GABRIEL JESUS, UMA ESPERANÇA!
Carlos González.
“Só Jesus salva!”, diriam os seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus, se destinassem algumas horas do seu dia para o lazer, acompanhando, por exemplo, o futebol, em vez de transferir suas economias para a manutenção da seita. Batizado e registrado em cartório com os nomes do anjo mensageiro das boas notícias, associado ao do Filho de Deus, Gabriel Jesus, paulista de 17 anos, atacante do Palmeiras, em 48 horas foi o escolhido pela imprensa esportiva para realizar o milagre que o torcedor espera de joelhos: salvar o futebol brasileiro, evitando um fracasso nas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.
O Arcanjo da Esperança, aquele que levou à Virgem Maria a notícia do nascimento de Jesus, precisará muito mais do poder da sua divindade para trazer de volta o espírito otimista do torcedor. Nos últimos anos o futebol nacional tem ocupado as páginas policiais dos jornais e da televisão, alvo de escândalos financeiros, dividindo o espaço com políticos, empresários, doleiros e delatores da operação Lava Jato.
João Havelange, Ricardo Teixeira, José Hawilla, José Maria Marin, preso na Suíça desde 27 de maio, e Marco Polo del Nero, além de presidentes de federações estaduais, são as principais figuras desse mar de lama, cujos reflexos são sentidos na má qualidade técnica dos clubes que estão participando dos campeonatos brasileiros, nas quatro séries, e na seleção, levando o público a se ausentar dos estádios, construídos e comprovadamente superfaturados, para a Copa do Mundo de 2014.
Por iniciativa do senador Romário de Souza Faria (PSB-RJ) uma CPI foi instalada no Senado com a finalidade de levar ao público a estrutura viciada do futebol brasileiro e não deixar impune os maus dirigentes que fizeram fortuna com o dinheiro do torcedor. Jornalistas sérios, sem vínculos com a CBF, como Juca Kfouri, da ESPN, e o britânico Andrew Jennings, autor de vários livros sobre a corrupção na FIFA e colaborador do FBI nas investigações que levaram à prisão de Marin e de outros seis dirigentes da entidade internacional.
Requerida a encaminhar à CPI os documentos relativos a patrocínios, publicidade, direitos de transmissão celebrados com a Rede Globo, viagens, hospedagem e gratificações pagas a presidentes de federações estaduais, a CBF recorreu ao Supremo. Mais uma vez o Judiciário foi de encontro aos interesses do país. Graças a uma liminar assinada pelo ministro Marco Aurélio Mello a entidade não vai abrir o baú da corrupção. O seu presidente, que desde a fuga da Suíça, no final de maio, nunca mais saiu do Brasil – deveria ter viajado para o Chile na Copa América e agora para os Estados Unidos onde a seleção fará dois amistosos – tem receio de trocar os passeios de iate pela Baía da Guanabara, em companhia de namoradas jovens, por uma cela numa prisão americana. Aqui ele continua gozando de total impunidade.
Voltando a comentar a prática do futebol nas arenas construídas com o dinheiro do BNDES, com uma longa experiência de jornalista esportivo, vou procurar analisar o que se passa nos gramados. A “gorduchinha”,como se referia o excelente narrador Osmar Santos, é duramente castigada, sendo lançada de um lado pra outro do campo, porque ninguém se arrisca a dar um passe na vertical em direção à área do adversário, preferindo atirar bolas altas, um verdadeiro tormento para os centroavantes fixos, como Fred e Luís Fabiano, que passam o jogo todo brigando com os zagueiros. Estes, por sua vez, querem“limpar a área”, mandando chutões pra frente. Pontas que atacam pela linha de fundo são raros. Os gols geralmente saem de bolas paradas porque não há jogadas trabalhadas.
O meu amigo e ex-colega de imprensa Jeremias Macário, responsável por este blog, tem reclamado bastante das últimas atuações do Fluminense, responsabilizando o técnico Enderson Moreira. Procuro mostrar a ele que o nosso Tricolor conta com um elenco tecnicamente sofrível, e que seus“craques”, Fred e Ronaldinho Gaúcho, vivem permanentemente entregues aos médicos e preparadores físicos. Recentemente, ambos arranjaram um jeito de não viajar até Belém onde o time carioca jogou contra o Paysandu pela Copa do Brasil.
Para consolo dos torcedores, o Fluminense acaba de conquistar o primeiro campeonato brasileiro sub 20 (dez vitórias e dois empates), derrotando o Vitória (sempre vice), por 3 a 0, no Barradão. Na recepção nas Laranjeiras aos garotos treinados por Luiz Felipe, o presidente do clube Peter Siemsen garantiu que eles serão aproveitados no time profissional. As reclamações contra as arbitragens no Brasileirão, em benefício do Corinthians, ficaram em segundo plano.
Os fãs do futebol torcem para que Marquinhos, Pedro, Daniel, Patrick e outros campeões brasileiros pelo Fluminense, e, sem dúvida, o palmeirense Gabriel Jesus, permaneçam por muito tempo no Brasil.