:: 20/jul/2015 . 22:39
RADICAIS DIGITAIS
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Itamar indica Orlando sena
Dois acontecimentos encadeados me levaram, esta semana, a rever a pintura exponencial de Rembrandt e um filme essencial de Joris Ivens. Ou seja, me levaram para a Holanda dos séculos XVII e XX. De Rembrandt, que muita gente boa considera o maior pintor de todos os tempos, fui buscar os autorretratos. Como se sabe, ele fez cerca de 40 retratos de si mesmo, da juventude à velhice, mostrando a mutação da vida, o vendaval do tempo no próprio corpo, principalmente no rosto. É uma autobiografia pictórica e, sendo Rembrandt, realizada com técnica extraordinária, nenhuma autopiedade e sinceridade absoluta.
Desde muito tempo pessoas juntam os autorretratos de Rembrandt, na ordem em que foram feitos, nesses caderninhos que criam a ilusão de movimento quando folheados em velocidade constante com a ponta do polegar, para ver cinematográficamente a ação do tempo sobre o rosto do pintor. Com o surgimento do próprio cinema essa ilusão foi aperfeiçoada, agora é fácil de fazer no computador: aquilo não é apenas a super detalhada superfície de um rosto em transformação, mais que isso é um espírito cruzando as alegrias e agruras da existência humana, uma alma em ebulição. Em outro dizer, imagens que mostram muito mais do que apenas o que você está vendo.
Do outro holandês, Joris Ivens, o documentarista transbordante que retratou, ou captou, o século XX em 35 filmes, revi Une Histoire de Vent (Uma História do Vento). É o último filme de Ivens, realizado quando tinha 90 anos de idade, em 1988, na China. Ele sempre quis filmar o vento, não apenas na sua materialidade (espalhando sementes e furacões, por exemplo) mas principalmente na sua relação poética com o tempo. Em 1965 ele havia filmado Pour le Mistral, sobre o vento seco e frio que sopra no Mediterrâneo durante o outono. Em 1988 ele escolheu os ventos, no plural, como tema de sua última obra e como impulso para contar sua própria história.
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