Carlos González – jornalista

O jogo Bahia x Jacobina, pela segunda rodada do Campeonato Baiano, foi deslocado, no último dia 7, da Fonte Nova para Pituaçu, porque a administração da nova arena decidiu trocar o futebol pela formatura de um curso de Direito. Esse fato, somado a tantos outros ocorridos nos últimos anos, e que culminaram com os 7 a 1 aplicados pela Alemanha no Brasil, revela que o nosso principal esporte está afundando no fosso da desmoralização.

Para não ter que testemunhar a agonia daquele que já foi o seu entretenimento favorito o brasileiro está deixando de frequentar os estádios, alguns deles superfaturados, construídos com dinheiro público para a Copa do Mundo de 2014, hoje já tomando a forma de “elefantes brancos”. A segunda rodada dos campeonatos estaduais deste ano foi assistida, na média, por um público pagante de pouco mais de 5 mil pessoas.

Na Bahia, observados os 12 jogos disputados pelo campeonato estadual, somente dois deles – Vitória da Conquista x Bahia e Bahia x Jacobina – apresentaram uma receita maior do que a despesa. A presença do time da capital no “Lomantão”, no dia 1º passado, foi, inegavelmente, responsável pelos R$ 76 mil embolsados pelo clube conquistense. Os 5.726 torcedores – o público, na verdade, nas arquibancadas do estádio, era o dobro – proporcionaram uma renda de R$ 115.210,00. As despesas, incluindo os R$ 700 deduzidos para o lanche de mais de 200 policiais militares, dispararam em R$ 37.692,00.

No mesmo dia, o Vitória jogando em sua casa, onde o leque de descontos é menor, teve uma perda de R$ 21.898,00, ressaltando que os PMs que trabalharam no “Barradão” consumiram R$ 2.324,00 em sanduíches e refrigerantes. Uma semana depois, o “Lomantão” recebeu a visita do Vitória. Apenas 724 torcedores passaram pelas bilheterias do estádio, deixando uma arrecadação de R$ 10.735,00, e “herdando” ao nômade Serrano, que ainda não sabe onde mandará seus próximos jogos, um rombo de R$ 2.705,00 em suas finanças. No dia anterior, atuando em Pituaçu diante do Jacobina, o Bahia levou para os seus cofres R$ 53.551,00, quantia muita próxima do déficit de janeiro mostrado pela contabilidade do clube.

Os números apresentados nos borderôs emitidos pela FBF mostram que, na realidade, o amante do futebol na Bahia está preferindo ficar comodamente em casa, assistindo um espetáculo de excelente qualidade, como os jogos da Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra ou França. Quem pode refutar os números que apresento: em 1989, Bahia x Fluminense do Rio, pelo Campeonato Brasileiro, na Fonte Nova, sem as modernas e confortáveis instalações de hoje, recebeu um público pagante de 110 mil pessoas; no Ba-Vi, em 1994, no mesmo local, 97.240 tricolores e rubro-negros adquiriram ingressos.

Dirigentes da CBF e dos clubes, os técnicos dos principais clubes e setores da imprensa esportiva, continuam “pregando no deserto”, afirmando que o futebol brasileiro está no mesmo nível técnico e tático do europeu, mas não sabem explicar porque, recentemente, a seleção sub 20 perdeu para Colômbia, Argentina e Uruguai; porque os nossos representantes na última edição da Libertadores foram eliminados prematuramente; porque os clubes da Europa torcem o nariz para os treinadores daqui; e, finalmente, porque o Brasil sofreu dez gols nos dois últimos jogos do Mundial de 2014, marcando somente um.

Num recente programa de TV, Osvaldo Oliveira, técnico do Palmeiras, defendeu seus colegas de profissão e declarou que a má estrutura administrativa dos clubes é a culpada pelo declínio do futebol verde-amarelo, mas se colocou ao lado dos “cartolas” quando lembrou que os jogadores atualmente estão em mãos dos empresários, muitos deles inescrupulosos, que, visando lucros imediatos, mandam suas “mercadorias” para lugares mais distantes do planeta, onde jamais vão se adaptar com a língua, clima e cultura, retornando três ou quatro anos depois, a exemplo de Wagner Love, recebido como o salvador do Flamengo.

A ausência do torcedor nas arquibancadas das modernas e superfaturadas arenas não está restrita aos aumentos constantes nos preços dos ingressos; à falta de craques; ao futebol lento e caracterizado pelas faltas e passes laterais; pela permanência de gestores comprovadamente corruptos; à disparidade financeira entre os participantes de uma mesma competição (Jacuipense e Galícia têm uma folha salarial mensal de R$ 50 mil; Vitória da Conquista e Serrano, R$ 120 mil, que correspondem aos salários de dois estrangeiros, Maxi Biancucchi e Escudero, respectivamente de Bahia e Vitória, que, juntos, gastam R$ 4 milhões com seus profissionais.

Outro fator – e da maior importância – está impedindo que os autênticos desportistas levem suas esposas, filhos e namoradas aos estádios, e que merece, urgentemente, ações enérgicas do Ministério Público e das polícias, para que não se repita a tragédia que vitimou há poucos dias dezenas de pessoas no Egito. Os fora-da-lei que se abrigam nas torcidas organizadas têm que ser banidos das praças esportivas, como fez a Inglaterra com os violentos “hooligans”. Ainda está na nossa memória a morte de um garoto boliviano, assassinado por membros da “Gaviões da Fiel”, a de mais alta periculosidade do país, em Oruro, na Bolívia, durante o jogo Corinthians e San José, em fevereiro de 2013, pela Libertadores. Depois de algumas semanas presos na Bolívia, os homicidas, impunes, voltaram a praticar atos de covardia em São Paulo. O que contraria o bom senso é que alguns desses bandos recebem subsídios do seus clubes, em forma de ingressos. No Bahia, o ex-presidente Fernando Schmidt cortou esse benefício, levando a “Bamor” a protestar, colocando nos estádios as suas faixas de cabeça pra baixo.