:: 7/maio/2015 . 22:21
“VAMOS RECICLAR O VELHO CHICO”
Semana passada fui visitar-te no leito de morte e não gostei nada de ver-te em estado de saúde terminal. Há mais de 500 anos quando aqui chegaram os primeiros navegadores eras um moço forte, corado, vigoroso e caudaloso para dar vida eterna a quem necessitasse de ti.
Agora, um velho ancião jogado numa dura cama que não consegue andar com tuas próprias pernas! Precisas que alguém de uma barragem solte um pouco do teu líquido que a ti pertences! Estás todo desmatado em tuas margens, assoreado, depredado e cheio de lixo! Tem uns caras que passam e sempre dizem que vão limpar o teu leito, mas o tempo vai e continuam a sugar o teu resto de sangue.
Dei uma volta de caiaque com meu filho Caio e em teu redor só vi estragos, molambos e farrapos, apesar de captar algumas mensagens solitárias de cidadãos que pedem o teu socorro e desabafam contra o que fizeram e ainda estão fazendo contra ti. As imagens, por si só, já dizem tudo.
Em torno da “Ilha do Fogo”, entre Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), numa prainha, muita gente ainda curte o lazer do que resta de ti, sem ao menos imaginar que haverá um dia que as futuras gerações só vão te conhecer através de fotografias.
Por falar em máquina fotográfica, numa dessas visitas minha lente registrou uma das ironias e deboches que sempre fazem contigo. Na parte de Pernambuco lá estava num tipo de cabana de ferro e plástico no formato de um barco os dizeres: “Ainda dá Tempo, Vamos Reciclar o Velho Chico”. Encrustada e abandonada num resto de árvores, nas margens da ilha, a velha cabana perfurada de balas nem balança mais por falta de correntezas.
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