:: 13/jul/2015 . 22:45
POVO, PODER, POESIA
Blog Refletor TAL-Televisión América
Itamar Aguiar indica Orlando Senna
A liberdade é um dos fundamentos essenciais da convivência humana e, em consequência, da organização política dessa convivência, do modus operandi de uma civilização, de uma sociedade capaz de sobreviver à sua própria ação predatória. O filósofo suíço Rousseau, inspirador da Revolução Francesa, escreveu que o ser humano é bom por natureza mas sofre a influência corruptora da sociedade. Pois, o modus operandi de uma boa sociedade é a democracia, disseram os gregos: demos kratos, poder do povo, governo do povo. A ideia e as tentativas de implantá-la começaram aí, na Grécia, 500 anos antes de Cristo. Já lá se vão 26 séculos.
Conceito e prática de democracia estão, também em consequência, diretamente relacionados com a crise ética-política-econômica-ambiental que o mundo está vivendo. Por ironia dos deuses do Olímpio, neste momento a crise se exemplifica, se sintetiza, se metaforiza na Grécia. A propósito, Platão foi desdenhoso em A República: “a democracia se estabelece quando os pobres, tendo vencido seus inimigos, os massacram e banem e partilham igualmente com os restantes o governo”. Lincoln foi objetivo: “voto é mais forte que bala”. Churchill foi irônico: “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais formas que têm sido experimentadas”. E George Orwell, o inventor do verdadeiro Big Brother em 1948, deu o diagnóstico em Revolução dos Bichos: “todos somos iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.
Durante os dois milênios e meio em que está sendo pondo em prática, ou tentando ser posta, a democracia raramente se aproximou de suas matrizes de igualdade social e autossustentabilidade coletiva e muitas vezes desandou em todas as direções. Dizem os teóricos que as disfunções democráticas acontecem devido à opção pela democracia representativa, pela delegação que o povo concede aos políticos para representá-lo, ser a sua voz. E dá no que dá. O caminho de construção de um poder pleno do povo seria a democracia participativa, a democracia direta dos cidadãos decidindo nas praças o que e como deve ser feito. É claro que, na atualidade de superpopulação e redes sociais digitais, o conceito de democracia participativa tem de ser redesenhado mas, em sua forma original, é recorrente na filosofia política, inclusive no citado Rousseau, que a defendeu e atacou o liberalismo.
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