, vai lá no salão, faz aquele corte que seu nego gosta de te ver”, a letra passa a ser “minha deusa, dia de salão, lindo é seu jeito, todo mundo gosta de te ver”. Sai “Ô, mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha, mainha. Ô tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho” e entra “Ô, mainha, eu também gosto do cabelo de chapinha, mainha, ô tá lindo, tá lindinho. Tá lindo, tá lindinho”. Nega é uma palavra carinhosa e não tem nada de racismo. De quem é o maior racismo? Falar a palavra negra agora é ofensa? O certo é deusa! Liso passa a ser lindo. É muita burrice, censura e patrulha. Cuidado no que escreve e diz! É recomendado ficar calado para não ser incriminado.
SIRI LANKA
Perdemos mais uma posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Siri Lanka, uma ilha de 21 milhões de habitantes ao sul da Índia. Dos 188 países, ficamos na 75ª posição abaixo de vários países da América do Sul, como Argentina, Chile, Uruguai e até da Venezuela. São estas e outras coisas que os movimentos sociais e em defesa das desigualdades sociais e econômicas deveriam estar preocupados.
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